sábado, 30 de abril de 2011

Eleições

No dia 5 de Junho, o país vai a votos. Vamos exercer o direito fundamental de escolher quem nos representa no Parlamento. 

Mais que um direito, o direito de voto é um verdadeiro dever cívico, a ser exercido com ponderação e de forma informada. 

Cousas Liberaes apela ao voto em consciência. Apela a que todos se informem sobre as várias opções, ponderem sobre as mesmas, e votem naquela que considerem ser a melhor opção, tendo em atenção a informação disponível, a situação actual do país, e as suas preferências pessoais.

O direito de voto é um pilar de uma democracia liberal. O seu exercício é um sinal de saúde democrática. Apesar da crise, e aliás precisamente por estarmos em crise, é urgente restaurarmos a saúde da nossa democracia.

Vote no dia 5 de Junho. É um serviço que presta ao país, mas também a si mesmo!

As célebres reformas estruturais (II)

A reforma do Estado passa por cortes na despesa, mas para que se proceda a cortes na despesa é preciso saber, afinal de contas, quanto dinheiro é que se gasta. Para isso, é preciso saber que entidades públicas é que existem. Algo que não é fácil de saber. Aliás, é tão difícil de saber, que ninguém sabe, verdadeira e exactamente, quantas entidades públicas existem. Têm proliferado, empresas públicas, fundações públicas, todo o tipo de entidades que se vão acumulando, de tal forma que ninguém as consegue contar de forma exacta.

Tudo isto se relacionada com um fenómeno conhecido por «fuga para o Direito Privado». Para se entender este fenómeno, é preciso algum contexto sobre os princípios subjacentes ao Direito Público e os princípios subjacentes ao Direito Privado.

O Direito Público rege-se pelos princípios da competência e da autoridade. O princípio da competência diz que o a entidade apenas pode agir com base numa norma expressa que permita que ela aja daquela forma; em suma, a entidade apenas pode fazer o que é permitido, e o que não é permitido, é proibido. O princípio da autoridade, por sua vez, diz que aquela entidade, quando agir com base em poderes exorbitantes (com base no ius imperium), se impõe a entidades privadas. (No séc. XIX, as coisas não funcionavam assim, mas a evolução deu-se, felizmente, neste sentido, de limitar a actuação das entidades públicas, e portanto dotadas de poderes coactivos, aos casos expressamente previstos.)

O Direito Privado rege-se pelos princípios da liberdade e da igualdade. O princípio da liberdade diz que tudo o que não seja proibido, é permitido. O princípio da igualdade diz que, entre privados, por princípio, não há supremacia de um privado em relação a outro, encontram-se todos no mesmo plano. As entidades públicas, quando não agem no âmbito dos seus poderes exorbitantes, são também reguladas pelo Direito Privado.

Ao criar entidades regidas pelo Direito Privado, o Estado escapa-se, portanto, às restrições que lhe são impostas pelo Direito Público, dado que essas entidades, apesar de públicas, se regerem por Direito Privado.  É verdade que continuam a ser pessoas colectivas, e que haverá estatutos com regras de funcionamento, mas o nível de controlo pura e simplesmente é menor. Isto foi considerado importante para tornar o Estado mais eficaz, mas tem tido vários efeitos perniciosos.

O primeiro efeito tem sido a já referida proliferação de entidades, proliferação essa que tem gerado redundâncias, e portanto gastos supérfluos.

O segundo efeito tem sido o de alargar a teia de entidades prontas a receber boys e girls, tendencialmente muito bem pagos.

O terceiro efeito tem sido o de gerar oportunidades para o Estado Central (e também para as autarquias locais, diga-se) desorçamentarem dívidas, «passando-as» para estas entidades (geralmente, «empresas» públicas), de forma a «esconderem» as ditas.

O quarto efeito, como bem tem apontado o Prof. Paulo Trigo Pereira, é o de retirar poder de controlo ao Parlamento sobre as áreas nas quais essas entidades actuam, visto que estas entidades vão ser tuteladas pelo Governo e portanto prestam contas a este.

Um exemplo de um uso pernicioso destas entidades pode ser encontrado nesta notícia do Expresso. Resumidamente, o Estado vendeu a uma empresa pública uma série de imóveis, a um preço inflacionado, e a empresa pública subsequentemente arrendou os imóveis ao Estado. O título do artigo, que já data de 2009, diz tudo: «Estado vende a Estado para compor contas».

A SIC passou uma peça já este ano sobre o mesmo tema:


O Tribunal de Contas tem competência para controlar este manancial de entidades públicas, mas não tem recursos, nem nunca os terá, para as controlar todas ao mesmo tempo, ou mesmo parte substancial ao mesmo tempo. Considero que o Tribunal de Contas tem, sob a égide do seu actual Presidente, realizado trabalho muito meritório, mas não basta haver um bom Tribunal de Contas. Temos mesmo de olhar com atenção para como se tem processado esta «fuga para o Direito Privado», ver quanto é que nos está verdadeiramente a custar, e agir em conformidade.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O FMI Não Chega!

