domingo, 14 de outubro de 2012

Eficácia prática e simbolismo (I)

Parece haver um gosto imenso pela discussão de símbolos. As medidas simbólicas são elevadas ao estatuto de fundamentais, enquanto a sua (falta de) eficácia na resolução dos nossos problemas reais é essencialmente ignorada. Também ignorada é a (falta de) eficácia prática das medidas simbólicas e/ou potenciais efeitos perniciosos.

Nada disto interessa. Interessam sempre os símbolos, na sua versão utópica e moralista. As grandes questões de finanças públicas, política económica e de política são reduzidas a grandes narrativas épicas e simplistas de confronto entre o Bem e o Mal. A crise é reduzida a um conjunto de conspirações. E as soluções escondidas são apresentadas como estando ao virar da esquina.

Os discursos moralistas pululam. De dedo em riste e tom pesado, os profetas do simbólico peroram sobre a superioridade moral de várias medisas simbólicas e deles próprios. E as medidas simbólicas tornam-se o centro das discussões.

Em vez de debatermos o sistema eleitoral como um todo, discutimos o número de deputados. Em vez de discutirmos o papel do Estado na sociedade, discutimos os automóveis do PS. E pouco ou nada discutimos a renegociação das PPP que está a ser feita, ou a gestão de recursos na Saúde.

Pouco ou nada importa a eficácia prática das medidas. Interessam sempre os símbolos. Que não se comem e pouco resolvem. Mas que tanta importância têm para a percepção que temos do que vai sendo feito.

2 comentários:

  1. a renegociação das PPP que está a ser feita

    Está? Eu não tenho tal impressão.

    O que me parece é que o governo simplesmente cortou alguns dos encargos das PPP. Não renegociou: apenas cortou no caderno de encargos e, correlativamente, no custo.

    Suponhamos que eu tenho uma empregada que trabalha para mim oito horas por dia e a quem pago 800 euros por mês. Renegociar com ela seria fazer com que ela aceitasse trabalhar o mesmo por apenas 700 euros por mês. Uma coisa completamente distinta é combinar com ela que passa a trabalhar apenas 5 horas por dia e eu passo a pagar-lhe 600 euros por mês. Numa tal combinação, eu poupo aparentemente dinheiro, mas cada hora de trabalho dela passa a sair-me mais cara.

    Tenho a impressão de que aquilo que o governo tem feito tem sido, basicamente, isto.

    ResponderEliminar
  2. Luís, não vou entrar numa grande discussão sobre semântica, mas basta dizer que em ambos os casos que apresenta existe uma renegociação dos termos do contrato, que passam a ser diferentes dos termos originais. Quanto ao que o Governo anda a fazer em relação às PPP, prefiro ler mais sobre o tema antes de dizer mais do que o que já disse.

    ResponderEliminar