domingo, 31 de julho de 2011

Tese


Vou andar a escrever (e terminar) a minha tese, pelo que a minha participação no blogue deverá diminuir no futuro próximo.

sábado, 30 de julho de 2011

Earth and the Economy: Compatibility Problems

Some things we can only ignore for so long. Sooner or later they will surface, and the problem of compatibility between our economy and our planet, Earth, have been gradually appearing for more than a few years now but the time has come to ask ourselves some searching questions. Questions such as, how much can we continue to pretend that our economy can grow and prosper by devouring more and more when we already know we are consuming more each year than the Earth is producing.

Think about that for a moment. We already use more resources each year than the Earth produces. Now consider that the vast majority of these resources are used to sustain the standards of living enjoyed in the developed world. If people in countries such as Zambia, Madagascar, India or Ecuador ever wish to attain the same quality of life, then we need to find them another Earth, or four. More than 80% of the world's population currently live in 'less developed' countries. Unless we address the problem of ecological sustainability, poverty and social injustice cannot be tackled.

It is time for an end to the linear model, and the rise to dominance of circular flow. Conventionally capitalism works under a linear model which begins with extracting or harnessing raw materials, processing them, distributing them, consuming them and then finally disposing of them. Like a giant conveyor belt, converting our priceless natural capital into waste and pollution. It is no wonder the countless ecological crises we face, such as the pollution and poisoning of our oceans, rivers, air and our land. We consume what we see and we mount up piles of waste without any concern as to what consequences it will have for us.

Now imagine if things flowed in circles, emulating nature itself, there will be no waste and our use of natural resources is efficient and well within the Earth's physical limits. Imagine an economy based on re-use and recycling, where our products are engineered for durability rather than disposability, and we see the emergence of a service economy where manufacturers and retailers take on stewardship of their end products, taking care of them after they've been used.

We must recognise that an economy built on free market entrepreneurialism and liberalism as presently constituted or envisaged is not truly free unless we realise that the problem of its compatibility with our natural environment is in fact a hindrance and a barrier to prosperity and freedom in the long term. What might in any other circumstances be viewed as 'intervention' in the free market, and here I refer specifically to the wide ranging application of 'eco-taxes' which seek to 'price-in' ecological externalities, should in fact be considered as the liberation of the market from the natural constraints of a finite world.

Therefore eco-taxes can and in fact should be used as an alternative to regulation and coercion in order to achieve an ecologically sustainable society and economy. In particular by levying an eco-tax as and instead of VAT, taxing the highest those products and services which are most destructive, wasteful, polluting, and otherwise environmentally damaging, and leaving those products and services which are environmentally benign free of tax.

An example of the former might be a kilo of potatoes produced in Scotland using conventional intensive farming methods, and transported by air and road to be sold in Madrid would be subject to a high rate of eco-tax; whilst another kilo of potatoes produced in southern Bavaria using organic farming methods and sold loose (without packaging) nearby in Salzburg would be sold with low or even zero eco-tax. It must be noted that eco-taxes would not be levied against the distances goods and services are transported but the method of transport and associated negative environmental impacts such as carbon emissions. Whilst the imposition of such a tax regime may at first seem like a labour intensive and bureaucratic process, in reality this could be countered by simplification of other areas of the tax system and by levying eco-taxes through self-assesment by businesses.

As eco-taxes are raised on negative environmental externalities they should be simultaneously and progressively lowered on personal incomes and business profits so as to ensure that the overall burden of tax remains the same. This is called a green tax-shift. The effect of this regime will be to steer patterns of consumption towards substantially reduced environmental impact and would serve as a crucial and fundamental plank of government policy to achieve a permanently sustainable society, a goal which must be considered an imperative as the sceptre of global warming bears down upon us and we seek the development of a peaceful and stable world where true equality of opportunity and social justice can be attained by people from New York to the Mogadishu because everybody has access to the natural resources needed to enjoy a decent quality of life.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Liberal Hungria


















A intervenção do FMI na Hungria foi ha cerca de 5 anos, na altura a economia Húngara padecia de uma situação financeira dificil. Entretanto ha sinais de melhorias evidentes.

Hoje, um estrangeiro que venha a Hungria não pode deixar de ficar admirado pelo verdadeiro boom de investimento estrangeiro neste pais, a britânica TESCO domina a distribuição através de grandes superfícies que estão presentes em todas as cidades e vilas deste pais, amiude com outras cadeias estrangeiras como a alemã LIDL – no entanto os super mercados estao cheios de produtos alimentares húngaros – desde as bolachas, as gasosas, passando pelas carnes e vegetais todos com a marca “orgulhosamente húngaros”, nas telecomunicacoes a situação repete-se – a incumbente estatal foi vendida a D-Telekom, e as outras duas empresas sao igualmente grandes empresas estatais, a britânica Vodafone e a norueguesa Telenor, o operador de cabo, e a holandesa UPC. Mesmo, o dito sector estrategico da energia, esta hoje nas maos da francesa EDF e da alema, E-On. Parece nao haver limites para a fúria liberalizante da economia. E em Budapeste, respira-se este espírito liberal, as lojas da americana Starbucks, da inglesa Costa, repetem-se em cada esquina – em justiça, juntamente com os seus múltiplos clones locais, como o relativamente original California Coffe House, o que revela o espírito empreendedor do povo magiar. E isto, para não falar do verdadeiro imobiliário que o pais atravessa, que permite a estrangeiros comprarem aqui as suas casas de ferias, a preços ainda muito acessíveis para os padrões da Europa Ocidental (e ate Portugueses em alguns casos).

No fundo, a receita liberal parece estar a funcionar na Hungria, que durante os tempos soviéticos era importante centro industrial e de desenvolvimento (sabem quantos prémios Nobel são húngaros?) - hoje, passados cerca de 20 anos sobre a restauração da democracia como esses anos são hoje uma memoria distante sobretudo para as geracoes mais novas que parecem encarar com optimismo o futuro, que na Europa central se adivinha promissor. Oxalá para Portugal os tempos também sejam de mudanca... para melhor.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

12 mil milhões de euros

12 mil milhões de euros.

