quinta-feira, 3 de março de 2011

Sabedoria convencional

O termo sabedoria convencional (conventional wisdom) foi disseminado no vocabulário americano a partir do ano de 58 pelo eminente economista John Kenneth Galbraith, após a publicação do livro mais vendido de sempre na área da economia, The Affluent Society. A sabedoria convencional corresponde àquelas ideias feitas, presentes no senso comum da generalidade da sociedade, que são tidas como verdades inquestionáveis. Frequentemente penetram o suficiente nas crenças comuns para que quem as tente contestar passe por insano.

Possivelmente o caso maior de sabedoria convencional falsa na história do homem foi a criação do homem por Deus. Nem o primeiro grande defensor da liberdade da era moderna, John Locke, escapava a esta ideia feita nas sua argumentação:

“Além de não poder prejudicar ninguém, cada um é obrigado a conservar a sua vida. Porquê? Porque o homem é a obra de Deus. E a obra deve durar o tempo que o grande obreiro desejar.”

Com o tempo, a persistência dos desafiadores das ideias feitas, e o aumento das capacidades intelectuais dos indivíduos, a sabedoria convencional tenderá a estar menos centrada em verdades falsas. Mas elas continuam entre nós.

Esta semana fui com alguns colegas deste blog assistir ao Prós e Contras da RTP sobre a situação actual dos jovens em Portugal. Algumas das ideias feitas que ainda estão presentes entre nós tornaram-se ali evidentes:

  • Dar garantias ao trabalhador garante que não há desemprego, e dá mais segurança à generalidade dos trabalhadores
  • O Estado é o principal responsável pelo bom desenvolvimento da economia
  • O Estado pode criar empregos
  • Ter um curso superior é uma garantia de emprego e de uma vida boa

São crenças ainda bastante próprias da sociedade portuguesa, por comparação a outros países desenvolvidos, e certamente decorrentes do nosso contexto histórico do século XX. No entanto, o simples facto de terem sido temas ali discutidos, e as ideias contestadas por alguns dos oradores, indicia que – apesar do cepticismo manifestado por uma parte da assistência – são ideias feitas em decadência na nossa sociedade do século XXI.

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