Rodrigo Moita de Deus escreve no 31 da Armada. Costuma ter piada. A maior parte do que faz no blogue é dizer coisas engraçadas mas sem grande conteúdo. Dá para rir, geralmente. Esperar-se-ia que Rodrigo Moita de Deus tivesse mais conteúdo que o que evidencia nos seus vídeos satíricos e nas piadinhas que vai lançando no blogue.
Pelos vistos, no entanto, Rodrigo Moita de Deus acha que a ladainha simplista sobre a crise que nos sufoca é de alguma forma algo a promover fora de portas. Não satisfeito por a população portuguesa ser sujeita a análises sofríveis sobre a crise, e ser estereotipada, Rodrigo Moita de Deus decidiu, inspirado pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, fazer um filme cheio de erros factuais, de qualidade técnica sofrível mesmo do ponto de vista de um verdadeiro amador, em que os portugueses são estereotipados pelo próprio filme (ironia das ironias) e apresentados no seu pior.
Aquilo que me aborrece mais nisto tudo é que Rodrigo Moita de Deus é dirigente no PSD. Tem responsabilidades num partido que é o maior partido da maioria que sustenta o Governo. E o conteúdo passivo-agressivo daquele filme, que eu presumo reproduza as ideias defendidas por Rodrigo Moita de Deus, é de bradar aos céus. Será possível que Rodrigo Moita de Deus seja assim tão oco que verdadeiramente acredita naquelas coisas? Será que é isto o melhor que podemos esperar de um dirigente do PSD e de um antigo Líder da Oposição da área social democrata (Marcelo Rebelo de Sousa)?
Podiam ter lançado um concurso para que pessoas fizessem filmes a promover Portugal, e depois escolhido os melhores. Podiam ter lançado o projecto num «site» de «crowdfunding» para terem dinheiro para fazerem um filme com maior qualidade técnica. Podiam ter feito um filme que mostrasse que havia ali ideias, que havia ali alguma pesquisa que ia para além dos títulos e das capas dos tablóides. Podiam ter simplesmente posto o vídeo na Internet, em vez de tentar passá-lo no meio de Berlim (e depois enviar cartas de protesto ao embaixador da Alemanha quando isto não foi admitido - para grande sorte dos portugueses).
Rodrigo Moita de Deus pensa mesmo aquilo que está naquele filme? Marcelo Rebelo de Sousa pensa mesmo aquilo que está naquele filme? É isto que eles acham que teria piada representar Portugal? É isto que eles acham do que se passou nos últimos 10 anos (para não ir mais longe...) em Portugal? É isto que eles pensam da «troika»? Se é, fico esclarecido - as opiniões daquelas duas pessoas resumem-se ao que leram apressadamente em blogues e em artigos de opinião, e não em investigações sérias sobre o que se está a passar em Portugal, na Europa e no mundo. Se não é, fico na dúvida da razão para acharem que fazer um filme com aquele conteúdo ajudaria Portugal junto da opinião pública alemã.
Entretanto, Angela Merkel visitou o país e deu o seu apoio ao Governo. Disse ainda que o Governo alemão ajudaria Portugal a criar o seu banco de fomento (o tal que tanto PSD como PS querem criar). E convém lembrar que o Governo alemão tem apoiado um imposto sobre as transacções financeiras (o tal que o PSD e o PS querem) a nível europeu. François Hollande, entretanto, fez uma desvalorização fiscal (ninguém foi perguntar a António José Seguro o que pensava sobre o tema). E o PS acusou o Governo de «subserviência» face a Angela Merkel (como sempre) e queria ser convidado para falar com a Chanceler (a que título, não sabemos).
Alguém lembre o PS de que estão na Oposição e que não são por inerência convidados a falar com a Chanceler da Alemanha quando esta visita Portugal - e já que queriam tanto, podiam ter pedido (por carta, naturalmente, que no PS faz-se tudo por carta, posteriormente publicada no Facebook). Alguém lembre o PS de que da última vez que foram convidados a falar com alguém sobre temas sérios, nomeadamente os cortes de 4000 milhões a preparar até Fevereiro do ano que vem, o PS lavou daí as suas mãos. E alguém lembre ao PS que ainda recentemente visitaram a França para falar com François Hollande e tratam François Hollande (que aplica austeridade e desvalorizações fiscais em França) como se fosse o último grande herói - também se vão acusar a si próprios de subserviência?
