Parece haver um gosto imenso pela discussão de símbolos. As medidas simbólicas são elevadas ao estatuto de fundamentais, enquanto a sua (falta de) eficácia na resolução dos nossos problemas reais é essencialmente ignorada. Também ignorada é a (falta de) eficácia prática das medidas simbólicas e/ou potenciais efeitos perniciosos.
Nada disto interessa. Interessam sempre os símbolos, na sua versão utópica e moralista. As grandes questões de finanças públicas, política económica e de política são reduzidas a grandes narrativas épicas e simplistas de confronto entre o Bem e o Mal. A crise é reduzida a um conjunto de conspirações. E as soluções escondidas são apresentadas como estando ao virar da esquina.
Os discursos moralistas pululam. De dedo em riste e tom pesado, os profetas do simbólico peroram sobre a superioridade moral de várias medisas simbólicas e deles próprios. E as medidas simbólicas tornam-se o centro das discussões.
Em vez de debatermos o sistema eleitoral como um todo, discutimos o número de deputados. Em vez de discutirmos o papel do Estado na sociedade, discutimos os automóveis do PS. E pouco ou nada discutimos a renegociação das PPP que está a ser feita, ou a gestão de recursos na Saúde.
Pouco ou nada importa a eficácia prática das medidas. Interessam sempre os símbolos. Que não se comem e pouco resolvem. Mas que tanta importância têm para a percepção que temos do que vai sendo feito.