domingo, 30 de dezembro de 2012

A hermenêutica da histeria e o culto do vazio

O que é bom é dar a mais terrível interpretação possível a um conjunto de frases emitidas por alguém em público como forma de afirmar a inferioridade moral e intelectual dessa pessoa e a superioridade moral e intelectual do intérprete. O que é bom é ser mesquinho e lançar ataques passivo-agressivos a toda a gente que não venha a público com o discurso mais banal, trivial e pré-preparado de sempre - e mesmo aí, basta ver o discurso de Natal do PM para ver que nem isso pode ser suficiente.

O resultado é um discurso público vazio de conteúdo e pouco imaginativo, em que um dos temas em debate é a razão para o vazio e falta de imaginação do nosso debate público. Tritura-se quem pareça ter uma ideia da narrativa base que se tornou politicamente correcta e eleva-se à condição de santo ou novo profeta quem mais se aproximar daquilo que se quer ouvir.

A Plataforma para o Crescimento Sustentável, um think tank digno desse nome liderado por Jorge Moreira da Silva, lançou recentemente um relatório que pouca atenção mediática recebeu. C este relatório, temos a situação de um thibk tank independente mas liderado por um VP do PSD ter um programa económico e o principal partido da oposição não. Mas só se falou de uma medida desse relatório, o imposto sobre o carbono, e mesmo assim pela rama.

Não nos limitamos a tratar temas sérios de forma alarve. Também é hábito tratar de forma séria temas alarves, como a utilização do Facebook pelo PM e pelo Presidente da República. O conteúdo é distorcido e a importância da forma é exacerbada. O debate é dominado pela histeria e superioridade moral de florzinhas de estufa, da Esquerda à Direita, que elevam as coisas mais irrelevantes à condição do mais horrível e escabroso insulto.

Isabel Jonet foi transformada na encarnação do mal. Um parecer ético sobre tratamentos médicos tornou-se controverso porque foi discutido com base em comentários desinformados sobre comentários histéricos, e não sobre o parecer. As banalidades triviais, ou mesmo erros grosseiros, de figuras públicas recebem atenção acrítica - não é preciso gastar dinheiro em publicidade quando a comunicação social a faz de graça. Ser comentador perdeu todo o signficado quando gente como João Lemos Esteves recebe um blogue no Expresso.

A hermenêutica da histeria aliada ao culto do vazio envenam o nosso debate público e ajudam a condicionar a opinião pública. Mas isto combate-se dentro do contexto da liberdade de expressão. À expressão dos outros respondemos com a nossa. O debate de ideias faz-se disto mesmo. E é parte da força das democracias liberais.

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