É este o valor do célebre fundo previsto no Memorando da Troika para recapitalização dos bancos.

Estes 12 mil milhões de euros servem de último recurso, caso os bancos não consigam encontrar capital nos mercados privados para aumentar os seus rácios de capital para os níveis também previstos no Memorando.

A sua utilização significaria, essencialmente, uma nacionalização parcial desses bancos, que viria acoplada a uma panóplia de restrições à gestão desses bancos (apesar dessa gestão se manter privada).

Significaria ainda que o banco, enquanto instituição, não teria credibilidade suficiente junto dos mercados de capitais para conseguir capital privado para atingir aquele rácio de capital.

Para os accionistas do banco, por sua vez, significaria uma diluição do valor das suas acções.

Não é por acaso que os bancos querem evitar a todo o custo a utilização deste fundo. (E não é por acaso que Fernando Ulrich defendeu o que defendeu, ou que Ricardo Salgado disse o que disse.) É que, contrariamente ao que por aí se ouve, estes 12 mil milhões de euros não são uma prenda. São, quase, uma «punição».

P.S. António José Seguro já se pronunciou sobre este fundo. As suas declarações, em campanha, dão a ideia de que Seguro não percebe qual o objectivo do fundo - e, levadas à letra, qual o modelo de negócios dos bancos.

Mas o que me parece que Seguro quer dizer é que um banco que receba uma injecção de capital público para aumentar o seu rácio de capital deve, ao mesmo tempo, comprometer-se a fazer mais, ou a facilitar, os empréstimos às empresas. O que, tendo em conta que o objectivo do fundo é precisamente servir de último recurso numa tentativa de diminuir o nível de alavancagem dos bancos, é bem elucidativo de que António Seguro não parece perceber aquilo de que está a falar.

P.P.S. Ainda sobre o novo Secretário-Geral do PS, vale a pena ler este comentário às suas declarações sobre a reforma da regulação do mercado laboral. Também essas declarações mostram aquele que eu considero o problema fundamental de António José Seguro: no que toca à substância, tem queda para o vazio.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Tratamento de Informação na Comunicação Social

A comunicação social tem um papel determinante na disseminação de informação pela comunidade. As opiniões de milhões de pessoas sobre os vários eventos são moldadas pela forma como esses eventos são apresentados em jornais, na televisão, na rádio e noutros «media». Assim, o rigor e a forma como a informação é apresentada tornam-se particularmente relevantes, dado que a percepção de uma fatia importante da população vai ser afectada pela forma como o tema é tratado.

Claro que é impossível captar a realidade como tal numa notícia. Será possível transmitir, através dessa notícia, uma percepção dessa mesma realidade. Essa percepção traduz-se na selecção dos elementos apreendidos que se vai procurar transmitir através da notícia. Dada a relevância deste processo, há regras deontológicas sobre o mesmo. Aliás, essas regras deontológicas incidem também sobre, por exemplo, o tratamento das fontes de informação, sobre a presunção de inocência, e sobre outros aspectos relativos ao tratamento da informação.

A percepção da realidade é, por inerência, subjectiva, condicionada pelo funcionamento orgânico do nosso cérebro e dos nossos sentidos, e pela informação de que previamente dispomos para a tratar aquilo que percepcionamos. A deontologia jornalística serve, então, para procurar conferir alguma objectividade ao tratamento da informação, e para servir de guia na resolução dos vários problemas éticos que se colocam a um jornalista ou a um editor. O respeito pelas regras deontológicas é uma forma de resolver, na medida do possível, os problemas que encontramos na comunicação social em Portugal (e, verdadeiramente, no resto do Mundo).

O efeito da falta de rigor no tratamento da informação, e do sensacionalismo, pode ser explicado através de um simples exemplo, com base no vídeo abaixo.



Imagine que o incidente do vídeo era reportado pela comunicação social. Imagine que este título surgia no jornal mais lido pela população:

«Homem assassina gato para devorar em jantar romântico»

E com este sub-título:

«Namorada assustada conta tudo a este jornal.»

O corpo do artigo incluía uma descrição de como o homem em questão tinha sido encontrado pela namorada com o gato numa mão, a faca na outra, e uma substância vermelha parecida com sangue no chão. Incluiria uma entrevista com a namorada, que reportaria o que viu, e uma referência a que o indivíduo em questão nega a acusação, mas se recusou a comentar mais.

O título tenderá a fazer a pessoa ler o artigo com uma concepção «a priori» do que aconteceu. Neste caso, essa concepção será a de que o gato foi efectivamente morto pelo indivíduo em causa, e que este tinha o propósito de o comer durante um jantar romântico.

O testemunho da namorada é tratado como facto quase incontroverso, e a sua versão da história é, essencialmente, o corpo da notícia. A versão do namorado, que nega que tenha feito aquilo de que é acusado, é pouco enfatizada, e o próprio facto de se negar a falar pode facilmente ser entendido como uma admissão de culpa, como se ele tivesse algo a esconder.

Ora, nós, tendo o contexto, sabemos que o homem estava a tentar, de facto, preparar um jantar romântico, mas que o gato entornou um molho no chão (que parece ser de tomate), e que nada parece apontar para que o gato estivesse a ser considerado como hipótese para prato principal. Mas este contexto falta na notícia, sendo que o resultado é uma condenação à partida do homem por pretender comer um gato, algo de socialmente mal visto no nosso contexto social (no qual o gato tende a ser visto como um companheiro, como um animal de estimação).

