quinta-feira, 1 de setembro de 2011

La malaise portugaise

Quando em 1997, Jean-Marie Domenach lançou a sua obra "Regarder la France. Essai sur le malaise français" estava evidentemente preocupado com aquilo que na sua opinião considera ser um certo declinio da França, enquanto potencia matricial Europeia.

Ora, os recentes aumentos do IRS para os salários milionários e de IRC para empresas com lucros superiores a 1,5M de euros são apenas golpes de moralização do sistema com um impacto real muito reduzido (ou mesmo nulo ou negativo), infelizmente, acho que o “problema português”, é muito superior à velha questão "os ricos que paguem a crise." Na verdade estou convencido que, a não ser que se tomem medidas em sentido contrário, que não se perspectivam, caminhamos para um cenário de irrelevância no quadro geo-politico internacional, motivado, a meu ver, essencialmente pelos 5 factores:

1. Perda de competitividade da produção em Portugal face aos principais players internacionais nossos concorrentes directos (Leste Europeu, Oriente, Magreb e Turquia, etc) - Em Julho estive no cluster de paises do Leste Europeu, Hungria, Eslováquia e Polónia e sobre o qual faço uma análise em Liberal Hungria.

2. Alienação das principais empresas nacionais a grupos estrangeiros (acelerada com o programa de privatizações) - Note-se que, embora seja necessário introduzir um quadro concorrencial mais forte em alguns sectores da economia portuguesa, é muito questionável que os interesses estratégicos do pais estejam assegurados com a venda a preço de saldos de algumas empresas que tem origem em paises que historicamente tem interesses geo-politicos antagónicos ou competitivos com o nosso (e.g. venda da TAP ao grupo da qual a Iberia faz parte).

3. Incapacidade de retenção dos talentos, ou menos talentosos que pura e simplesmente preferem emigrar. Afinal quantos jovens portugueses estão hoje no estrangeiro, não por opção tácita mas antes por necessidade das voltas da vida?

4. Desmantelamento progressivo das Forças Armadas Portuguesas e da rede de informações (os acontecimentos das ultimas semanas no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, pode servir como argumento para mais um intervenção politica na sua estrutura em detrimento de uma politica mais ambiciosa e generosa para este sector). Como felizmente não sentimos os efeitos nefastos do terrorismo internacional no nosso território não valorizamos o maior dividendo historico dos ultimos dois séculos, que é facto de não termos forças externas agressoras no territorio nacional desde as invasões napoleónicas.

5. Envelhecimento e definhamento da população (algo novo na nossa historia, e um factor que não estava presente na equação noutras crises anteriores). Segundo um estudo pubicado no Economist que veio a publico a passada semana, Portugal é o pais do mundo com a menor esperança historica do mundo (ver aqui).

Isto tudo, obviamente agravado, pela incapacidade de acção motivada pela enorme divida externa, que limita as opções tácticas de despesa do estado - que também não parece suficientemente empenhado em fazer reformas fundamentais (e não necessáriamente muito caras) como sejam a do sistema judicial, que nos continua a "prestigiar" com repetidos recordes de morosidade processual.

2 comentários:

  1. André o link do estudo do economist não está activo.

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  2. Parece-me salutar começar a tratar o investimento directo estrangeiro decentemente, e não como uma invasão. Portugal precisa de investimento, e o facto do investimento não ser português não é negativo.

    A desconfiança em relação ao investimento estrangeiro (e as barreiras ao investimento em geral) são parte do nosso problema. Há que deixar de pensar em nacionalidades (i.e. em proteccionismo) e passar a pensar em não criar barreiras ao investimento.

    Quanto às Forças Armadas, por mim, havia maior cooperação a nível europeu para aumentar a eficiência (aliás, por mim, havia forças armadas europeias).

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