De facto, é bem provável e bem possível que Rodrigo Moita de Deus pense mesmo aquilo que está naquele filme. Que um dirigente do PSD e um dos principais fazedores de opinião do país, Marcelo Rebelo de Sousa, de facto pensem que aquilo que puseram naquele filme, de forma «satírica», tem subjacente uma análise séria da situação em que nos encontramos. E sendo isto verdade, é um sintoma claro da fraca qualidade do nosso debate público, porque a análise subjacente àquele filme é do menos séria e do mais simplista, demagógica e populista que se pode encontrar.
Por outro lado, dão-me esperança algumas críticas que li àquele filme. E quanto mais depressa passarmos deste filme a propostas concretas de corte de despesa, melhor. Quanto mais depressa passarmos deste filme para o Governo vir anunciar ideias específicas e fundamentadas e sustentadas para a reforma do Estado, melhor. E quanto menos filmes Rodrigo Moita de Deus e Marcelo Rebelo de Sousa quiserem no futuro projectar na Praça Sony em Berlim, melhor também.
"Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade." - Alexandre Herculano
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terça-feira, 13 de novembro de 2012
domingo, 11 de novembro de 2012
Um vídeo para esquecer
Tive a infelicidade de assistir, do início ao fim, ao vídeo que Marcelo Rebelo de Sousa lançou e no qual Rodrigo Moita de Deus ajudou. (Pode ser visto, por exemplo, aqui, em alemão, e aqui, em português.)
Esteticamente, o amadorismo é patente. Músicas várias rapidamente cortadas servem de banda sonora a um conjunto de figuras sorridentes e de estereótipos que avançam em direcção a uma câmara que se afasta. A meu ver, palavras como «foleiro», «piroso» e sinónimos são perfeitamente aplicáveis.
Mas o pior do filme não é a parte estética, por muito má que esta seja. É mesmo a narração. É o conteúdo programático no filme, que supostamente devia ajudar-nos a conquistar a opinião pública alemã, mas que não tem rigorosamente nada a ver com a opinião pública alemã. Não, tem tudo a ver com a opinião pública portuguesa.
O conteúdo do filme é a ladaínha que comentadores vários vão despejando sobre leitores de jornais ou espectadores de programas de televisão cá em Portugal. Nada naquele vídeo tem alguma coisa a ver com alemães ou com preocupações alemãs. É um vídeo feito por portugueses para portugueses, que por algum motivo que me escapa ia, se projectado na Praça Sony em Berlim, servir para de alguma forma ajudar em alguma coisa.
Na minha opinião, aquele filme, projectado na Praça Sony, serviria para cobrir o país inteiro de ridículo, não ajudaria nada a conquistar a opinião pública alemã, e ajudaria a reforçar estereótipos sobre os portugueses. Porque é que os alemães deveriam levar a sério um filme a tentar ser engraçado feito por portugueses com comparações quase passivo-agressivas com a Alemanha, e com culpabilizações da Alemanha, ao mesmo tempo falando em «solidariedade» quando a Alemanha já nos está a emprestar dinheiro?
Aquele filme representa aquilo que várias pessoas em Portugal gostariam de dizer aos alemães, por razões que a elas pertencem. Mas não tem nada em atenção as preocupações alemãs. Não tem em atenção as sensibilidades alemãs. Em suma, está-se completamente nas tintas para o seu suposto público alvo. Poderá receber muitos aplausos entre alguns portugueses que com aquela mensagem se identifiquem, mas em que é que interessaria verdadeiramente a alemães?
