terça-feira, 13 de novembro de 2012

Rodrigo Moita de Deus pensa mesmo aquilo?

Rodrigo Moita de Deus escreve no 31 da Armada. Costuma ter piada. A maior parte do que faz no blogue é dizer coisas engraçadas mas sem grande conteúdo. Dá para rir, geralmente. Esperar-se-ia que Rodrigo Moita de Deus tivesse mais conteúdo que o que evidencia nos seus vídeos satíricos e nas piadinhas que vai lançando no blogue.

Pelos vistos, no entanto, Rodrigo Moita de Deus acha que a ladainha simplista sobre a crise que nos sufoca é de alguma forma algo a promover fora de portas. Não satisfeito por a população portuguesa ser sujeita a análises sofríveis sobre a crise, e ser estereotipada, Rodrigo Moita de Deus decidiu, inspirado pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, fazer um filme cheio de erros factuais, de qualidade técnica sofrível mesmo do ponto de vista de um verdadeiro amador, em que os portugueses são estereotipados pelo próprio filme (ironia das ironias) e apresentados no seu pior.

Aquilo que me aborrece mais nisto tudo é que Rodrigo Moita de Deus é dirigente no PSD. Tem responsabilidades num partido que é o maior partido da maioria que sustenta o Governo. E o conteúdo passivo-agressivo daquele filme, que eu presumo reproduza as ideias defendidas por Rodrigo Moita de Deus, é de bradar aos céus. Será possível que Rodrigo Moita de Deus seja assim tão oco que verdadeiramente acredita naquelas coisas? Será que é isto o melhor que podemos esperar de um dirigente do PSD e de um antigo Líder da Oposição da área social democrata (Marcelo Rebelo de Sousa)?

Podiam ter lançado um concurso para que pessoas fizessem filmes a promover Portugal, e depois escolhido os melhores. Podiam ter lançado o projecto num «site» de «crowdfunding» para terem dinheiro para fazerem um filme com maior qualidade técnica. Podiam ter feito um filme que mostrasse que havia ali ideias, que havia ali alguma pesquisa que ia para além dos títulos e das capas dos tablóides. Podiam ter simplesmente posto o vídeo na Internet, em vez de tentar passá-lo no meio de Berlim (e depois enviar cartas de protesto ao embaixador da Alemanha quando isto não foi admitido - para grande sorte dos portugueses).

Rodrigo Moita de Deus pensa mesmo aquilo que está naquele filme? Marcelo Rebelo de Sousa pensa mesmo aquilo que está naquele filme? É isto que eles acham que teria piada representar Portugal? É isto que eles acham do que se passou nos últimos 10 anos (para não ir mais longe...) em Portugal? É isto que eles pensam da «troika»? Se é, fico esclarecido - as opiniões daquelas duas pessoas resumem-se ao que leram apressadamente em blogues e em artigos de opinião, e não em investigações sérias sobre o que se está a passar em Portugal, na Europa e no mundo. Se não é, fico na dúvida da razão para acharem que fazer um filme com aquele conteúdo ajudaria Portugal junto da opinião pública alemã.

Entretanto, Angela Merkel visitou o país e deu o seu apoio ao Governo. Disse ainda que o Governo alemão ajudaria Portugal a criar o seu banco de fomento (o tal que tanto PSD como PS querem criar). E convém lembrar que o Governo alemão tem apoiado um imposto sobre as transacções financeiras (o tal que o PSD e o PS querem) a nível europeu. François Hollande, entretanto, fez uma desvalorização fiscal (ninguém foi perguntar a António José Seguro o que pensava sobre o tema). E o PS acusou o Governo de «subserviência» face a Angela Merkel (como sempre) e queria ser convidado para falar com a Chanceler (a que título, não sabemos).

Alguém lembre o PS de que estão na Oposição e que não são por inerência convidados a falar com a Chanceler da Alemanha quando esta visita Portugal - e já que queriam tanto, podiam ter pedido (por carta, naturalmente, que no PS faz-se tudo por carta, posteriormente publicada no Facebook). Alguém lembre o PS de que da última vez que foram convidados a falar com alguém sobre temas sérios, nomeadamente os cortes de 4000 milhões a preparar até Fevereiro do ano que vem, o PS lavou daí as suas mãos. E alguém lembre ao PS que ainda recentemente visitaram a França para falar com François Hollande e tratam François Hollande (que aplica austeridade e desvalorizações fiscais em França) como se fosse o último grande herói - também se vão acusar a si próprios de subserviência?

De facto, é bem provável e bem possível que Rodrigo Moita de Deus pense mesmo aquilo que está naquele filme. Que um dirigente do PSD e um dos principais fazedores de opinião do país, Marcelo Rebelo de Sousa, de facto pensem que aquilo que puseram naquele filme, de forma «satírica», tem subjacente uma análise séria da situação em que nos encontramos. E sendo isto verdade, é um sintoma claro da fraca qualidade do nosso debate público, porque a análise subjacente àquele filme é do menos séria e do mais simplista, demagógica e populista que se pode encontrar.

Por outro lado, dão-me esperança algumas críticas que li àquele filme. E quanto mais depressa passarmos deste filme a propostas concretas de corte de despesa, melhor. Quanto mais depressa passarmos deste filme para o Governo vir anunciar ideias específicas e fundamentadas e sustentadas para a reforma do Estado, melhor. E quanto menos filmes Rodrigo Moita de Deus e Marcelo Rebelo de Sousa quiserem no futuro projectar na Praça Sony em Berlim, melhor também.

Sem comentários:

Enviar um comentário