O João Bernardino já aqui falou da sabedoria convencional. Como diz no seu artigo, «[a] sabedoria convencional corresponde àquelas ideias feitas, presentes no senso comum da generalidade da sociedade, que são tidas como verdades inquestionáveis. Frequentemente penetram o suficiente nas crenças comuns para que quem as tente contestar passe por insano.»
Uma forma pela qual a informação que se transformará em sabedoria convencional se dissemina é a comunicação social. Certa ideia, já ideia feita para certos opinion makers, é todos os dias apresentada às pessoas como verdadeira. Para a comentar são chamadas pessoas (consideradas «autoridades») que já concordam com essa ideia.
Para analisar a ideia, são também chamadas pessoas que concordem com ela. As perguntas que são feitas a esses «peritos», que por vezes são não são peritos naquilo que estão a falar (o exemplo máximo é o Prof Marcelo Rebelo de Sousa, que quase é apresentado como perito em tudo), são fáceis de responder e raramente põem em causa a ideia que está em análise. Aliás, por vezes até são formas de a reforçar.
A ideia começa então a propagar-se rapidamente. Televisão e jornais dão-lhe eco. A análise é muitas vezes empacotada de forma a ser servida em cinco minutos que nada aprofundam a questão. E a ideia entra no inconsciente colectivo, tornando-se conhecimento convencional, uma ideia feita irrefutável, credenciada pelas «autoridades» chamadas a comentá-la. (Basta ver o que tem acontecido relativamente à Moody's.)
Já aqui falei da importância do debate público em democracia. Esse debate deve ser vivo. Devem confrontar-se os vários pontos de vista. Os argumentos de ambos os lados devem ser analisados e escrutinados. Deve haver mais do que ecos constantes de ideias feitas consideradas impossíveis de refutar, associadas a um culto da autoridade que nada ajuda o debate.
A comunicação social tem impacto fundamental na formação das opiniões das pessoas. Deve funcionar como catalisador de um debate público vigoroso. Não pode servir apenas para criar, e disseminar, sabedoria convencional.
Sem comentários:
Enviar um comentário