Nas últimas semanas anteriores à queda do governo de José Sócrates e da oficialização do pedido de ajuda ao Fundo Monetário Internacional e à União Europeia, tanto a classe política como a sociedade civil parecem ter finalmente percebido a caótica e desesperada situação financeira do país. Como tal, muitos portugueses deixaram de olhar para estas instuituições como o fantasma da austeridade e da perda de soberania, encarando-as hoje como a única saída de emergência possível.

As pessoas agarram-se àquilo que lhes dá esperança e esperança na classe política é algo que hoje praticamente não existe. A troika europeia e do FMI, apesar de significarem muitos sacrifícios nos próximos anos (e os portugueses sabem-no), é para muitos a única maneira tirar o país da beira do precipício.

Mas estarão os portugueses conscientes de que este pacote de ajuda é apenas parte da solução? Equilibrar as contas públicas até pode tirar o país da situação de “alta pressão” que temos vivido junto dos mercados financeiros nos últimos tempos, mas não criará empregos, não garantirá a competitividade e o crescimento ecónomico de que tanto necessitamos. O FMI não chega! É preciso mudar mentalidades e os modelos até então seguidos.

Repensar o endividamento e financiamento externo: é urgente que se perceba que o endividamento externo deve ser gerido de forma responsável e rigorosa. O exterior não é uma fonte inesgotável de financiamento: é necessário que aprendamos a fazer boas escolhas e a ter apenas aquilo que podemos pagar. O mesmo se aplica às famílias portuguesas que terão de se habituar a viver com aquilo que podem ter (e não com o que querem).

Disciplina orçamental: mais do que necessária, é-nos exigida. Tal significa um maior esforço para controlar a despesa, procurando fazer com menos, o que temos feito até agora (ou até mais). Estou certo de que há muito por onde cortar, sem grande prejuízo para o país.

Poupança: sensibilizar as pessoas para a importância da poupança é também fulcral. Um dado curioso é que mais de metade dos portugueses não sabe o que é a poupança e desconhece as suas possíveis aplicações.

Apostar na competitividade: liberalizando o mercado de trabalho, aplicando medidas que tornem a nossa justiça mais célere, apostando no nosso capital humano, melhorando o nosso ensino profissional, implementando boas políticas de incentivos para que quem tem ideias e vontade de empreender o faça.

Mais do que estas linhas gerais, são necessárias medidas concretas capazes de concretizar a reforma estrutural de que tanto precisamos. Estas medidas devem surgir não só por iniciativa do futuro governo, mas fruto de um debate abrangente entre todos os sectores da sociedade portuguesa.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Restaurar a Confiança nas Instituições Públicas - II

Em Fevereiro de 2010, saiu um artigo meu na «newsletter» do Movimento Liberal Social chamado «Restaurar a Confiança nas Instituições Públicas - Parte I». Nesse artigo, que poderá encontrar aqui, eu discutia questões relativas à transparência das entidades públicas, à abertura do sistema político, entre outros temas.

Cheguei a começar a Parte II, e encontrei o texto, ainda incompleto. Publico agora as duas secções do texto que já se encontravam completas, remetendo para texto futuro considerações sobre a comunicação social. (Recomendo a leitura da Parte I, que inclui enquadramento geral, antes da leitura deste artigo.)


Informação e Processamento de Informação
Uma sociedade livre é composta por cidadãos informados que tomam decisões livres com base na informação de que dispõem. Limitar o acesso à informação é limitar a capacidade dos cidadãos de fazerem escolhas e de tomarem decisões de acordo com as suas preferências. Daí que a actuação do Estado e das entidades públicas se deva pautar pelo princípio da transparência e por obrigações de fornecer informação à sociedade civil de forma clara e acessível.

A actuação de um cidadão face aos poderes públicos é assim amplificada na medida em que tenha acesso à informação de que necessita e consiga compreender e analizar essa informação. A capacidade do cidadão de processar a informação de que dispõe vai depender não apenas de si próprio mas especialmente da educação que receber. A informação a que tem acesso vai depender não apenas de contactos pessoais mas, no caso do cidadão comum, de fontes de informação públicas, como sejam os meios de comunicação social.

A importância da Educação

Uma população informada é fundamental para uma democracia liberal dinâmica. Uma sociedade civil em que a apatia foi posta de lado, composta por cidadãos dispostos a intervir, de forma crítica e cívica, na política, é fundamental para o bom funcionamento das instituições públicas e dos partidos políticos. Uma sociedade civil mais interventiva, educada e informada teria um efeito importante na credibilização da vida política portuguesa.

Para que isto aconteça, é necessário uma reforma do sistema educativo. Essa reforma deve basear-se no princípio da educação para a cidadania, ou seja, numa educação verdadeiramente centrada no pensamento crítico e na aquisição de competências por parte dos alunos que lhes permitissem utilizar a informação que fossem adquirindo. Além disto, é importante que haja uma transmissão dos conhecimentos que foram sendo adquiridos pela Humanidade até este momento. A melhor forma de dar passos em frente é conseguir que a geração seguinte entenda verdadeiramente o que se descobriu até então, de forma a que o consiga questionar com conhecimento de causa.