Aliás, a mensagem do filme podia bem ser levada bastante a mal por vários alemães, que não gostariam necessariamente (eufemismo) de lhes serem atiradas à cara as «lembranças» em relação à Alemanha que o filme contém. Um filme que tem por objectivo convencer alemães a apoiarem Portugal tratar os alemães da forma aquele filme faz, cheio de recadinhos e mensagens quase passivo-agressivas, não parece ter por verdadeiro objectivo convencer alemães. Facilmente aquilo era interpretado como pouco mais que um julgamento à Alemanha.
A utilização da imagem do Muro de Berlim no final do filme da forma que é usada apenas serve para mostrar a vacuidade daquele projecto. Um apelo a um símbolo de verdadeira divisão e ao fim da Guerra Fria, como se o que se passa agora e a Guerra Fria fossem tão linearmente comparáveis. A evocação do discurso «Ich bin ein Berliner» quando o objectivo é que a Alemanha quase que despeje dinheiro em Portugal sem quaisquer constrangimentos, e ao mesmo tempo que sempre que o Governo alemão diz alguma coisa, é apresentando como um demónio por ser supostamente neo-imperalista.
Aquele vídeo é um bom símbolo daquilo que vai mal na política portuguesa, em que comentadores tratam assuntos complexos pela rama, criando narrativas simplistas e demagógicas sobre a crise. Em que conversa fiada é tomada como «sensibilidade social» e em que as análises se centram no tacticismo político e não na substância das medidas. (Editado: E em que vídeos «giros» de propaganda que ignoram as preocupações alemãs mas visam alemães, e lhes tentam atirar à cara a ladaínha mediática portuguesa, são apresentados, e vistos, como forma de ajudar o país.)
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Vídeos na Praça Sony não resolvem problemas
Quando ouvi pela primeira vez falar da ideia de Marcelo Rebelo de Sousa de criar um pequeno vídeo «promocional» sobre Portugal para passar na Alemanha, na senda do vídeo relativo à Finlândia, tive a mesma reacção que tive em relação ao vídeo inspirador: que era uma ideia sem particular interesse e não nos ia ajudar a resolver os nossos problemas. Imaginei que quisessem passá-la na televisão ou pôr o vídeo na Internet, que ia ser história para um dia, e depois ia ser votado a um merecido esquecimento.
Pelos vistos, o objectivo era passar o tal vídeo numa das principais praças de Berlim. Felizmente, não foram autorizados a fazê-lo. Longe de promover Portugal, aquele vídeo, então se o conteúdo fosse o descrito na notícia, iria cobrir o país e os portugueses de ridículo. Porque é ridículo projectar um vídeo a dizer que em Portugal se trabalha muitas horas e se paga muitos impostos e que somos muito bons. O nosso problema de produtividade não se resolve assim, e na Alemanha a nossa imagem não é a mesma da Grécia. Além disso, não há de facto outra palavra para descrever melhor aquilo: seria ridículo.
Foi uma bênção terem-se recusado a projectar aquele vídeo, para nos pouparem o vexame e o embaraço de ver o seu conteúdo projectado daquela forma. Imaginemos que alguém na Alemanha decidia vir cá a Portugal projectar um vídeo numa das principais praças de Lisboa ou do Porto a dizer que devemos implementar medidas de austeridade ou o que seja. Qual não seria o alvoroço. Mas, ao que parece, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e os seus apaniguados deviam poder projectar um vídeo de propaganda na Praça Sony - porque sim.
Não contente com o absurdo do próprio vídeo, Rodrigo Moita de Deus resolveu escrever uma carta à Embaixada da Alemanha a queixar-se da recusa em tom exaltado. Eu teria escrito uma carta a agradecer, e a pedir que outras iniciativas deste tipo tenham tratamento semelhante. E sugiro a Rodrigo Moita de Deus que perca menos tempo neste tipo de projectos sem conteúdo e mais tempo a participar, de forma relevante, no debate sobre a reforma do Estado que o Governo lançou. É que a reforma do Estado ajuda a resolver problemas estruturais do país. Vídeos de propaganda do tipo em causa servem para perder tempo.
