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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Julgamentos mediáticos sumários sobre pessoas e ideias

Há quem pareça pensar como se as opiniões devessem ser respeitadas como únicas possíveis, legítimas e que não traem segundas intenções ou agendas escondidas. Há quem pareça pensar que é objectivo, ou que como cita supostas autoridades que considera credíveis, a sua opinião passa a ser objectiva, sem qualquer enviesamento, e que, de novo, quem tenha opinião contrária ou é ingénuo ou é um malandro.

No fundo, uma pessoa pergunta-se o porquê de haver eleições - bastaria, ao que parece, pedir a opinião a essas pessoas, que tudo sabem de forma objectiva, e aplicar o que elas digam. Claro que muitas dessas pessoas não dão o passo seguinte, procurando colocar-se numa posição em que possam tentar implementar as suas ideias. Afinal, não são políticos! E é aos políticos, presumidos culpados de todos os vícios e crimes, que compete implementar as ideias que eles defendem. Se não o fizerem, de novo, ou são ingénuos, ou são malandros, com clara preponderância para serem categorizados como criminosos corruptos a soldo de sabe-se lá quem (varia dependendo do acusador).

Esses julgamentos de carácter sumários são muito ajudados pela comunicação social. E não são só as figuras públicas que são sujeitas a este tipo de julgamentos sumários. As ideias também o são. Não fiz qualquer estudo empírico, mas o que observo é o formar consistente de uma posição qualquer dominante sobre um determinado tema, agressivamente defendido um pouco por todo o lado. Depois, há uma sondagem qualquer em que se indica que «a maioria dos portugueses» também defende essa posição dominante entre comentadores profissionais e divulgada na comunicação social.

Tudo isto tem custos. Afasta pessoas interessantes da política, por não quererem a catalogação imediata inerente à condição de político, criando um círculo vicioso. Os temas não são tratados com profundidade, demasiadas vezes são tratados com erros, e as pessoas acabam por manter-se alheadas de debates importantes. Também demasiadas vezes, a repetição acrítica e contínua de opiniões de supostas autoridades torna qualquer debate impossível, porque pura e simplesmente não dá para trocar argumentos.

Citar as opiniões de supostas autoridades com as quais se concorda não é ser-se objectivo e argumentos de autoridade não são argumentos válidos num debate. Copiar argumentações que não se entendem (e que por vezes se reproduz com erros relevantes) não ajuda muito a sustentar as posições em causa. Pressupor más intenções com base em inferências e insinuações e insultar pessoas com quem não se concorda não ajuda o debate. Misturar conceitos não ajuda o debate. Fazer julgamentos sumários e ignorar os argumentos contrários não ajuda o debate. 

A presunção de objectividade por parte de uma certa pessoa não a torna objectiva. Em vez de proclamações de objectividade, parece-me preferível tornar claro, à partida, na medida do razoável, as nossas posições de partida. Mostrar as nossas influências. Deixar claro de onde poderá surgir enviesamento. Isso clarifica a nossa posição e ajuda a perceber os nossos argumentos, enquanto proclamações de objectividade apenas servem para obscurecer toda esta base relevante para se entender o nosso pensamento. Claro que as próprias proclamações podem ter leituras, porventura pouco abonatórias, para usar um eufemismo, por parte de outros participantes no debate.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Individualismo e Subjectivismo

O individualismo e o subjectivismo são termos que julgo serem fundamentais para entender aquilo que é o pensamento Liberal. Por vezes pode existir alguma confusão entre estes dois conceitos, a verdade, é que de uma forma geral, aquilo a que se chama individualismo deve ser chamado, na minha opinião, subjectivismo. A compreensão destes dois conceitos é fundamental para entender aquilo é que o pensamento liberal contemporâneo.

Interessa por isso, começar por definir cada um dos conceitos. O individualismo diz respeito ao entendimento que existe acerca da unidade básica social, sendo que os individualistas consideram o indivíduo como unidade básica do sistema social. Desta forma, um sistema individualista opõe-se aos sistemas colectivistas conservadores os quais defendem que a unidade básica social é família, e aos sistemas colectivistas socialistas que consideram a unidade básica a sociedade ou, no limite, a classe social.

Em Portugal a influência do colectivismo é bastante visível, por exemplo, na forma como são apresentados pela comunicação social os problemas sociais: “cada vez mais famílias endividadas”, “o aumento do IVA vai ter repercussão na vida das famílias”.

Por outro lado, os subjectivistas defendem que cada indivíduo tem uma concepção própria daquilo que é bom para si, uma vez que detém ambições, desejos, sentimentos e experiências únicas. É importante referir que o subjectivismo não se opõe ao objectivismo, nomeadamente aquele defendido por Ayn Rand, estamos certamente num plano de análise diferente. O subjectivismo, tal como aqui apresentado opõe-se, por exemplo, à engenharia social e aos modelos Keynesianos. Ou seja, enquanto os subjectivistas defendem que deve ser permitido ao indivíduo fazer as suas escolhas individuais (aquelas que não chocam com a liberdade de outrem), já os adeptos da engenharia social e do Keynesismo defendem a existência de seres humanos “iluminados” (normalmente os governos) que devem decidir por todos os indivíduos da sociedade. Os adeptos Keynes entendem que os indivíduos são desprovidos de qualidades que os permitam decidir acerca da sua própria vida.

Um exemplo claro desta engenharia social em Portugal é a lei que impõe limites na quantidade de sal no pão, a qual impede que o consumidor possa escolher qual a quantidade de sal que quer comer, tendo esta liberdade individual sido restringida pela Assembleia da República Portuguesa através de mecanismos legais.

Torna-se ainda fundamental referir que subjectivismo não é o mesmo que relativismo (este sim oposto ao objectivismo). Por exemplo, os relativistas defendem que diferentes culturas valorizam diferentes valores, e que por isso, aspectos como o apedrejamento de mulheres até à morte são condenáveis numa sociedade ocidental mas que devem ser tolerados noutro tipo de sociedades. Desta forma, a principal diferença entre os relativistas e os subjectivistas (liberais) é que estes últimos consideram que o direito à interpretação do real por parte do indivíduo (ou grupo de indivíduos) e os comportamentos destes, devem ter como limite o respeito pela liberdade de terceiros.

Neste sentido, podemos considerar que os Liberais são simultaneamente individualistas, na medida em que encaram o sujeito como unidade básica do sistema social e subjectivistas, uma vez que são contra a intervenção do estado no que diz respeito às escolhas individuais. Em Portugal, como de resto em todo o mundo latino, temos um longo caminho a percorrer. Por exemplo em Portugal, os pais não podem escolher em que escola estudam o seus filhos, os portugueses não podem escolher comprar pão com mais sal, são obrigados a pagar e a obedecer cegamente a Ordens profissionais para exercerem a sua profissão, etc. Nos próximos anos a principal batalha dos liberais portugueses prende-se (ou deverá prender-se) com a difusão do subjectivismo e individualismo, sendo que lhes caberá o papel de exercer o pressing necessário para que a actividade legislativa tenha em conta estes dois conceitos.