Esta reforma deve ser estrutural. Foi importante começar a ensinar Inglês mais cedo, e foi importante haver aulas de substituição. É preciso continuar a reformar, não podemos deixar a reforma estagnar e, especialmente, não podemos deixar a reforma voltar atrás. É preciso criar um sistema de avaliação de professores válido, é preciso um sistema de avaliação das escolas válido e independente. É preciso garantir que os professores que estejam a dar aulas tenham pelo menos duas características fundamentais: saibam bem, muito bem, a matéria que estão a dar, e sejam capazes de manter ordem na sala de aula. Isto não significa voltar ao passado, às escolas do Estado Novo. Significa, isso sim, garantir que os professores estão qualificados e têm as ferramentas necessárias para fazer aquilo que devem fazer: ensinar.

bullying e a indisciplina vigentes são um sintoma de um sistema educativo doente. É preciso dar prestígio de novo à profissão de professor. É preciso abandonar a ideia de uma escola que, em vez de abrir novos mundos aos seus alunos, os acabe por fechar nos mundos de onde já vêm, sob a capa de uma suposta diversidade que, na prática, resulta em standards baixos precisamente para quem precisa que a escola puxe por eles, dado que não encontra em casa um estímulo para melhorar. Não podemos esperar menos dos alunos com menos posses, sob pena de os ver a falhar precisamente por causa dessa falta de expectativa, um fenómeno estudado e que é conhecido por “efeito de Pigmalião”. A escola deve servir para que alunos que venham de famílias com qualquer nível de rendimento tenham a oportunidade de perseguir os seus sonhos. Crucialmente, deve fomentar o desenvolvimento individual de todos no sentido da formação de cidadãos capazes de pensar por si mesmos e de questionar o poder instituído.

Uma escola focada na educação para a cidadania é ainda uma escola que não obriga, no 9.º ano, a que os alunos escolham “agrupamentos”. Uma especialização profissionalizante com esta idade não faz sentido, e é fruto de um forma displicente de pensar no futuro do aluno. Demonstra ainda que o nosso sistema actual não se encontra verdadeiramente vocacionado para transmitir um leque variado de competências. Não é verdade que um aluno de Direito não beneficie de perceber lógica matemática. Não é verdade que um aluno de Física não beneficie de saber Literatura. O oposto é verdadeiro. É imperativo que os alunos saiam do liceu com horizontes expandidos, com um vasto leque de competências adquirido e a saberem lidar criticamente com problemas. 

Este ênfase deve ser claro nos próprios exames finais. No caso da cadeira de Português, por exemplo, esses exames não devem tratar de obras estudadas na aula. Devem, sim, tratar de obras que não façam parte do currículo, relacionadas com os temas estudados. O importante não é que os alunos saibam a “interpretação correcta” (o que quer que isto seja) dos Lusíadas, mas sim que saibam interpretar textos, quaisquer que eles sejam. Isso testa-se pedindo aos alunos que apliquem o que aprenderam a uma situação nova, não a algo que já conheceriam das aulas.
  
Muito se poderia discutir em relação à reforma do sistema educativo, mas o fundamental é que haja uma verdadeira mudança de orientação para uma educação focada na formação de cidadãos. Estando esta mudança de orientação assente, podemos começar a discutir alterações ao estatuto do aluno, ao estatuto do professor, ou a criação de um sistema cheque-ensino.
  
No que toca ao Ensino Superior, é imprescindível a implementação correcta do Acordo de Bolonha. É preciso ar fresco no sistema de ensino superior em Portugal, virando as universidades para o ensino teórico-prático o mais possível. As universidades devem estimular os alunos a desenvolver opiniões próprias e fundamentadas sobre as questões discutidas nas aulas, além de encorajarem a investigação individual ou em grupo. Os próprios professores devem ser encorajados a publicar artigos académicos regularmente, e a fazer pesquisa regular nas suas áreas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril

Em 25 de Abril de 2011, Portugal vive várias crises. Vivemos uma crise financeira. Vivemos uma crise económica. Vivemos uma crise social. Em 25 de Abril de 2011, temos algo que não tínhamos antes de 25 de Abril de 1974: uma Democracia.

A nossa Democracia é uma ferramenta importante à nossa disposição para tomarmos decisões sobre o nosso futuro, mesmo com a entrada do FEEF e do FMI. É uma ferramenta importante ao nosso dispor para termos um debate alargado sobre o que correu mal, o que correu bem, o que queremos continuar a fazer, o que queremos mudar. Isto, em todas as áreas, incluindo uma reforma do próprio sistema político para o tornar mais próximo dos cidadãos, mais atento às suas preocupações, mais aberto às suas contribuições.

No Dia da Liberdade, devemos todos pensar como melhorar a nossa Democracia. Ela, como nós, vai evoluir, sempre imperfeita, mas sempre tentando melhorar. É nossa responsabilidade, de cada um de nós, pensar a nossa Democracia e contribuir para a sua melhoria.