Finalmente, assalta-me uma dúvida. Parece que os promotores da iniciativa querem que o filme chegue ao seu destinatário (o povo alemão, pelo que percebo). Já ouviram falar da Internet? Não que eu queira o vídeo publicitado. Por mim, ficava com Marcelo Rebelo de Sousa, para eventual visionamento nocturno com os amigos e, dentro de algumas décadas, poderia ser recuperado como documento histórico, e visto como forma de entretenimento para pessoas com interesse em História com vontade de rir. Mas já que querem tanto publicitar o vídeo, podem facilmente colocá-lo na Internet. Logo a seguir, vai passar nas televisões portuguesas. E podem também enviar o vídeo às televisões alemãs.
Tudo isto parece ser demasiado complexo para Marcelo Rebelo de Sousa, Rodrigo Moita de Deus e o resto das pessoas envolvido neste projecto que diz tanto sobre a actual situação portuguesa. É que em vez de estarem à procura de soluções substantivas para os nossos problemas, estas pessoas estão a fazer vídeos a dizer aos alemães que os portugueses são bué da fixes, pagam bué da impostos e trabalham bué da horas. E eu prefiro que os alemãs pensem que nós estamos de facto a tentar resolver os nossos problemas - e não a fazer vídeos a implorar que eles venham resolvê-los por nós, dando-nos dinheiro. É que essa é a melhor forma de a opinião pública alemã apoiar ajudas a Portugal, convencê-la de que nós estamos a assumir responsabilidade pelos nossos erros e o contexto internacional é adverso.
A melhor forma de fazer isto é, efectivamente, assumindo essa responsabilidade e tendo um debate sério sobre reforma do Estado, e continuar a tomar medidas para melhorar a nossa Economia. A Chanceler Merkel e membros do seu Governo, que por cá é passatempo insultar todos os dias, têm elogiado Portugal. A Chanceler, por sua vez, é popular na Alemanha. Esse tipo de apoio do Governo alemão, e do SDP, é muito mais importante para Portugal junto da opinião pública alemã do que um vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus amigos.
Contrariamente ao que por aí se lê, a Alemanha não quer criar um novo império, nem tem demonstrado particular apetência por o fazer. A União Europeia gera interdependências que significam que não é no interesse da Alemanha que Portugal vá abaixo (e quem diz Portugal, diz a restante União Europeia) e que aliás até será no seu interesse que Portugal e o resto da União Europeia prosperem. Sendo federalista, não concordo com as propostas alemãs (que não são necessariamente apenas alemãs, diga-se) para a resolução da crise. Mas não se pode ignorar os problemas políticos, económicos e financeiros levantados pela Alemanha, pelos Países Baixos, pela Suécia e apelidá-los de «terríveis» de forma a não se lidar com eles, ao mesmo tempo tratando o novo Governo francês (sob ataque por causa das suas próprias medidas de austeridade) como se fosse algo de messiânico.
O grande debate europeu sobre a federalização da União Europeia, para um federalista, passa por tornar claro ao Norte da Europa e ao Sul da Europa que uma federação europeia é a melhor forma de conciliar as suas posições. [Editado: Que, aliás, temos interesses comuns e que estamos todos juntos nisto.] Insultar a Alemanha (ou Grécia, diga-se) não ajuda rigorosamente nada neste ensejo, nem tratar as suas propostas como demoníacas. Ao mesmo tempo, também não ajuda rigorosamente nada passar vídeos de propaganda simplistas na Praça Sony. Aliás, teria tudo para nos prejudicar, dado que a cobertura mediática do vídeo não seria necessariamente (eufemismo) simpática, nem a cobertura política, nem a reacção da opinião pública.
O tempo das falsas soluções acabou. Nunca chegou, aliás, a começar. Se querem tanto, que ponham o vídeo na Internet e vejam se alguém lhes liga alguma coisa. Mas deixem a Praça Sony em paz.
