sábado, 8 de março de 2014

A saída da Troika

O fim do PAEF não vai significar senão isso: o PAEF acaba. Não vai iniciar-se um novo ciclo. Não vai, por magia, mudar tudo de um dia para o outro. Não vamos passar a ter as condições que existiam pré-crise, interna ou internacionalmente. E no entanto, o momento da saída da Troika não deixará de ser um momento importante. Terminando a implementação oficial do programa, pode fazer-se um balanço do que foi feito e do que ficou por fazer. Daquilo que se conseguiu e daquilo que não se conseguiu. Um balanço importante para o período pós-PAEF, em que se terá de partir dessa análise para tentar melhorar em relação ao que se fez até agora.

Uma coisa que não se fez até agora e que toda a gente parece supostamente achar muito necessária é a famosa reforma do Estado. O nosso Vice-Primeiro Ministro fez o favor de apresentar um documento em que lançava umas ideias soltas, sem grande fio condutor, no qual, por entre chavões, se encontravam algumas ideias que poderiam ser mais exploradas. Desde então, o relatório sobre a reforma do Estado parece esquecido. Aliás, parece ter sido redigido e apresentado por mera obrigação. Algo feito à pressão, numas horas, em cima do joelho, apenas e só porque tinha sido anunciado que ia sair um relatório.

Que eu tenha reparado, apenas o Prof. Pedro Pita Barros, no seu blogue, levou a sério o relatório apresentado pelo Vice-Primeiro Ministro. As análises não foram mais além porque o documento não o permitia. E infelizmente não surgiu mais nada para densificar o relatório original. E claro, ninguém exigiu a ninguém que fosse mais além. Nem ao Governo, nem à Oposição. Ninguém exigiu ao Governo, e continuou a exigir, que apresentasse mais do que aquilo que apresentou. E ninguém foi atrás dos partidos da oposição para apresentarem alguma coisa que se visse, além das habituais críticas ocas.

A saída da Troika não vai curar nada disto. Apesar de termos um período exigente, não há exigência com quem nos governa e com quem nos quer governar. Análises como as de Marcelo Rebelo de Sousa continuarão a ser debatidas como tendo conteúdo e continuará a ser dada imensa credibilidade aos Nicolaus Santos deste mundo, talvez em busca do novo Artur Baptista da Silva. Continuaremos a ver "liberalismo" confundido com "fascismo". Continuaremos a não ver um debate mediático alargado sobre a UE, apenas mais insultos à Alemanha por entre exigências de que a "Alemanha pague a crise" (a versão a nível europeu de "os ricos que paguem a crise").

Esperamos pela saída da Troika e eu assisto a tudo isto. Assisto a tudo isto e não consigo evitar pensar que estou a assistir ao estrebuchar de um regime que vive de ilusões e de fanfarronices, em que o pavão com o melhor chavão tem o poder na mão - geralmente, quando o pavão anterior cai de podre. Vejo muito a ser feito a tentar manter o mais possível aquilo que já existe, mas não vejo uma tentativa de rejuvenescer, revigorar ou mesmo refundar a democracia portuguesa. E penso que, devendo sempre ser esse o ímpeto, poderia ser o que faríamos após a saída da Troika.  

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