Um exemplo recente da forma como a falta de rigor é um problema é o tratamento jornalístico dado aos atentados na Noruega imediatamente após a sua ocorrência. Rapidamente se disseminaram notícias de que tinha sido um atentado islamista. Não parece ter havido grande preocupação com verificação daquilo que era apresentado ao público, havendo, sim, grande preocupação em apresentar a informação o mais depressa possível. (Gostei de ver o Nuno Rogeiro, na SIC, a falar desta questão, no seu comentário aos atentados.)

Outro exemplo problemático de falha de rigor é a forma como frases são compactadas ou adulteradas, mas são apresentadas entre aspas, indicando que são citações. Por muito que haja regras sobre este tema, este tipo de prática redunda muitas vezes na perda de palavras importantes, o que tem implicações importantes no seu significado, ou em retirar frases do seu contexto, o que lhes pode conferir significados não pretendidos.

Para quem apenas leia a «citação», o efeito problemático é evidente. Mesmo que a pessoa leia o artigo ou a entrevista, a «citação» do título vai toldar-lhe a leitura. E a questão é que a forma como as citações são alteradas vai, mesmo inconscientemente, mostrar alguns dos preconceitos (termo aqui usado de forma neutral, sem sentido pejorativo) de quem a truncou. Vai moldar a citação a uma certa interpretação que dela se fez. E essa interpretação vai passar para o grande público, não necessariamente a citação não adulterada.

Finalmente, a escolha de palavras num determinado artigo ou no título é também relevante no que toca ao tratamento rigoroso da informação. Um jornalista que se refira, enquanto apresenta as notícias num jornal televisivo, às avaliações da Moody's como uma «guerra contra Portugal», por exemplo, está a fazer um juízo de valor claro sobre a actuação da Moody's, e a passá-lo como se de informação objectiva se tratasse. Falar de «guerra contra Portugal» é bem diferente de falar de «avaliação negativa da dívida portuguesa», por exemplo.

A falta de rigor no tratamento da informação ajuda a que a comunicação social se transforme num eco de conhecimento convencional. E esse rigor é importante para que esta cumpra a sua função, numa sociedade livre e democrática, de espaço de debate público e de reporte de informação.

A consciência liberal do extremismo.

Há uma hipocrisia subjacente aos governos no Ocidente e na comunicação social em torno dos extremismos.
(e tenho estado maravilhado com os cartoonistas do the Guardian)

Denunciar um extremismo sem cair numa caricatura de um grupo específico pareceu até a pouco tempo politicamente incorrecto, após a extrema direita europeia ter inventado e feito cair um falso tabu sobre o islão. Um terrorista para ser terrorista tinha de ser muçulmano. (Aliás a política do medo necessita geralmente de um inimigo suficientemente vago e pouco conhecido da generalidade da população a assustar para que se torne quase mítico) A comunicação social adaptou-se a isso, e a direita generalista acabou por aceitar esses talking points absurdos chamados de "defesa dos ideais europeus" quando na sua essência colocam eles mesmos em causa: não presumindo a inocência, falsamente generalizando, isolando ainda mais as minorias, fazendo políticas erradas de integração baseadas em nos mesmos estereótipos, rotulando comunidades... Tanto erro numa política de procura desse nicho de votos (e de mercado) que graças a esta situação tem proliferado pela Europa a tal ponto que se sente com impunidade para fazer o que aconteceu na Noruega.

E por isso começou tudo por culpar o suspeito do costume...

O extremismo é hoje um problema mais complexo do que o simples associar um grupo a um comportamento. Parte desse problema deve-se exactamente a essa abordagem. E não é só terrorismo, ou violência, ou seja o que for. Polarização política para nichos de votos de gente mal informada e claramente não-democrática prejudica todo o funcionamento das instituições e da sociedade em geral. Nos EUA o problema cada vez foge mais ao controlo.

Perdemos a razão quando achamos que os inimigos das sociedades livres são só aqueles que se opõem fundamentalmente à liberdade em si, e esquecemos que as sociedades livres dão-lhes o direito de se opor. Isto resulta num paradoxo, cuja ausência de resolução permite o proliferar mais extremismos. (see no extremism, hear no extremism, speak no extremism) Que pode uma democracia fazer com os seus membros anti-democratas?

Mas não sejamos naíves, a democracia não subsistirá sem democratas. Mais, sem uma educação para a democracia continuaremos a ter um tecido social politicamente inconsciente, culturalmente inepto, e produtor de extremismos e ignorantes, nas minorias e nas minorias. Sem uma educação para a democracia não conseguiremos integrar as minorias, principalmente as de origem muçulmana, e promover os tais valores europeus. Não é a pura existência de liberdade de expressão e opinião, de voto e associação que se justificará por si mesma, sem que saibamos usar estes mecanismos para se justificarem. Mais, estes mecanismos, sem a bagagem ética necessária, operarão contra si mesmos.

E há muito mais, uma verdadeira integração passa pela promoção das minorias, pela reforma do sistema de justiça e principalmente o prisional, pela própria liberdade económica, entre outros. Mas essencialmente é a educação, que tanto às minorias como às maiorias ensina e transmite o património comum dos valores, e a memória colectiva do ocidente. Educação para a produtividade económica, para a competitividade, para a ciência é óptimo. Mas isso também a China e o Irão o podem fazer. O que destingiria o Ocidente dos outros é a educação para a democracia, a educação para a res publica. O que distinguiria o Ocidente dos outros é que no Ocidente não haveriam outros, mas sempre um "nós" colectivo e político, igual nas oportunidades e perante a lei.

E quanto aos liberais: saibam destingir o trigo do joio. Liberalismo não é nem Geert Wilders nem Tea Party. É a impunidade com que estes grupos se movem que permite acontecer o que aconteceu. A consciência do liberal espera-se desperta para estar do lado certo da História.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Argumentar contra Ideias Feitas

Argumentar contra ideias feitas não é fácil. Não porque este seja mais ou menos difícil de desmontar, mas porque o interlocutor terá menos predisposição a aceitar argumentação contrária à ideia feita que pretende defender. A argumentação em sentido contrário será interpretada sistematicamente tendo por base a ideia feita que pretende rebater, embatendo numa muralha de preconceitos difícil de deitar abaixo.

