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sábado, 16 de julho de 2011

Comunicação Social e Sabedoria Convencional

O João Bernardino já aqui falou da sabedoria convencional. Como diz no seu artigo, «[a] sabedoria convencional corresponde àquelas ideias feitas, presentes no senso comum da generalidade da sociedade, que são tidas como verdades inquestionáveis. Frequentemente penetram o suficiente nas crenças comuns para que quem as tente contestar passe por insano.»

Uma forma pela qual a informação que se transformará em sabedoria convencional se dissemina é a comunicação social. Certa ideia, já ideia feita para certos opinion makers, é todos os dias apresentada às pessoas como verdadeira. Para a comentar são chamadas pessoas (consideradas «autoridades») que já concordam com essa ideia.

Para analisar a ideia, são também chamadas pessoas que concordem com ela. As perguntas que são feitas a esses «peritos», que por vezes são não são peritos naquilo que estão a falar (o exemplo máximo é o Prof Marcelo Rebelo de Sousa, que quase é apresentado como perito em tudo), são fáceis de responder e raramente põem em causa a ideia que está em análise. Aliás, por vezes até são formas de a reforçar.

A ideia começa então a propagar-se rapidamente. Televisão e jornais dão-lhe eco. A análise é muitas vezes empacotada de forma a ser servida em cinco minutos que nada aprofundam a questão. E a ideia entra no inconsciente colectivo, tornando-se conhecimento convencional, uma ideia feita irrefutável, credenciada pelas «autoridades» chamadas a comentá-la. (Basta ver o que tem acontecido relativamente à Moody's.)

Já aqui falei da importância do debate público em democracia. Esse debate deve ser vivo. Devem confrontar-se os vários pontos de vista. Os argumentos de ambos os lados devem ser analisados e escrutinados. Deve haver mais do que ecos constantes de ideias feitas consideradas impossíveis de refutar, associadas a um culto da autoridade que nada ajuda o debate.

A comunicação social tem impacto fundamental na formação das opiniões das pessoas. Deve funcionar como catalisador de um debate público vigoroso. Não pode servir apenas para criar, e disseminar, sabedoria convencional.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sabedoria convencional

O termo sabedoria convencional (conventional wisdom) foi disseminado no vocabulário americano a partir do ano de 58 pelo eminente economista John Kenneth Galbraith, após a publicação do livro mais vendido de sempre na área da economia, The Affluent Society. A sabedoria convencional corresponde àquelas ideias feitas, presentes no senso comum da generalidade da sociedade, que são tidas como verdades inquestionáveis. Frequentemente penetram o suficiente nas crenças comuns para que quem as tente contestar passe por insano.

Possivelmente o caso maior de sabedoria convencional falsa na história do homem foi a criação do homem por Deus. Nem o primeiro grande defensor da liberdade da era moderna, John Locke, escapava a esta ideia feita nas sua argumentação:

“Além de não poder prejudicar ninguém, cada um é obrigado a conservar a sua vida. Porquê? Porque o homem é a obra de Deus. E a obra deve durar o tempo que o grande obreiro desejar.”

Com o tempo, a persistência dos desafiadores das ideias feitas, e o aumento das capacidades intelectuais dos indivíduos, a sabedoria convencional tenderá a estar menos centrada em verdades falsas. Mas elas continuam entre nós.

Esta semana fui com alguns colegas deste blog assistir ao Prós e Contras da RTP sobre a situação actual dos jovens em Portugal. Algumas das ideias feitas que ainda estão presentes entre nós tornaram-se ali evidentes:

  • Dar garantias ao trabalhador garante que não há desemprego, e dá mais segurança à generalidade dos trabalhadores
  • O Estado é o principal responsável pelo bom desenvolvimento da economia
  • O Estado pode criar empregos
  • Ter um curso superior é uma garantia de emprego e de uma vida boa

São crenças ainda bastante próprias da sociedade portuguesa, por comparação a outros países desenvolvidos, e certamente decorrentes do nosso contexto histórico do século XX. No entanto, o simples facto de terem sido temas ali discutidos, e as ideias contestadas por alguns dos oradores, indicia que – apesar do cepticismo manifestado por uma parte da assistência – são ideias feitas em decadência na nossa sociedade do século XXI.