Pelos vistos, o objectivo era passar o tal vídeo numa das principais praças de Berlim. Felizmente, não foram autorizados a fazê-lo. Longe de promover Portugal, aquele vídeo, então se o conteúdo fosse o descrito na notícia, iria cobrir o país e os portugueses de ridículo. Porque é ridículo projectar um vídeo a dizer que em Portugal se trabalha muitas horas e se paga muitos impostos e que somos muito bons. O nosso problema de produtividade não se resolve assim, e na Alemanha a nossa imagem não é a mesma da Grécia. Além disso, não há de facto outra palavra para descrever melhor aquilo: seria ridículo.
Foi uma bênção terem-se recusado a projectar aquele vídeo, para nos pouparem o vexame e o embaraço de ver o seu conteúdo projectado daquela forma. Imaginemos que alguém na Alemanha decidia vir cá a Portugal projectar um vídeo numa das principais praças de Lisboa ou do Porto a dizer que devemos implementar medidas de austeridade ou o que seja. Qual não seria o alvoroço. Mas, ao que parece, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e os seus apaniguados deviam poder projectar um vídeo de propaganda na Praça Sony - porque sim.
Não contente com o absurdo do próprio vídeo, Rodrigo Moita de Deus resolveu escrever uma carta à Embaixada da Alemanha a queixar-se da recusa em tom exaltado. Eu teria escrito uma carta a agradecer, e a pedir que outras iniciativas deste tipo tenham tratamento semelhante. E sugiro a Rodrigo Moita de Deus que perca menos tempo neste tipo de projectos sem conteúdo e mais tempo a participar, de forma relevante, no debate sobre a reforma do Estado que o Governo lançou. É que a reforma do Estado ajuda a resolver problemas estruturais do país. Vídeos de propaganda do tipo em causa servem para perder tempo.
Finalmente, assalta-me uma dúvida. Parece que os promotores da iniciativa querem que o filme chegue ao seu destinatário (o povo alemão, pelo que percebo). Já ouviram falar da Internet? Não que eu queira o vídeo publicitado. Por mim, ficava com Marcelo Rebelo de Sousa, para eventual visionamento nocturno com os amigos e, dentro de algumas décadas, poderia ser recuperado como documento histórico, e visto como forma de entretenimento para pessoas com interesse em História com vontade de rir. Mas já que querem tanto publicitar o vídeo, podem facilmente colocá-lo na Internet. Logo a seguir, vai passar nas televisões portuguesas. E podem também enviar o vídeo às televisões alemãs.
Tudo isto parece ser demasiado complexo para Marcelo Rebelo de Sousa, Rodrigo Moita de Deus e o resto das pessoas envolvido neste projecto que diz tanto sobre a actual situação portuguesa. É que em vez de estarem à procura de soluções substantivas para os nossos problemas, estas pessoas estão a fazer vídeos a dizer aos alemães que os portugueses são bué da fixes, pagam bué da impostos e trabalham bué da horas. E eu prefiro que os alemãs pensem que nós estamos de facto a tentar resolver os nossos problemas - e não a fazer vídeos a implorar que eles venham resolvê-los por nós, dando-nos dinheiro. É que essa é a melhor forma de a opinião pública alemã apoiar ajudas a Portugal, convencê-la de que nós estamos a assumir responsabilidade pelos nossos erros e o contexto internacional é adverso.
A melhor forma de fazer isto é, efectivamente, assumindo essa responsabilidade e tendo um debate sério sobre reforma do Estado, e continuar a tomar medidas para melhorar a nossa Economia. A Chanceler Merkel e membros do seu Governo, que por cá é passatempo insultar todos os dias, têm elogiado Portugal. A Chanceler, por sua vez, é popular na Alemanha. Esse tipo de apoio do Governo alemão, e do SDP, é muito mais importante para Portugal junto da opinião pública alemã do que um vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus amigos.
