O que é bom é dar a mais terrível interpretação possível a um conjunto de frases emitidas por alguém em público como forma de afirmar a inferioridade moral e intelectual dessa pessoa e a superioridade moral e intelectual do intérprete. O que é bom é ser mesquinho e lançar ataques passivo-agressivos a toda a gente que não venha a público com o discurso mais banal, trivial e pré-preparado de sempre - e mesmo aí, basta ver o discurso de Natal do PM para ver que nem isso pode ser suficiente.
O resultado é um discurso público vazio de conteúdo e pouco imaginativo, em que um dos temas em debate é a razão para o vazio e falta de imaginação do nosso debate público. Tritura-se quem pareça ter uma ideia da narrativa base que se tornou politicamente correcta e eleva-se à condição de santo ou novo profeta quem mais se aproximar daquilo que se quer ouvir.
A Plataforma para o Crescimento Sustentável, um think tank digno desse nome liderado por Jorge Moreira da Silva, lançou recentemente um relatório que pouca atenção mediática recebeu. C este relatório, temos a situação de um thibk tank independente mas liderado por um VP do PSD ter um programa económico e o principal partido da oposição não. Mas só se falou de uma medida desse relatório, o imposto sobre o carbono, e mesmo assim pela rama.
Não nos limitamos a tratar temas sérios de forma alarve. Também é hábito tratar de forma séria temas alarves, como a utilização do Facebook pelo PM e pelo Presidente da República. O conteúdo é distorcido e a importância da forma é exacerbada. O debate é dominado pela histeria e superioridade moral de florzinhas de estufa, da Esquerda à Direita, que elevam as coisas mais irrelevantes à condição do mais horrível e escabroso insulto.
Isabel Jonet foi transformada na encarnação do mal. Um parecer ético sobre tratamentos médicos tornou-se controverso porque foi discutido com base em comentários desinformados sobre comentários histéricos, e não sobre o parecer. As banalidades triviais, ou mesmo erros grosseiros, de figuras públicas recebem atenção acrítica - não é preciso gastar dinheiro em publicidade quando a comunicação social a faz de graça. Ser comentador perdeu todo o signficado quando gente como João Lemos Esteves recebe um blogue no Expresso.
A hermenêutica da histeria aliada ao culto do vazio envenam o nosso debate público e ajudam a condicionar a opinião pública. Mas isto combate-se dentro do contexto da liberdade de expressão. À expressão dos outros respondemos com a nossa. O debate de ideias faz-se disto mesmo. E é parte da força das democracias liberais.
"Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade." - Alexandre Herculano
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domingo, 30 de dezembro de 2012
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Até o CL sucumbe à metafilosofia da bica
Isabel Jonet não disse nada de útil naqueles minutos "horribilis". Disparou meia dúzia de "truísmos" moralistas cuja carapuça servirá concerteza a muitos, porém certamente a sua visão do que são os grandes desafios do país não passa pela redução do consumo de bifes. Não é propriamente algo raro na cena do "debate" público que pessoas com os melhores backgrounds dediquem tempo na imprensa a conversa de café, pelo que em condições normais aquele momento seria alvo da chacota de quem estivesse por acaso refastelado no sofá a ver a 5 naquela noite e nada mais.
Mais non! Meia dúzia de youtube's e petições online depois, já aquilo se transformara num "episódio" ou mesmo num "caso" que surge como um dos hot topics da semana, sendo motivo de profunda indignação por parte de indignados profissionais e amadores. Editoriais, artigos de opinião, notícias, comentários, cartas abertas de três páginas, blogs de indignados, blogs de dignados (ups, mea culpa aqui), "a fúria das redes sociais", enfim, uma discussão nacional profunda toma lugar sobre uma questão crucial e fracturante.
Mais non! Meia dúzia de youtube's e petições online depois, já aquilo se transformara num "episódio" ou mesmo num "caso" que surge como um dos hot topics da semana, sendo motivo de profunda indignação por parte de indignados profissionais e amadores. Editoriais, artigos de opinião, notícias, comentários, cartas abertas de três páginas, blogs de indignados, blogs de dignados (ups, mea culpa aqui), "a fúria das redes sociais", enfim, uma discussão nacional profunda toma lugar sobre uma questão crucial e fracturante.
"Está-se a aproveitar da posição de presidente do Banco Alimentar para fazer política!", dizem uns escrevem uns em cartas abertas de três páginas. Isto é, há quem pense que dizer que "no meu tempo lavava-se os dentes com o copo", ou "temos que nos habituar a viver com menos", em Portugal é fazer política.
Dito de outra forma, chegamos a um momento curioso em que conversas nos cafés, táxis, caixas de comentário de sites de jornais, grupos de Facebook indignados e outros afins, se dedicam a analisar, debater e criticar a conversa dos cafés, táxis, caixas de comentários, etc. Ainda que a metafilosofia da bica pingada seja sem dúvida estimulante e salutar do ponto de vista teórico, parece-me algo improdutiva no presente contexto de emergência.
É a histeria de que aqui já falou o João a seguir o seu caminho alegremente. E já são palavras a mais gastas com isto, também aqui no CL.
É a histeria de que aqui já falou o João a seguir o seu caminho alegremente. E já são palavras a mais gastas com isto, também aqui no CL.
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