Primeiro, discute-se a ideia feita com base na argumentação que a sustentaria. Esta argumentação poderá cair pela base, ou poderá não ter em conta uma série de factores relevantes. Mas apontar essas falhas não será suficiente. No momento em que se encontre uma contradição, ou se esgote, de alguma forma, a linha argumentativa em prol da ideia feita, entram em cena novas tácticas.

Uma táctica conhecida é o apelo à autoridade. O apelo à autoridade não é um argumento válido, mas o culto da autoridade leva a que seja usado como tal. Este apelo pode ser usado para pura e simplesmente legitimar a ideia ("O Prof. X defende isto, pelo que isto está certo!"), ou então para dizer que uma qualquer falha apontada à ideia não é relevante ("O Prof. X defende isto, sabe disto, e já deve ter tido essa questão em conta!").

Aparecer na comunicação social como "perito" é quase suficiente para se ser uma autoridade. Aliás, aparecer na comunicação social por si só começa a ser o suficiente para se ser uma autoridade. E mais: ser célebre é suficiente para se ser chamado a falar de todos os temas e mais alguns, independentemente do nível de estudo e de conhecimento específico sobre os mesmos. Basta pensar na recente entrevista de José Mourinho.

Outra táctica utilizada quando se esgotam os argumentos é o ataque pessoal, que vai do puro insulto ao ataque às motivações da pessoa que argumenta contra a ideia feita. Essas motivações serão sempre sinistras e egoístas. Ou então, a pessoa é burra, idiota e imbecil porque a ideia feita é de "senso comum". E como é de "senso comum", basta. Toda e qualquer falha apontada é uma tentativa de "impor" a opinião contrária à da ideia feita. E a pessoa que aponta a falha é "arrogante".

Finalmente, outra forma da lidar com falhas na argumentação que sustenta a ideia feita é mudar de assunto. Não necessariamente de propósito. Sendo confrontado com uma falha, a pessoa poderá falar de um tema conexo que também a preocupa, sem no entanto responder à argumentação contrária. Isto tende mais a mostrar a desestruturação do pensamento da pessoa que muda de assunto do que legitimar a ideia feita que se pretende defender.

Argumentar contra ideias feitas é difícil. E ter opiniões diferentes da norma e defendê-las não é bem aceite numa sociedade em que a individualidade é mal vista. "Chico-esperto" que tem "a mania", "arrogante" que "acha que sabe tudo" e "acha que é mais que os outros", entre outros epítetos, é o que espera quem o tente fazer. Mas todas as ideias devem ser examinadas e todas as ideias devem ser debatidas numa sociedade livre, e é esse debate que leva a que, de vez em quando, consigamos mesmo melhorar.

Argumentar contra ideias feitas pode ser difícil. Mas é necessário. E, felizmente, há gente que o faz.

The bigger picture


The news coverage of the Norway mass-killings was fact-free conjecture



"Some remained scarily defiant in the face of the new unfolding reality. On Saturday morning I saw a Fox News anchor tell former US diplomat John Bolton that Norwegian police were saying this appeared to be an Oklahoma-style attack, then ask him how that squared with his earlier assessment that al-Qaida were involved. He was sceptical. It was still too early to leap to conclusions, he said. We should wait for all the facts before rushing to judgment. In other words: assume it's the Muslims until it starts to look like it isn't – at which point, continue to assume it's them anyway"


nem mais
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/jul/24/charlie-brooker-norway-mass-killings
(A imagem é do artigo do the guardian)

Universidade Francisco Marroquín

Este é o filme de apresentação da Universidade Francisco Marroquín, um polo de liberalismo e mudança na América Latina, especialmente na guatemala; sonho termos a nossa. Para que a liberdade seja uma opção e os nossos "liberais" deixem de ser estatistas.

sábado, 23 de julho de 2011

Em honra dos mortos na Noruega


Senseless violence may have taken you away
but your lives mattered
and your lives matter still


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Place Branding

Tive o primeiro contacto com o conceito de place branding quando visitei, já há algum tempo, a Feira Internacional de Turismo, na FIL. Contudo, só agora me debrucei mais sobre o tema e o tentei relacionar com a realidade portuguesa.

Num mundo cada vez mais globalizado como o de hoje, em que a concorrência entre regiões é cada vez mais forte, tanto na comercialização de bens e serviços, como na atracção de turistas e investidores, o sucesso destas passa, muitas vezes, pela percepção que o resto do mundo tem sobre elas. É por isso que, muitas vezes, antes de quaisquer campanhas publicitárias isoladas a produtos e serviços específicos, seja mais importante um esforço conjunto de promoção de toda uma região, seja ela um país ou até mesmo uma cidade. É neste processo de criação de uma «identidade regional», que garanta a qualidade dos bens que a região em causa tem para oferecer, que se baseia o place branding.

«O conceito de Place Branding representa a conjugação das mais diversas disciplinas como o marketing, os negócios, a gestão, a política, a cultura, a sociologia, a antropologia, as tecnologias de comunicação, e as questões sociais e ambientais, na tentativa de criar uma marca local forte e reconhecida por todos. Marca essa que deve ser entendida no seu sentido lato, representando a imagem que as pessoas atribuem a um dado local, decorrente tanto de acções deliberadas, desenvolvidas pelas entidades responsáveis pela sua gestão, como de acções não controladas, levadas a cabo por qualquer cidadão anónimo ou mediático que seja conotado com esse mesmo local.» (Kotler)

Assim, o que se espera de uma estratégia de place branding bem sucedida é que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, associe de um modo quase mecânico determinado(s) produto(s), serviço(s) ou actividade(s) a uma determinada região. Conclui-se, deste modo, que o place branding contribui para a diferenciação dos produtos da região em causa, minimizando os efeitos da crescente concorrência e tirando maior partido do «mercado global».