Contrariamente ao que por aí se lê, a Alemanha não quer criar um novo império, nem tem demonstrado particular apetência por o fazer. A União Europeia gera interdependências que significam que não é no interesse da Alemanha que Portugal vá abaixo (e quem diz Portugal, diz a restante União Europeia) e que aliás até será no seu interesse que Portugal e o resto da União Europeia prosperem. Sendo federalista, não concordo com as propostas alemãs (que não são necessariamente apenas alemãs, diga-se) para a resolução da crise. Mas não se pode ignorar os problemas políticos, económicos e financeiros levantados pela Alemanha, pelos Países Baixos, pela Suécia e apelidá-los de «terríveis» de forma a não se lidar com eles, ao mesmo tempo tratando o novo Governo francês (sob ataque por causa das suas próprias medidas de austeridade) como se fosse algo de messiânico.
O grande debate europeu sobre a federalização da União Europeia, para um federalista, passa por tornar claro ao Norte da Europa e ao Sul da Europa que uma federação europeia é a melhor forma de conciliar as suas posições. [Editado: Que, aliás, temos interesses comuns e que estamos todos juntos nisto.] Insultar a Alemanha (ou Grécia, diga-se) não ajuda rigorosamente nada neste ensejo, nem tratar as suas propostas como demoníacas. Ao mesmo tempo, também não ajuda rigorosamente nada passar vídeos de propaganda simplistas na Praça Sony. Aliás, teria tudo para nos prejudicar, dado que a cobertura mediática do vídeo não seria necessariamente (eufemismo) simpática, nem a cobertura política, nem a reacção da opinião pública.
O tempo das falsas soluções acabou. Nunca chegou, aliás, a começar. Se querem tanto, que ponham o vídeo na Internet e vejam se alguém lhes liga alguma coisa. Mas deixem a Praça Sony em paz.
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terça-feira, 28 de agosto de 2012
Esqueceram-se do 31 do Rosa Mendes?
Comentava eu ali* no 31daArmada, uma pérola de Rodrigo Moita de Deus e lembrei-me da polémica com o putativo censurado Pedro Rosa Mendes e a Raquel Freire.
Lembram-se?
Uma das razões porque deve existir um serviço público, é que possa existir liberdade de imprensa e informação. No público existe sempre a possibilidade de pressão política sobre as administrações, no privado é o "mercado" que disciplina, caso contrário os anunciantes "secam" a estação.
O nosso João Mendes e bem a meu ver, farta-se de clamar para que haja transparência na informação. E que as pessoas e as instituições se assumam à britânica, dando o contraditório.
Toda esta polémica e o sectarismo, com que alguma comunicação social e muita blogosfera têm tratado isto é chocante.
Rodrigo Moita de Deus quer a cabeça da actual administração da RTP, visto que esta discordou do "accionista"...
Cadê, o accionista?
É o Governo, é o Programa do PSD(que dizia outra coisa diferente daquilo que está a ser feito)é Miguel Relvas?
O 31 da Armada na pessoa do Rodrigo Moita de Deus, presta um mau serviço, a portar-se como um verdadeiro comissãrio político.
* Obrigado D, por me pedires para voltar a escrever aqui! Não há palavras para a camaradagem blogosférica.
Lembram-se?
Uma das razões porque deve existir um serviço público, é que possa existir liberdade de imprensa e informação. No público existe sempre a possibilidade de pressão política sobre as administrações, no privado é o "mercado" que disciplina, caso contrário os anunciantes "secam" a estação.
O nosso João Mendes e bem a meu ver, farta-se de clamar para que haja transparência na informação. E que as pessoas e as instituições se assumam à britânica, dando o contraditório.
Toda esta polémica e o sectarismo, com que alguma comunicação social e muita blogosfera têm tratado isto é chocante.
Rodrigo Moita de Deus quer a cabeça da actual administração da RTP, visto que esta discordou do "accionista"...
Cadê, o accionista?
É o Governo, é o Programa do PSD(que dizia outra coisa diferente daquilo que está a ser feito)é Miguel Relvas?
O 31 da Armada na pessoa do Rodrigo Moita de Deus, presta um mau serviço, a portar-se como um verdadeiro comissãrio político.
* Obrigado D, por me pedires para voltar a escrever aqui! Não há palavras para a camaradagem blogosférica.
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