No Dia da Liberdade, devemos todos fazer algo que promova a melhoria da nossa Democracia. Escrever um texto de ficção, de não-ficção, cantar uma canção, recolher assinaturas para uma petição, o que seja. Não podemos ficar à espera que os outros façam por nós. Temos de fazer qualquer coisa.

No Dia da Liberdade, este ano, Portugal vive várias crises. Vivemos uma crise financeira. Vivemos uma crise económica. Vivemos uma crise social. No Dia da Liberdade, este ano, temos algo que não tínhamos antes de 25 de Abril de 1974: uma Democracia.

É nosso dever cívico usá-la.

É nosso dever cívico melhorá-la.

Acordemos para a realidade, e procuremos uma solução.

Recomendação de leitura do 25 de abril

 A todos os liberais, recomenda-se que seja lido o artigo de Diogo Ramada Curto na Actual desta semana sobre as ciências sociais e humanas na sociedade, pp. 30-32.
 Porque para mudar o nosso país, que sofre o peso do seu mito-passado anacrónico, para reformar a nossa democracia com democratas, será necessário um novo paradigma de mitologia cívica, e de compreensão do passado. O entendimento crítico do mundo dos homens é essencial na formação do homem democrático. Mesmo que "Afirmar num país como portugal que as ciências sociais e as humanidades servem para preservar a liberdade pode parecer uma justificação demasiado vaga." Mas não é. São a espinha dorsal da nossa consciência civilizacional, da nossa abertura, da nossa formação cívica. Como ficou provado nesta crise, que demonstrou que apenas o crescimento económico sem o crescimento social e cultural para formar uma cidadania activa e consciente, e uma política como expressão da comunhão das ideias da comunidade, é inútil e nos leva à bancarrota governados por incompetentes governando inconscientes, as humanidades são o nosso calcanhar de Aquiles. Como liberais, devemos-lhes tudo.

domingo, 24 de abril de 2011

Diálogo sobre a Mudança (Meio ao Desafio)

- A mudança não é fácil:
É como arrancar um dente.
Precisamos de puxar com força
E de anestesiar o doente!

- Mas um doente anestesiado
Nem nota o que se passa!
Ainda lhe arrancam o dente errado
E depois, faça o que faça,
Tem mais um problema a resolver!

- Pois então que o resolva,
Que o que é preciso é mudar!
Andamos sempre na mesma:
Já estagnámos de estagnar!

- Mas que mudança viria
Dessa tua postura?
A acumular problemas
Andamos à anos!
Precisamos é de uma cura!

- E que mudança viria
Com esse teu medo todo?
Eu sou rápido e directo!
Tu ficas preso no lodo!

- Tu podes bem falar em quadras
E ser rápido e directo!
Eu sou mais circunspecto
E sei bem porque o sou!
É que para esse peditório
Já eu dei e mais não dou!

- Então mas, meu caro amigo,
Que é que tu afinal queres?

- Eu tenho para comigo
Que é preciso pensar,
Estudar bem os problemas
E só depois avançar!

- Agora digo eu:
Estudos temos nós acumulado!

- Mas não os temos usado!
Não convenientemente!
É que os estudos têm de ser
Conhecidos de toda a gente
Para que depois de informada
Possa mesmo participar
No debate público aberto
Necessário antes de se deliberar!

- Para isso temos o Parlamento!

- Mas não chega, digo eu!
É preciso que os cidadãos
Saibam o que é feito
Com aquilo que é seu!

- Não é deles, é do Estado!

- O Estado somos todos nós!
Temos de acordar!
O Parlamento decide,
Mas não nos pode ignorar!
O Governo decide,
Mas não decide sem consultar
A sociedade civil
Que também deve opinar!

- Eu continuo na minha:
É só preciso anestesiar.
Depois, é só mudar!

- Anestesiados andamos nós
Há muito e demasiado tempo!
Isso não é mudança,
Isso é o que se tem feito!
Decisões tomadas a eito,
Sem pensar no futuro,
Sem debate alargado,
Que levaram ao laxismo puro
Em que vivemos!

- Tu não dás alternativas!
Tu és um grande reaccionário!

- Eu não quero é que o povo
Seja tomado por otário!
Há decisões a tomar,
Essas decisões são importantes.
'Mudança Já!' não é nada,
Dava para 'slogan' de refrigerantes!

Precisamos de propostas concretas
Para reformas estruturais.
E quando existirem propostas,
Vamos ter de as implementar.
Vai doer? Vai!
Vais perder a conta aos 'Ais'!
Mas posso garantir-te
Meu amigo do peito
Que se continuarmos a adiar
Só nos pomos mais a jeito
Para irmos além de estagnar
E começarmos simplesmente a definhar!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Agências de Rating (II)

(Resposta ao que o Martim Horta escreveu aqui.)