Existem exemplos óbvios de place branding em todo o mundo (Nova Iorque, Paris, Suíça, Japão), mas também Portugal começa a dar cartas nesta área. Foi em 1999 que surgiu o primeiro projecto de criação da «marca Portugal», na tentativa de projectar o país além-fronteiras, assim como de combater algumas visões estereotipadas do nosso país, apresentando-o como um país moderno e europeu.

O turismo, de uma forma mais ou menos acertada, teve (e preconiza-se que continuará a ter) um papel central na divulgação do país. Falta ainda, contudo, mostrar mais do que o sol e o mar do Algarve, aproveitando as potencialidades de Portugal no que diz respeito ao turismo histórico-cultural e ao turismo em espaço rural.

As marcas criadas pelas empresas portuguesas devem também assumir um papel preponderante no posicionamento de Portugal na Europa e no mundo (não só aquelas que comercializam os produtos já tradicionalmente conotados com o país, mas todas as que primem pela inovação e criatividade), contribuindo para a dinamização da economia local e para o aumento das exportações.

Importa ainda debater o modo como os governos e as próprias empresas devem actuar, em parceria, para a divulgação do país, assim como não esquecer que a internacionalização dos nossos produtos não se esgota em campanhas publicitárias, sendo essencial a aposta contínua na inovação, na competitividade e no empreendedorismo. O artigo será terminado na próxima semana.

Visitar sites do ICEP (Instituto das Empresas para o Mercado Externo) e do ITP (Turismo de Portugal) [Ministério da Economia].

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Issues with American Healthcare Reform

We all have our issues. No, not those type of issues, though, yes, we all have those too. I’m talking about the issues where a difference of opinion gets under our skin and makes us want to scream. One such issue for me comes in the form of universal healthcare, or the fight for healthcare reform in the US. I have a chronic illness. I’ve been sick since I was 10 and had a surgery and hospitalizations. My prescriptions have in the past cost over $800 dollars a month, fortunately I only paid $20 because I have insurance. If I ever lose my coverage, well, let’s just say it would be very bad. As an adult and I’m still not certain that I will even get covered under the Obama plan, even after 2014, when supposedly adults with chronic illness will join those under 18 in being protected from loss of coverage and huge out of pocket expenses due to pre-existing conditions. I know things can be different. I spent 2 years studying in the UK. I was hospitalized 3 times and had major surgery while there. You know what it cost me? £7 a prescription. That’s it. No bills for the ambulances which transported me between hospitals, or the stay, or the procedures. Not even a pence for the visits to my doctors. It was simple and easy and the care was great.

It’s hard sometimes for me to understand how my fellow Americans can be so opposed to healthcare reform, thus, I imagine it must be even harder for those outside the United States to understand why a significant portion of the American population is against Obama’s plan. It might seem ridiculous when one hears people call it fascist. Personally, I believe it’s ludicrous. Yet, there are a few things one needs to bear in mind about the reform which was eventually passed. Both sides of the political spectrum were unhappy with Obama’s reform. The political right in the US was unhappy it passed at all. At best they see it as the central government growing too big, forcing people to pay for healthcare when it should be their own choice to risk being caught ill or in an accident without coverage. At worst they see a slippery slope of government deciding their future hence they make accusations of fascism. The political left in the US saw the plan as not going far enough. The plan left insurance companies in charge of healthcare decisions based too much on money and not equal care for all. They were also upset the plan emphasized that the federal government would not spend any money on abortions. Often, however, a plan which makes people unhappy is the sign of a good compromise. There was no way Obama could have gotten a health bill through congress without compromising on abortion, which remains the most contentious issue in American politics, and insurance company lobbies would never have allowed their companies to be disbanded and replaced with a European-style fully nationalized health service. The compromises were probably the only way to start the path towards better national healthcare in the US.

So when former Republican Presidential candidate, Mike Huckabee, goes on TV in an ad for “Repeal it Now” and says that it’s one thing to be forced to take the medicine when we are children, but now we are adults, I will seethe and wonder why on earth if you were sick you wouldn’t want to take your medicine, let alone cheaper medicine, with no worry that you might have to pay extortionate prices for the medicine, or worse, not be able to afford the medicine at all. I will still wonder why some Americans wouldn’t be willing to raise taxes to let their fellow citizens: the sick, the young, the elderly; not be burdened with healthcare worries. But, I’ll try and remember that Huckabee is part of a vocal minority, one that might eventually realize that universal healthcare is actually rather nice. If I didn’t I might end up kicking in my TV. Luckily, this American still has insurance which would cover any subsequent injuries.

domingo, 17 de julho de 2011

O Euro e Passos Coelho

O Primeiro Ministro também decidiu falar de desvalorizar o euro, nisso acompanhando o Presidente da República. Já não bastava Aníbal Cavaco Silva não perceber que não há desvalorizações competitivas na União Europeia, porque o BCE é independente, agora é o Primeiro Ministro que não parece perceber que enviar este tipo de recados ao BCE não vai encher ninguém de confiança.

O pior que podia acontecer à UE neste momento seria aplicar-se-lhe o «modelo de desenvolvimento» que Portugal usou precisamente até entrar no euro, assente em desvalorizações políticas da moeda única. Pensar que a primeira e a terceira figura do Estado em Portugal andam por aí a promover isso é demonstrativo de que a mentalidade que nos levou onde estamos hoje não morreu.

O grande debate que temos de ter hoje na União Europeia não é sobre a missão do BCE ou sobre a sua independência, que devem ser mantidas intactas, e até reforçadas, se possível. O grande debate que temos de ter é sobre a transformação da UE numa verdadeira federação, nomeadamente a nível das finanças públicas e dos impostos. Isso sim, seria um debate sobre como dar maior credibilidade ao euro e dar maior capacidade à UE para lidar com crises.

