terça-feira, 9 de abril de 2013

Yasuhiro Nakasone


  Não vou neste artigo falar de Margaret Thatcher, mas por ocasião do seu desaparecimento achei interessante falar do último sobrevivente do principal trio de líderes nacionais conservadores dos anos 80. Com a morte de Ronald Reagan em 2004 e agora de Thatcher, falo evidentemente de Yasuhiro Nakasone, primeiro-ministro japonês de 1982 a 1987. Membro do Partido Liberal Democrata, Nakasone chega ao poder depois de uma série de escândalos terem derrubado o antigo homem forte do LDP, Kakuei Tanaka. O subsequente desentendimento entres as facções do partido acabaram por levar este político invulgar para a liderança do governo. As suas tendências nacionalistas esbarraram desde cedo com as correntes principais da política japonesa, quando já em 1947 como deputado se absteve de votar a aprovação da nova constituição. Foi continuamente um crítico da política preconizada pelo primeiro PM japonês do pós-guerra, Shigeru Yoshida que procurou libertar o Japão de considerações de defesa ao prescindir à manutenção de forças armadas permanentes e dependendo dos Estados Unidos para a sua defesa. Assim poderia concentrar-se inteiramente na reconstrução e no desenvolvimento económico. Naturalmente nem o país estava completamente desarmado nem a suas limitações constitucionais ao rearmamento foram inteiramente uma opção tomada livremente mas o Japão do pós-guerra cimentou a imagem de um estado confortavelmente embalado nos braços das garantias de segurança americanas e sem uma política externa para além de relações económicas agressivas. Um país portanto que não se posicionava na vanguarda de assuntos internacionais e que apenas flutuava com a maré da opinião mundial. Nakasone chega a primeiro-ministro numa altura em que o sucesso económico japonês tinha possibilitado um crescente sentimento de orgulho nacional. Os japoneses sentiam que finalmente tinham alcançado ou mesmo ultrapassado o ocidente1. Assim, o novo PM procurou criar uma política externa mais activista enquanto no plano interno conseguiu projectar a sua personalidade e moldar a agenda a seu gosto, algo especialmente notório num país onde o chefe de governo é tendencialmente uma figura muito fraca e de pouca duração. Nakasone cultivou uma relação bastante próxima com o então presidente americano Ronald Reagan, uma amizade que acabou apelidada de “Ron-Yasu” e independentemente das disputas relativas ao défice comercial Japão-EUA, o país manteve-se um aliado convicto de Washington. Ao mesmo tempo o seu reinado viu a criação de fricções com vários dos seus vizinhos asiáticos quando Nakasone visitou o santuário de Yasukuni na sua capacidade de primeiro-ministro, o primeiro a fazê-lo desde 1945. No plano interno o país passou por um raro período em que o governo soube contrariar os interesses da poderosa burocracia e implementar várias políticas de desregulação. Ainda hoje é perfeitamente visível um dos seus principais legados, a omnipresente empresa semi-privada de caminhos de ferro JR2, à altura ainda a estatal Japanese National Railways que para muitos exemplificava a empresa pública monolítica dispendiosa e prestadora de maus serviços.
  Nakasone Yasuhiro foi sem dúvida um líder japonês invulgar mas as marcas que acabou por deixar foram menores do que o próprio teria talvez desejado. A política externa japonesa sofreu alterações cosméticas (teríamos que esperar até Koizumi para mudanças mais significativas) e internamente a burocracia reassumiu muito rapidamente a sua posição dominante durante os governos seguintes. Muitos dos problemas que ele procurou combater estão ainda hoje na agenda política do país e não parecem estar mais perto de qualquer resolução. Os governos continuam extremamente efémeros e os partidos fortemente dependentes de interesses regionais enquanto o aparelho burocrático é ainda um elemento decisivo na formulação de políticas públicas.



1  O próprio Nakasone foi ouvido a entreter noções semelhantes quando responsabilizou a diversidade étnica pelo insucesso escolar americano e apresentou a homogeneidade nipónica como um factor de sucesso na educação.
2  Na verdade várias empresas regionais que partilham o mesmo nome.   

2 comentários:

  1. rick deck hard?

    é uma troika do d pelo erre?

    tukashiro handanagazoza perfeitamente um tipo fino

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  2. Muito Bom.
    Não foi por acaso que o Japão cresceu, o seu ocaso económico também terá a meu ver com as crises de liderança, não apenas do PLD, mas também da sua permanente e imbele oposição do Partido Democrático do Japão.
    Abraço

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