Pense-se na DECO . A DECO faz testes a vários produtos, neste caso produtos físicos, como electrodomésticos, e depois apresenta a informação que recolheu aos consumidores. Esta informação ajuda os consumidores a escolher os produtos que querem comprar, dado que têm ali uma avaliação em princípio isenta/imparcial/objectiva dos produtos, tendo em atenção diversas características, o que os ajuda a comparar os produtos sem terem de os testar por si próprios.

O propósito base das agências de «rating» é o de avaliar produtos e apresentar essa avaliação ao mercado, disseminando informação pertinente sobre os ditos produtos, ajudando os investidores a escolher em que produtos investir. O propósito base é o mesmo da DECO.

Eu falei no meu último artigo, como o Martim refere, no cariz «quase-regulatório» das agências. E expliquei que falava disso no sentido de haver investidores institucionais que utilizavam a informação que as agências forneciam para fazer as suas escolhas sobre onde investir, e que se encontravam limitados, até estatutariamente, a escolher produtos com avaliações boas.

Isto não significa que as agências de «rating» regulam o mercado da forma que uma entidade pública o faz, criando regras relativas ao sistema financeiro que têm obrigatoriamente de ser cumpridas. Exemplos são banir certas formas de transacção financeira (na Alemanha, baniu-se o «naked short-selling»), as regras de capital mínimo para os bancos, ou outras. De notar que a entidade pública não vai avaliar a qualidade do produto e dizer ao mercado qual o risco de crédito daquele produto*, de acordo com uma série de critérios, que é aquilo que as agências fazem.

Deverá ser uma entidade pública a avaliar produtos financeiros? Em geral, deve ser uma entidade pública a avaliar os produtos e dizer aos consumidores o que consumir - deveríamos, no limite, nacionalizar a DECO?

Quando eu falei em cariz «quase-regulatório», referia-me ao facto de haver investidores institucionais que estatutariamente apenas podem investir em produtos financeiros que tenham boas classificações. Mas o «quase» é importante. As agências disseminam informação, informação essa que tem impacto no mercado financeiro, mas não o «regulam» da forma que as entidades públicas o fazem.

Em vez de criar uma entidade pública para avaliar produtos financeiros, parece-me que devemos, de facto, regular convenientemente as agências de «rating», no sentido, principalmente, de lidar com conflitos de interesses e com o poder de mercado que as agências detêm, por força do poder de mercado que detêm por serem poucas.

Mais uma vez, não me convencem os que dizem que o que faz falta é uma «agência de rating europeia». Basta ver que a Standard & Poor's acabou de, pela primeira vez, dizer que tem uma perspectiva negativa sobre os EUA, o que significa que até a dívida dos EUA pode deixar de ter «nota máxima». Aliás, os EUA têm sido entusiastas do euro desde a Administração Clinton, e não têm interesse em vê-lo a ir abaixo. A interdependência decorrente da globalização leva que uma crise dessa magnitude teria efeitos sistémicos e, portanto, afectaria também os EUA. Finalmente, uma «agência de rating europeia» não seria maravilhosa simplesmente por ser europeia, padeceria dos mesmos vícios de todas as outras.

P.S. Não é por acaso, já agora, que a perspectiva passou a negativa. Os EUA têm um problema de dívida pública completamente alucinante, de tal forma alucinante que já nem terem o dólar, que é a moeda de reserva global por excelência, começa a ser suficiente para poderem ignorar esse problema, como têm feito até agora.

* No original, dizia ali «bom investimento». Como o primeiro comentário ao artigo refere, e bem, isso não estava certo, e eu não fui preciso. Mas aqui, convinha ser preciso. Por isso, corrigi o artigo, e agradeço o comentário com a chamada de atenção!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Intocáveis?

E então a seguir a Portugal esse animal obscuro que é uma agência de Rating, esse Deus do Voodoo-mercado, apresente-se aos Estados Unidos.

Quero retomar a afirmação feita pelo camarada João Mendes
"As notações das agências têm cariz quase regulatório, porque as avaliações que fazem têm impacto directo no tipo de produtos que são ou não comprados por certo tipo de investidores (ex. há investidores institucionais que só podem, estatutariamente, comprar títulos com a notação máxima)"

Este é, em minha opinião, o essencial do problema "agências de rating". E é ideológico. O mercado livre, como eu o entendo, tem, enquadrado nas estruturas institucionais, a chamada "regulação". Das mais diferentes formas. De modo a promover a concorrência, ou sejam que preceitos sejam que se imponham, desde procurar a eficiência energética ao estimular produtos amigos do ambiente, como quiserem.
Parece-me que essa regulação implica a intervenção na área da rotulagem de produtos. Saber se são geneticamente modificados, qual a composição, quanta garantia, etc... Também os electrodomésticos têm rotulagem de acordo com a eficiência creio que de A a E. Esta rotulagem permite aos consumidores escolhas mais conscientes e acertadas e dá ao mercado tendência crescente de confiança no produto, confiança no próprio mercado, mas também estímulo a que a produção responda a essa consciência.
Ora o rating da dívida é rotulagem e a dívida é um produto.
Parece-me que a regulação como rotulagem de qualquer produto é das competências do estado.
Regular reguladores que operam no mercado que eles mesmos regulam parece-me paradoxal.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Agências de Rating (I)

Escrevi três artigos sobre razões internas para os mercados não acalmarem (aquiaqui e aqui). Fi-lo porque considero que não nos podemos esquecer delas, e que falar apenas das agências de notação financeira e dos seus problemas facilita a vida a quem quer que fique tudo na mesma e as usa simplesmente como bode expiatório.