Mesmo de um ponto de vista de competição entre o euro e o dólar no que toca a ser a moeda de reserva global por excelência, a mensagem que se quer enviar não pode ser que o euro vai ser desvalorizado por motivos puramente políticos quando der jeito. A melhor forma do euro concorrer com o dólar é precisamente tornar claro que o euro é uma moeda estável e de confiança.

Pedro Passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva têm responsabilidades importantes neste momento de crise, principalmente o primeiro. A todos têm dito que Portugal não pode falhar.

Pois bem, com estas afirmações, Portugal pode não ter falhado. Mas eles os dois, falharam de certeza.

O Euro e Cavaco Silva

O nosso Presidente da República, exercendo, provavelmente, a sua «magistratura activa», decidiu vir anunciar a quem o quisesse ouvir que acredita na desvalorização do euro como forma de ajudar a competitividade da zona euro. As afirmações de Aníbal Cavaco Silva são particularmente graves por terem vindo de um economista, que portanto devia saber que o que estava a dizer não só é jurídica e politicamente impossível, como economicamente desnecessário e potencialmente nocivo.

São políticos como o nosso actual Presidente da República que levaram à independência dos bancos centrais, precisamente para impedir que andassem a «brincar» com o valor da moeda, gerando inflação sem que houvesse desenvolvimento económico sustentável. Foi o que Portugal andou a fazer antes de entrar para o euro, com a tristemente célebre, e ainda popular, política dos «salários baixos». Felizmente, o BCE é independente, e as afirmações de Cavaco Silva não vão ter impacto na política monetária europeia. 

Pedia-se ao Presidente da República que exercesse a sua «magistratura de influência» indo para além de mensagens populistas que nada ajudam a credibilizar Portugal. Parece que nem isso podemos esperar do actual Presidente.

P.S. Este tipo de afirmações lembra bem os perigos de acabar com o euro e voltar ao proteccionismo das moedas nacionais (ver, também, aqui e aqui).

sábado, 16 de julho de 2011

Comunicação Social e Sabedoria Convencional

O João Bernardino já aqui falou da sabedoria convencional. Como diz no seu artigo, «[a] sabedoria convencional corresponde àquelas ideias feitas, presentes no senso comum da generalidade da sociedade, que são tidas como verdades inquestionáveis. Frequentemente penetram o suficiente nas crenças comuns para que quem as tente contestar passe por insano.»

Uma forma pela qual a informação que se transformará em sabedoria convencional se dissemina é a comunicação social. Certa ideia, já ideia feita para certos opinion makers, é todos os dias apresentada às pessoas como verdadeira. Para a comentar são chamadas pessoas (consideradas «autoridades») que já concordam com essa ideia.

Para analisar a ideia, são também chamadas pessoas que concordem com ela. As perguntas que são feitas a esses «peritos», que por vezes são não são peritos naquilo que estão a falar (o exemplo máximo é o Prof Marcelo Rebelo de Sousa, que quase é apresentado como perito em tudo), são fáceis de responder e raramente põem em causa a ideia que está em análise. Aliás, por vezes até são formas de a reforçar.

A ideia começa então a propagar-se rapidamente. Televisão e jornais dão-lhe eco. A análise é muitas vezes empacotada de forma a ser servida em cinco minutos que nada aprofundam a questão. E a ideia entra no inconsciente colectivo, tornando-se conhecimento convencional, uma ideia feita irrefutável, credenciada pelas «autoridades» chamadas a comentá-la. (Basta ver o que tem acontecido relativamente à Moody's.)

Já aqui falei da importância do debate público em democracia. Esse debate deve ser vivo. Devem confrontar-se os vários pontos de vista. Os argumentos de ambos os lados devem ser analisados e escrutinados. Deve haver mais do que ecos constantes de ideias feitas consideradas impossíveis de refutar, associadas a um culto da autoridade que nada ajuda o debate.

A comunicação social tem impacto fundamental na formação das opiniões das pessoas. Deve funcionar como catalisador de um debate público vigoroso. Não pode servir apenas para criar, e disseminar, sabedoria convencional.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A incorporação de Planeamento por Cenários na Análise Económica

A Economia Política foi o sector que mais rapidamente incorporou as técnicas de Planeamento por Cenários, conforme são entendidos pelos profissionais de Prospectiva ou Estudos Futuros.

A introdução desta nova técnica criou alguma confusão por estavam habituados a falar em Previsões, mas progressivamente este metodologia vai se mostrando como a única que faz sentido numa situação de elevado nível de incerteza.

Quando olhamos para os planos de austeridade, a razão para usar cenários torna-se clara. Ao usar uma previsão, o plano de austeridade era assente em cima do que se considerava mais provável de acontecer. Contudo, os analistas incluindo as agências de rating, olhavam para a previsão e viam que era fácil as coisas não correrem como o esperado.

Ao usar cenários, podemos criar um cenário optimista, o cenário mais esperado e o cenário pessimista. O plano de austeridade deve ser criado em cima do horário pessimista. Se nos prepararmos para o pior sabemos que estamos preparados para qualquer situação. É assim que se garante confiança aos mercados.

Esta diferença entre a previsão (cenário mais provável) e o cenário pessimista gerou confusão, pois o governo anuncia que espera um determinado crescimento e depois fala-se num cenário muito pior. Na verdade, um governo que dê estas duas informações não se está a contrariar. A falha está de quem tenta percepcionar esta metodologia e não compreende a diferença que existe entre as duas.

Uma das consequências positivas desta metodologia, é gerar muito menos notícias espalhafatosas e alarmistas na comunicação social. Usando Cenários, os média não poderão dizer constantemente que as previsões falharam. Apenas o poderão dizer se for pior que o pior dos cenários ou melhor que o melhor dos cenários.

