O tema das praxes,
recorrente na nossa imprensa e sempre sem grandes consequências,
está de volta. Devo dizer antes de mais que acho a prática um
disparate sem grande interesse e discordo do choradinho que as
associações académicas fazem sempre que se ataca a sua tradição
sagrada e inviolável. Dizem estas que a praxe é importante para
integrar o aluno, para lhe interiorizar a hierarquia, que é feito em
todo o lado, entre outros disparates. Não me parece que naquelas
instituições onde não há praxe os alunos não estejam integrados,
que desrespeitem os professores ou sejam em geral inimigos da ordem
pública no campus. Falo por experiência própria de ter estado em
mais que uma universidade, tanto cá como no estrangeiro.
No que diz
respeito à hierarquia entre os alunos mais novos e mais velhos acho
um argumento bastante asqueroso, não devo aos outros alunos, com
mais ou menos matriculas um respeito especial que não tenha já pelo
comum ser humano no dia a dia em sociedade. Até porque no caso
português esses ditos “veteranos” são geralmente gente com mau
percurso académico que mais se dedica a estas actividades do que ao
estudo. Com a introdução de propinas esse fenómeno decresceu, mas como o grosso
dos custos do ensino superior ainda está disperso pelo contribuinte e não recai sobre o beneficiário
da educação superior, haverá sempre gente que se pode dar ao luxo
de ocupar lugares em instituições públicas durante largos anos.
Dito isto, também não me revejo na obsessão do bloco de esquerda
em proibir, que em verdade é uma obsessão nacional de proibir ou
regular toda a minúcia da vida humana. Tende-se a achar que é pela
criação de mais regras ou proibições que as coisas melhoram,
entretendo-se a ilusão que se pode obter controlo através de mais
detalhados regulamentos e restrições. Os apoiantes destas medidas
não parecem preocupados em explicar como se procederia à
fiscalização de tal proibição. O que é praxe? Quando os alunos
se reúnem aos berros com camisas a anunciar “praxe” não será
muito complicado mas o quão difícil é camuflar esta actividade?
Veremos a polícia a deter grupos de indivíduos barulhentos no
bairro alto por suspeita de actividades praxistas? Eliminar as
associações académicas provavelmente seria o suficiente para
eliminar, pelo menos de forma aberta, a actividade em questão mas da
última vez que verifiquei havia liberdade de associação em
Portugal. Imagino que possamos ver em breve mais uma hemorragia legislativa a
procurar apaziguar a opinião pública e gerar alguma propaganda
positiva para o governo com o único resultado que tudo ficará na
mesma. No fim,
teremos a lei menos geral e menos abstracta, menos transparente e
mais difícil de aplicar.
A única via que vejo necessária para atacar o problema é a via administrativa. Da minha parte acho inadmissível que
instituições do estado (nas privadas a questão é ligeiramente
diferente), financiadas em larga medida pelo erário público,
tolerem e pactuem com este tipo de actividades. Sim, as praxes são
simplesmente empurradas para fora do espaço físico da universidade
se as reitorias e os professores fizerem o seu trabalho mas parece-me
importante que a instituição dê o exemplo e se distancie não só
nas palavras mas pela acção.