Isto não implica que as agências de notação financeira sejam perfeitas. Longe disso. Há imensos problemas com essas entidades, que é importante debater. São problemas complexos, que precisam de resolução a nível global, e que não se resolvem em cima do joelho.

Alguns pontos em destaque, sem qualquer ordem específica:
- As agências são entidades privadas, cujo capital é detido por outras entidades, que podem ter interesses no que toca aos produtos que são avaliados pelas agências;
- As agências prestavam serviços de consultoria, além de fazerem notações, o que gerava outro conflito de interesses;
- As agências são pagas pelas entidades cujos produtos são avaliados, e não pelos compradores desses produtos, o que pode gerar conflito de interesses - ao mesmo tempo, e apesar de apreciarem que haja avaliações, é pouco credível que os compradores estejam dispostos a pagar por elas;
- As notações das agências têm cariz quase regulatório, porque as avaliações que fazem têm impacto directo no tipo de produtos que são ou não comprados por certo tipo de investidores (ex. há investidores institucionais que só podem, estatutariamente, comprar títulos com a notação máxima);
- As agências falharam em toda a linha durante a crise financeira porque não conseguiram ter em devida conta o risco de mercado na avaliação do risco de crédito - ora, as notações que elas fazem são usadas pelas entidades para definir não apenas em que investir, mas como investir, o que significa o tipo de garantias que procuram obter e como se protegem (trocado por miúdos: durante a crise, havia títulos bem classificados e que levaram várias entidades a comprá-los sem se protegerem devidamente, o que causou problemas de monta quando os títulos se revelaram lixo);
- Não há regulação pública eficaz das agências;
- Se as agências fossem entidades públicas, o problema de conflito de interesses poderia ser colocado ao nível da entidade pública que as financiasse;
- Há muito poucas agências com credibilidade global, o que dá a cada agência uma enorme quantidade de poder sobre o mercado, poder esse que fica sujeito a abusos;
- Há quem fale muito das agências serem americanas, e fale de se criar uma 'agência europeia', mas eu considero que o problema é mesmo estrutural, e que uma 'agência europeia' teria exactamente os mesmos problemas de uma 'agência americana' - e nasceria sempre com um ónus de credibilidade em relação às suas avaliações de produtos europeus, que poderiam ser considerados demasiado simpáticos (o que poderia ter problemas ao nível da agência poder querer 'compensar' isso).

Tudo isto tem de ser debatido convenientemente e têm de se encontrar possíveis soluções. As agências têm um papel importante no sistema financeiro, falharam durante a crise, e desde anúncios às tantas da noite, a previsões de crescimento potencial para este ano superiores às do Governo (com ameaça de downgrade caso não se crescesse aquilo), já se viu de tudo um pouco no que toca à sua relação com Portugal. Mas de novo tenho de referir que isto não implica que não tenhamos de assumir as nossas responsabilidades na crise que nos assola. A nossa crise vai para além da crise financeira. É uma crise económica e social e já vem de antes de 2007-8. É preciso que não nos esqueçamos disso. Só assim é possível mudar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

As célebres reformas estruturais (I)

Vem aí o FEEF, com o FMI. Vem aí um pacote de reformas estruturais. Esse pacote vai ser abrangente, e esperemos que seja abrangente o suficiente. É crucial que se acerte, e que não se tenha medo, porque senão vamos andar anos a implementar medidas dolorosas, mas não vamos atingir os objectivos pretendidos. Há áreas que é possível, e desejável, incluir no pacote de medidas. Aqui ficam algumas ideias gerais de reformas necessárias.

Uma área em que é necessária uma reforma importante em Portugal é a área da Justiça. Portugal é um Estado de Direito, e um sistema judicial justo, célere, eficaz e eficiente é fundamental para garantir esse mesmo Estado de Direito e os direitos fundamentais dos cidadãos. Mais, o facto do nosso sistema judicial não funcionar devidamente tem um impacto extremamente negativo na nossa economia, gerando menor investimento e menor criação de emprego. Tem-se apostado em meios extra-judiciais, o que é meritório, mas é preciso mais. Esta área poderia estar abrangida pelo pacote de medidas. Esperemos que esteja.

Há outra área em que é necessária uma mudança, mas que não vai estar no pacote. Em Portugal, legisla-se muito, em excesso, mesmo. E legisla-se muitas vezes mal, por causa da pressa. Além disso, as constantes alterações legislativas geram instabilidade, precisamente o oposto daquilo que se pretende criar com normas jurídicas, que é um maior grau de certeza. Esta instabilidade tem impactos nefastos no funcionamento do sistema judicial e na própria economia como um todo. O sistema judicial mal tem tempo para aprender a aplicar as regras da mudança anterior quando vem uma nova mudança, gerando-se problemas constantes. Além disso, um sistema legal em permanente mutação significa menos estabilidade e maior risco para as empresas, e portanto menos investimento - veja-se as alterações constantes ao Código do IRC, por exemplo - dado que, mais uma vez, vai haver um período de aprendizagem para as novas regras, as decisões atrasam-se, e depois de repente muda tudo de novo.

