Não há acordo, como era expectável.
De qualquer forma, o PS podia ter poupado o país a uma semana de negociações e ter dito expressamente que não aceitava negociar.
A leitura do seu documento de 'salvação nacional' mostra como não existiu qualquer tentativa de aproximar posições com PSD e CDS. Inclui uma secção de três parágrafos sobre reforma do Estado, inclui uma secção maior sobre 'governabilidade' em que se fala do facto do PS querer uma maioria absoluta e da importância teórica do compromisso - que o PS diz praticar mas tornou claro que não pratica.
Por outro lado, todo o documento do PS ignora, por completo, a existência da 'troika'. Continua com a noção mirífica de que Portugal vai impor condições à 'troika' para continuar tudo na mesma, aliás provavelmente voltando atrás com cortes na despesa que já foram feitos. Isto num momento em que o que está em causa é precisamente cortes na despesa e reforma do Estado.
Como disse, o PS podia ter poupado o país a uma semana de 'negociações' em que aquilo que ficou claro foi o seu desinteresse em participar em negociações com a 'troika' e depois sujeitar-se aos resultados das negociações. Isto é um dado importante. Deviam perguntar claramente a António José Seguro qual a razão pela qual o PS não se presta a participar nas reuniões com a 'troika' desde já, apresentando todas as suas 'soluções', que diz que conseguiria impor se fosse Governo.
Por outro lado, é significativo que o PS nem se tenha dignado a responder positivamente a uma carta em que o PSD pediu que elencasse aquilo em que considerava poder haver acordo, tal como é significativo que o PS tenha exigido que só houvesse acordo se houvesse acordo em relação a tudo. Tal como é relevante que o PS tenha apresentado cópias de passagens do seu 'Documento de Coimbra'.
Mas mais: olhando para o documento do PS, mal se entende que não tenha negociado com BE e PCP. O BE convidou-o a negociar, o PS recusou e, muito ironicamente, acusou o BE de fazer 'jogos partidários'. Da mesma forma que foi com fina ironia que acusou PSD e CDS-PP de terem culpa do fim, sem sucesso, de negociações para as quais partiu sem qualquer interesse em ceder.
Quanto ao PSD, queria acordos relativamente a memorando com a 'troika' e orçamentos até 2014, numa perspectiva de estabilidade. Claro que o PS não quis assumir o ónus das medidas que iriam ser tomadas, nem quis assumir o ónus de negociar com a 'troika'. Porque aí iria demonstrar o enorme 'bluff' que é o seu Documento de Coimbra, e que o que podemos esperar de António José Seguro é que se transforme numa versão ainda menor do pequeno François Hollande, Presidente francês de quem António José Seguro é fã, e cuja popularidade e sucesso em França tem sido extremamente reduzido.
De qualquer forma, o ponto fundamental foi este: a crise não ficou resolvida, o Governo saiu fragilizado (embora, na minha opinião, e contra-corrente possivelmente, penso que o Primeiro Ministro tem conseguido gerir a crise o melhor possível) e agora não sabemos exactamente o que vai acontecer a seguir. Vamos ter de esperar pela próxima comunicação do Presidente da República, que devia ter sido hoje, mas que vai ter lugar amanhã.
Nessa intervenção, o Presidente da República devia aceitar, agora, a remodelação governamental proposta pelo Governo, com atraso inútil por si causado e por António José Seguro rematado. Existe maioria parlamentar, como se viu na moção de censura do PEV, e essa maioria parlamentar deve continuar a existir.
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