quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Portugal, Portugal

Eu não me canso de Portugal, porque sempre que me canso vou embora para outro Portugal.

São dois países aqui no mesmo sítio, com culturas diferentes e arrisco-me até a dizer com línguas diferentes.

O primeiro é feito por pessoas completamente loucas que só falam em montar empresas e negócios, sendo que muitos deles não têm sequer dinheiro para o fazer. Mas têm ideias, uma vontade inabalável e falam imenso sobre a importância do Networking, do Entrepreneurship e outros termos em inglês.

Discutem se o futuro de Portugal passa por um modelo semelhante ao de Sillicon Valley ou ao de Londres. Querem conhecer o Mundo para trazer ideias e levar a nossa cultura aos 5 continentes.

Eu falo com estes loucos e dizem-me que em Portugal não há crise, mas sim um conjunto de oportunidades e vão lá fora dizer que Portugal é fantástico e atraem e criam em Portugal acontecimentos espetaculares com o melhor que há no mundo.

Estas pessoas reúnem-se em eventos para construir sonhos megalómanos e colocar o país no lugar que lhe é devido: no centro do Mundo. Olhe-se para o mapa-mundo e veja-se.

Este nível de inovação, insanidade e entusiasmo a roçar o infantil só tem uma explicação. Estes portugueses descendem directamente dos navegadores de outros tempos.

E quando eu me farto deste espírito positivo, de acreditar que podemos fazer algo de extra-ordinário viro-me para o outro Portugal.

Neste outro Portugal só há desgraça. Quando um português vai trabalhar para o estrangeiro é uma catástrofe. Quando um estrangeiro vem trabalhar para Portugal, é uma invasão. E quando levantamos à janela uma bandeira nacional estamos a ser fascistas.

Os grandes problemas são o apoio que uma empresa dá na reabilitação de uma estação e do nome em inglês que lá é colocado. O divertimento é enviar lixo pelo correio a uma empresa que disse mal de nós.

Jamais chamaria a estas pessoas de Velhos do Restelo, porque na sua maioria são jovens, que eu vejo nesta atitude que apenas seria considerada aceitável a alguém abatido pela idade.

Mas por vezes sabe bem, lamentarmo-nos da vida, culpar os políticos dos nossos problemas e ir para o rossio fazer terapia de grupo e achincalhar aqueles que trabalham em duras condições para nos proteger.

E neste segundo Portugal, fala-se e critica-se muito o provincialismo nacional, a nossa mesquinhez e inferioridade. Percebo que o façam pois vejo muito disso quando estou nesta realidade.

É por isso que gosto de passar mais tempo na outra cultura portuguesa.

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