É preciso simplificar o nosso sistema fiscal, que é bastante complexo e, demasiadas vezes, pouco intuitivo. Além disso, precisamente por isso e conforme referido acima, está constantemente a ser alterado. Todos os anos se muda uma regra aqui e outra ali, se criam regimes de excepção novos, se criam benefícios fiscais «ad hoc», se revoga sabe-se lá o quê. E todas estas alterações são feitas, demasiadas vezes, sem haver grande contacto com os técnicos que, no dia a dia, têm de aplicar as normas e que, depois, se vêem confrontados com a necessidade de as aplicar. Isto gera custos administrativos demasiado elevados, tornando o Estado menos eficiente, e tornando a nossa economia menos competitiva. É necessário, portanto, simplificar o regime fiscal e envolver os técnicos da Função Pública nesse processo de reforma. Poupar-se-ia assim também dinheiro em consultoras privadas.

Outra reforma necessária, ligada à última frase do parágrafo anterior: é necessário gastar menos dinheiro público com consultoras privadas. Estas devem ser utilizadas quando necessário, não sistematicamente. O Estado deve, sim, pedir aos técnicos que ele próprio emprega que procedam a análises técnicas necessárias para as suas propostas, incluindo propostas de lei. É também para isso que o Estado emprega funcionários públicos. A Função Pública deve servir de apoio técnico independente e isento ao Governo. E nesse sentido, devem desligar-se as cúpulas da Função Pública da nomeação política. Estas devem ser seleccionadas através de concurso público, por exemplo, ou outro método que garanta a qualidade, independência, isenção e apartidarismo das análises técnicas prestados pela Função Pública. Isto significa também que devem existir formações de qualidade na Função Pública, e que se deve aplicar de forma efectiva o sistema de avaliação criado, de forma a haver uma verdadeira gestão por objectivos, uma cultura de avaliação, e prémios para aqueles que efectivamente demonstrem qualidade, competência e mérito no desempenho das suas funções.

Outras reformas são necessárias. Mas ficam para outro dia. É urgente que este momento de crise seja utilizado para repensarmos seriamente como temos feito as coisas até agora. Porque quanto mais depressa o fizermos, e começarmos a implementar mudanças, mais depressa saímos da crise e nos tornamos estruturalmente mais prósperos, criando-se condições para uma melhoria da nossa qualidade de vida.

domingo, 10 de abril de 2011

Debate público e Democracia

O debate público é fundamental em democracia. A troca de ideias é importante para se chegar a uma conclusão informada, para aferir a validade dos argumentos das várias teses em disputa. Parte do dever cívico de cada cidadão é participar activamente neste debate, apresentando as suas ideias, colocando dúvidas, levantando questões, sugerindo soluções.

Em Portugal, temos uma democracia representativa, e eu considero que devemos mantê-la (com alterações, especialmente relativas ao sistema eleitoral). Mas isso não impede que tornemos a nossa democracia mais «participativa». Para que isso aconteça, é necessário termos uma sociedade civil activa e organizada. É também necessário que o direito de petição à Assembleia da República tenha efeitos práticos mais visíveis, e que o nosso regime do referendo seja melhorado.

Fundamentalmente, é necessário que haja debates públicos sérios sobre os problemas estruturais do país, em vez de trocas de acusações e insultos constantes. Os problemas com os quais nos debatemos hoje têm raízes profundas, são bastante complexos (e estão todos interligados; são sistémicos) e há diversas propostas de solução a serem debatidas (mesmo com a vinda do FEEF e do FMI). Continuamente, encontramos distorções das posições da parte contrária, e uma aparente necessidade terrível de não fazer compromissos políticos (e quando se fazem, que não sejam muito vinculativos). (De notar que advogo aqui compromissos em termos de políticas concretas, não que as pessoas devem comprometer os seus princípios.)

Um debate público sobre os problemas do país serve não apenas para tornar claras as diferenças das várias opções, mas também para se encontrarem os pontos comuns. Desses pontos comuns, havendo minorias parlamentares, podem surgir acordos eventuais ou mesmo coligações, de forma a gerar estabilidade governativa. Além disso, o debate público permite um escrutínio das questões de base por parte da população, que fica mais informada sobre os temas, e cada cidadão consegue assim tomar decisões/posições mais informadas relativamente à questão em causa.

A democracia vive de bons debates, quer no Parlamento, quer fora dele. Parte da mudança da qual precisamos passa também por aqui, na qualidade dos debates públicos que (demasiadas vezes não) existem em Portugal.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sacrifícios

Hoje “chegou” o FMI. Isto significa que nos próximos tempos teremos que viver com menos recursos do que estamos habituados (não havia volta a dar, com ou sem FMI). Quando pedimos dinheiro emprestado, chega um dia em que temos que pagar. Para variar, agora vamos ter que trabalhar mais do que consumimos.