Também o novo Ministro das Finanças cometeu uma pequena gafe, no seu discurso de 14 de Julho ao dizer que estava pronto o Cenário realizado entre o Governo e a União Europeia. Ora se criaram apenas uma imagem, trata-se de uma previsão e não de um Cenário, porque este último depende de existirem várias possibilidades levantadas.

Esta pequena falha não tem contudo qualquer importância, especialmente se compararmos com a grande falha que foi a análise das agências de Rating ao sub-prime, que resultou na crise internacional. Se acreditarmos, como eu acredito, que não houve qualquer conspiração para gerar esta crise, então a explicação para o colossal erro foi uma metodologia de análise errada.

O produto de crédito conhecido como sub-prime era nitidamente de alto risco, ainda que as evidências indicassem o contrário. Para que os indivíduos de classe baixa conseguissem pagar as suas dívidas, eram necessários alguns pressupostos: que o imobiliário continuasse a valorizar, que a percentagem de devolução de casas continuasse baixa, que o desemprego se mantivesse em níveis elevados, que as taxas de juro continuassem baixas. Ora todas estas questões mantinham-se verdade há bastante tempo e sendo tantas variáveis necessárias para o colapso, pela metodologia habitual de análise financeira a crise que acabou por acontecer parecia pouco provável.

O problema foi a natureza sistémica destas variáveis, que estabeleciam uma relação de independência entre si, ou seja, ocorrendo uma, as outras ganhavam mais hipótese de ocorrer. Por isso, seria fácil desenhar um cenário, em que na consequência de uma crise económica, o desemprego aumentava, os endividados começavam a devolver as suas casas ao banco, o valor do imobiliário descia e a taxa de juro disparava.

É esta natureza sistémica que é possível analisar através do uso de cenários e que não se consegue fazer através dos modelos clássicos de previsão Económica.

E depois do falhanço colossal das mais conceituadas agências de rating, não é de surpreender que políticos e economistas se apressem a incorporar as novas ferramentas de Planeamento por Cenários.

Os mercados não acalmam (V)

A Moody's colocou os EUA sob «vigilância negativa». A Standard & Poor's também o fez. (Ver, por exemplo, aqui e aqui.) E não o fizeram por a Moody's ter recebido lixo nos seus escritórios em Paris ou por «hackers» terem deitado abaixo o «site» da Moody's. Fizeram-no por causa das lutas no Congresso americano relativamente ao «debt ceiling». O «tecto de dívida» é a quantidade máxima que o Governo americano pode pedir emprestada, definida por lei). Há um risco de que não se passe uma nova lei a tempo, e isso aumenta o risco de incumprimento.

Continuarão, claro, as acusações de tratamento favorável aos EUA, apesar destes avisos da Moody's e da Standard & Poor's. E a colocação dos EUA sob «vigilância negativa» por parte de duas agências de «rating», por sinal americanas, será menosprezada por aqueles que insistam em visões anti-americanistas da crise das dívidas soberanas. Decerto encontrarão racionalizações para incluir mais este «facto» na sua narrativa de «guerra económica» entre os EUA e a Europa e na qual a China, ao que parece, é uma aliada europeia.

Afinal, a agência de «rating» chinesa Dagong Global Credit Ratings Co. cortou recentemente o «rating» da dívida dos EUA. Ora, a China investiu fortemente em dívida dos EUA, estando agora, naturalmente, preocupada em ter retorno do seu investimento. Vê com grande apreensão as lutas no Congresso relativamente ao «debt ceiling», e também não deve gostar particularmente da ideia de lhe pagarem com dinheiro inflacionado.

Nada de mais natural até aqui. E quem quiser contratar a agência de «rating» chinesa, pode certamente fazê-lo. Mas tudo o que se passa aqui é que os investidores que mais investiram em dívida americana são também aqueles que se encontram mais expostos a qualquer problema com o retorno dessa dívida. Não significa que a China tenha passado a ser uma «aliada» da Europa numa «guerra económica» com os EUA que, verdadeiramente, não existe.

O que existe é uma crise de dívida soberana que tem repercussões na Europa, nos EUA, e na própria China. Isto porque o sistema financeiro é global, e há uma interligação entre todos estes países. O que significa que é no interesse de todos eles manter o sistema financeiro estável. E isto implica que é no interesse de todos que não haja colapsos na Europa, nos EUA e na própria China. Porque esses colapsos teriam repercussões extremamente negativas a nível global, levando a consequências sociais explosivas.

Espicaçar sentimentos anti-americanos, anti-europeus ou anti-chineses de forma massiva, espevitando sentimentos de medo, não ajuda em nada a resolver a crise das dívidas soberanas. Procurar bodes expiatórios para erros internos não nos ajuda a resolver esses erros. Tentar continuar a viver uma ilusão de riqueza não torna essa riqueza real, não nos põe de novo a crescer, e não nos livra do peso terrível da dívida em excesso que se foi acumulando.

Longe de qualquer sentimento de regozijo, preocupa-me bastante que o Congresso americano não se entenda quanto à passagem do «debt ceiling». Da mesma forma que me preocupa que na Europa não nos consigamos unir e responder de forma clara e concertada ao problema. Ou que já haja preocupações relativamente à dívida pública chinesa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

The "Moody" Ratings

Muita tinta tem corrido nestes últimos dias sobre os “comportamentos inaceitáveis” das agências de ratings, nomeadamente a Moody’s, devido à má classificação atribuída à dívida portuguesa. Para além da tinta, formou-se o que sou forçado a classificar como uma enorme shit-storm, derivada essencialmente de histórias mal contadas, factos ignorados, emotividade gratuita e uma avaliação tendenciosa do estado de coisas. Em consequência desta realidade, que culminou, entre outras coisas, no envio de lixo, vasura, trash, para a sede da Moody’s (facepalm on that one), há que fazer várias considerações atendendo à realidade, a uma avaliação dos factos e não à grosseira lógica de angry mob, muito popular hoje em dia.

