Não
vou neste artigo falar de Margaret Thatcher, mas por ocasião do seu
desaparecimento achei interessante falar do último sobrevivente do
principal trio de líderes nacionais conservadores dos anos 80. Com a
morte de Ronald Reagan em 2004 e agora de Thatcher, falo evidentemente
de Yasuhiro Nakasone, primeiro-ministro japonês de 1982 a 1987.
Membro do Partido Liberal Democrata, Nakasone chega ao poder depois
de uma série de escândalos terem derrubado o antigo homem forte do
LDP, Kakuei Tanaka. O subsequente desentendimento entres as facções
do partido acabaram por levar este político invulgar para a
liderança do governo. As suas tendências nacionalistas esbarraram
desde cedo com as correntes principais da política japonesa, quando
já em 1947 como deputado se absteve de votar a aprovação da nova
constituição. Foi continuamente um crítico da política
preconizada pelo primeiro PM japonês do pós-guerra, Shigeru Yoshida
que procurou libertar o Japão de considerações de defesa ao
prescindir à manutenção de forças armadas permanentes e
dependendo dos Estados Unidos para a sua defesa. Assim poderia
concentrar-se inteiramente na reconstrução e no desenvolvimento
económico. Naturalmente nem o país estava completamente desarmado
nem a suas limitações constitucionais ao rearmamento foram
inteiramente uma opção tomada livremente mas o Japão do pós-guerra
cimentou a imagem de um estado confortavelmente embalado nos braços
das garantias de segurança americanas e sem uma política externa
para além de relações económicas agressivas. Um país portanto
que não se posicionava na vanguarda de assuntos internacionais e que
apenas flutuava com a maré da opinião mundial. Nakasone chega a
primeiro-ministro numa altura em que o sucesso económico japonês
tinha possibilitado um crescente sentimento de orgulho nacional. Os
japoneses sentiam que finalmente tinham alcançado ou mesmo
ultrapassado o ocidente1.
Assim, o novo PM procurou criar uma política externa mais activista
enquanto no plano interno conseguiu projectar a sua personalidade e
moldar a agenda a seu gosto, algo especialmente notório num país
onde o chefe de governo é tendencialmente uma figura muito fraca e
de pouca duração. Nakasone cultivou uma relação bastante próxima
com o então presidente americano Ronald Reagan, uma amizade que
acabou apelidada de “Ron-Yasu” e independentemente das disputas
relativas ao défice comercial Japão-EUA, o país manteve-se um
aliado convicto de Washington. Ao mesmo tempo o seu reinado viu a
criação de fricções com vários dos seus vizinhos asiáticos
quando Nakasone visitou o santuário de Yasukuni na sua capacidade de
primeiro-ministro, o primeiro a fazê-lo desde 1945. No plano interno
o país passou por um raro período em que o governo soube contrariar
os interesses da poderosa burocracia e implementar várias políticas
de desregulação. Ainda hoje é perfeitamente visível um dos seus
principais legados, a omnipresente empresa semi-privada de caminhos
de ferro JR2,
à altura ainda a estatal Japanese National Railways que para muitos
exemplificava a empresa pública monolítica dispendiosa e prestadora
de maus serviços.
Nakasone
Yasuhiro foi sem dúvida um líder japonês invulgar mas as marcas
que acabou por deixar foram menores do que o próprio teria talvez
desejado. A política externa japonesa sofreu alterações cosméticas
(teríamos que esperar até Koizumi para mudanças mais
significativas) e internamente a burocracia reassumiu muito
rapidamente a sua posição dominante durante os governos seguintes.
Muitos dos problemas que ele procurou combater estão ainda hoje na
agenda política do país e não parecem estar mais perto de qualquer
resolução. Os governos continuam extremamente efémeros e os
partidos fortemente dependentes de interesses regionais enquanto o
aparelho burocrático é ainda um elemento decisivo na formulação
de políticas públicas.
1 O
próprio Nakasone foi ouvido a entreter noções semelhantes
quando responsabilizou a diversidade étnica pelo insucesso escolar
americano e apresentou a homogeneidade nipónica como um factor de
sucesso na educação.
2 Na
verdade várias empresas regionais que partilham o mesmo nome.
rick deck hard?
ResponderEliminaré uma troika do d pelo erre?
tukashiro handanagazoza perfeitamente um tipo fino
Muito Bom.
ResponderEliminarNão foi por acaso que o Japão cresceu, o seu ocaso económico também terá a meu ver com as crises de liderança, não apenas do PLD, mas também da sua permanente e imbele oposição do Partido Democrático do Japão.
Abraço