Isso não é necessariamente grave. Tudo depende do que abdicarmos para reduzir as despesas que temos.

Até porque, se para um país pequeno como Portugal falar de políticas keynesianas para estimular a economia é ridículo porque grande parte do investimento segue para mãos estrangeiras, felizmente o mesmo se aplica ao eventual impacte negativo de consumirmos menos, que em grande parte não terá efeitos na nossa economia.

Abaixo procuro apontar algumas coisas de que não será particularmente grave, para o nosso bem-estar e liberdade, abdicarmos:

  • Automóveis de luxo
  • Andar de automóvel, quando exista alternativa
  • Perfumes
  • Roupa de marca (que se distinga mais pela marca que pela utilidade)
  • Comida “gourmet”
  • Pacotes de canais de televisão
  • Idas a jogos de futebol, merchandizing futebolístico
  • Playstation
  • Serviços de beleza
  • Barcos
  • Férias de luxo
  • Euromilhões
  • Prendas materiais
  • Mais brinquedos para as crianças
  • Metros-quadrados de casa

Estes objectos de consumo não correspondem em geral a algo que traga mais bem-estar a uma sociedade, porque são supérfluos e porque a satisfação que deles se retira depende do “termo de comparação” relativo ao que os "outros" têm. Se o nível do termo de comparação baixar, como baixará, a satisfação geral das pessoas não sofrerá qualquer dano.

No entanto, uma boa parte dos portugueses poderá vir a ter que abdicar de outro tipo de coisas, essas sim com prejuízos graves para o seu bem-estar e a liberdade. Por exemplo:

  • Alimentação básica
  • Medicamentos, saúde
  • Educação
  • Creche
  • Tempo para a família
  • Limpezas de casa
  • Assistência a idosos
  • Cultura

Seria importante que o esforço que será pedido não penalizasse consumos destes últimos tipos, por motivos óbvios. Se conseguirmos, teremos caminhado, apenas, para uma sociedade mais assertiva na forma como procura a sua felicidade.

Nesse sentido, fazem bastante sentido as críticas ao último PEC4, no qual os cortes eram aplicados igualmente aos mais e menos desfavorecidos. Com a entrada do FMI, a nossa capacidade de influenciar as políticas de redução da despesa e aumento da receita do Estado tenderá a diminuir, embora o nosso futuro Governo o possa tentar influenciar. Tenho esperança de que seja possível fazer uma convergência inteligente.

A terra queimada

 Pode a maldade ser medida? É o interesse instalado do Estado autofágico ao ponto do partido socialista, essa vanguarda partidária da irresponsabilidade e da falta de ética democrática, tão grande que se prefira destruir o país para o próximo governo remediar?
 O governo respondeu: sim.
 Suspender a reestruturação do estado, e as portagens nas SCUT's por dúvidas sobre os poderes do governo de gestão parece ser só o início desta autêntica política da terra queimada. Sim, as reformas do governo PS são insuficientes, estéticas e demagógicas. Mas suspender essa insuficiência e essa estética é elevar a demagogia a um novo nível. Na situação em que o país se encontra por culpa do mesmo partido socialista, paralisar o estado é uma irresponsabilidade que não faz qualquer sentido. Todas as forças relevantes de que o governo "de gestão"  necessita para funcionar (PR e PSD) já afirmaram o seu apoio à manutenção até às eleições de um governo incompetente mas, activo.
 Esta política da terra queimada consiste na passividade do Partido Socialista em governar. Não satisfeito por levar o país à bancarrota, que quer ele mais?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Os mercados não acalmam (III)

Andamos a brincar à contabilidade. Os Governos põem a redução do défice público (por vezes, da dívida pública) como suposta prioridade e depois, através de desorçamentações e truques contabilísticos vários, apontam para um número e dizem: "Vêem, vêem, nós reduzimos o défice!"

Mas depois vamos ver as empresas públicas e estão cheias de dívidas. E temos de ter atenção com a forma de contabilizar as coisas - são contabilizadas como, e quando? Andamos a tentar que as coisas sejam contabilizada de forma 'favorável' (no curto prazo), e depois aponta-se para o número e diz-se: "Vêem, vêem, nós reduzimos o défice!"

Entretanto, a dívida cresce. Alguma, não se vê. E passados uns anos, o amanhã para o qual foram empurrados os problemas, esse amanhã chega. Torna-se hoje. E hoje, temos de pagar. E não temos dinheiro para pagar. Tentamos o que sempre fizemos, empurrar para o futuro. Só que agora, chegou mesmo a altura de cobrar. E quando olhamos para os números outra vez, o que nos dizem é que a dívida pública é imensa, o défice é bem maior do que antes se dizia (mudaram as regras contabilísticas!).

O problema sempre lá esteve, e agora temos de o pagar. E o que toda a gente vê é isso mesmo.