Em primeiro lugar, e é importante que se saiba, existem dezenas de agências de rating, sim, leram correctamente, dezenas. Então, perguntarão, porque têm estas o poder determinante que têm? Simples, os Estados atribuíram-lhes funções extraordinárias de controle de risco e regulação bancária. Por exemplo, em 2001 o comité de Basel[1] decidiu basear o capital de reserva exigido por cada empréstimo efectuado na avaliação “destas” agências de rating, o que criou prontamente um risco de “compra” de rating por parte de instituições bancárias. Mais, de forma a proteger os investidores, quer as autoridades europeias, quer as americanas criaram restrições ao investimento e outras regras baseadas na avaliação das três grandes. O BCE só aceitava colateral para empréstimos com uma notação X por exemplo, nos EUA fundos de investimento sem garantias públicas só podiam apostar nos ratings mais altos (ratings atribuídos claro, pelas três grandes aceites pelo SEC[2]). Dentro do próprio Estado os gestores de contas públicas, em vez de fazerem a avaliação do risco eles próprios, estavam restritos pela avaliação das “maldosas” agências. Os exemplos simplesmente não acabam. Ou seja, os Estados deliberadamente entregaram, de forma a poder desresponsabilizar-se a si e a grande parte do sector financeiro, um poder desmesurável a estas instituições.

A isto soma-se uma imensa hipocrisia. Portugal, um “novato” na cena europeia, não hesitou em usar os positivos ratings que tinha faz alguns anos como forma de obter crédito de investidores que de outra forma não teriam aplicado o seu dinheiro na dívida nacional. Se fossemos coerentes queixarmo-nos-íamos também desse época, na qual milhares ou milhões de pessoas emprestaram “com base em informações parciais e com pouco conhecimento de causa”, o mesmo que hoje em dia, só que na outra direcção. No entanto como “nos beneficiou”, mantivemo-nos convenientemente calados, apesar das agências já terem em grande parte os poderes hegemónicos que têm hoje. Quando julgamentos parciais nos beneficiam tudo bem, se nos prejudicam alto lá! Revolta! Regulação! Abaixo o capitalismo!

Em segundo lugar há que desfazer um equívoco, as agências quando “abrem a boca” emitem uma opinião, a qual os investidores (que não estão restritos pela regulação pública FAVORÁVEL às agências) ouvem ou não tendo em conta as suas preferências. Desse ponto de vista, para além do que resulta da acção da má regulação pública, pouco há a fazer. Nós, em qualquer negócio que estejamos, temos o direito de ouvir e seguir más (ou boas) opiniões. Não sei porque teria de ser diferente no sector financeiro.

The last but not the least, a Moody’s nunca chamou lixo a Portugal ou insultou o Estado português, não sei quantas vezes há que repetir isto. Se lerem o relatório da agência o que é referido é um corte no rating derivado da obrigatoriedade de participação dos investidores num segundo resgate grego, o que abre um precedente desse tipo de expropriação na cena da dívida europeia. O termo “lixo” é um jargão usado pelos investidores para classificar esses ratings, não é, nem nunca foi, um vocábulo usado pela Moody’s.

Em continuidade com o que escrevi anteriormente, se devêssemos a enviar lixo a alguém seria à senhora Merckel, que foi quem nos meteu “na linha de fogo”. Não fosse o seu despotismo financeiro que quer obrigar (e vai obrigar) investidores privados a reinvestir na dívida grega, o risco da dívida portuguesa nunca teria ido por aí acima (ou pelo menos é o que diz o relatório em causa…), nesse sentido estão certos aqueles que dizem que a baixa no rating foi injustificada (internamente). O que nos deixa a pergunta do porque da mesma lógica não ter sido aplicada à Irlanda por exemplo, talvez se trate de um “delay”( como referiu Ricardo Reis neste artigo para o qual deixo o link (http://theportugueseeconomy.blogspot.com/2011/07/moodys-lazy-screw-up.html). De qualquer forma é absolutamente autocrático a EU pensar que pode napoleonicamente decidir onde alocamos os nossos recursos. Obviamente isto são maus augúrios para os mercados creditícios (e para a liberdade de capitais), como se as coisas já não estivessem más o suficiente .

Soluções? Sim, é disso que me falta falar. Na minha perspectiva é (sempre) muito importante a responsabilização dos agentes económicos, e mais ainda neste caso, por isso defendo o fim da indexação de quaisquer produtos financeiros às notações das agências, devendo as mesmas ser usadas pelos investidores exclusivamente de forma voluntária. Assim colocamos as três grandes em paridade com todas as outras no que toca à importância da sua avaliação e, ao mesmo tempo, obrigamos os investidores a informar-se e a ser mais responsáveis. Isto em relação ao que é privado. Gestores públicos? O Estado que decida o que fazer, sem esquecer que foi a dependência voluntariosa em relação às agências que nos pôs num buraco ainda mais fundo. A minha preferência seria o Estado nem sequer exercer esta função, pois está a trabalhar com fundos de terceiros (como está sempre), mas exercendo-a que não seja dependendo de restrições obtusas mas responsabilizando-se pelos riscos que corre. Uma nota para os fãs de uma agência europeia, quão independente seria uma agência pública a avaliar dívida pública? Ah, espera, essa seria parcial “a nosso favor”, então já está tudo bem, já se podia guardar de novo o lixo nos caixotes.

Não podemos usar toques de Midas do BCE, directos ou indirectos, para esquecermos que um modelo de Estado baseado em 6 meses de trabalho para o “bem público” (seja lá o que isso for) ao qual se soma um constante endividamento é tudo menos sustentável. Quanto ao "caos" dos ratings friso e repito, como conclusão, que não foi o “capitalismo” (!) que criou esta confusão mas sim, mais uma vez, má regulação e paternalismo em relação aos mercados de capitais, pelo que parece o Estado escolheu mal os paizinhos.



[1] Uma das entidades de regulação bancária multinacionais mais importantes

[2] Securities and Exchange Commission