Que seja imprescindível a descolagem sem tergiversações para o desenvolvimento firme e contínuo, poucos ousarão contestá-lo, mas muitos preferem não o reconhecer: pois não implicará reestruturações do âmago que sacodem inevitavelmente os interesses instalados e a bonança do imobilismo? Pois não implica riscos - como toda a natureza aventura afinal - e não é antes a segurança das posições detidas que lhes importa sobremaneira? Sabe-se, de resto, que tal descolagem é correlativa da profunda reforma da mentalidade, gerando atitudes novas, de essência inconformista, estimulantes das iniciativas individuais e de grupo; é preciso que todos participem na vida pública e contribuam para as decisões colectivas, que todos assumam responsabilidades activas e não se limitem a bater palmas, deixando o estudo das questões, o decidir de soluções, a escolha de rumos e a orientação das execuções a pequenos círculos, por mais bem intencionados que sejam. A tensão sergiana, de formar o cidadão no trabalhador, o cidadão de mente livre preparado a pronunciar-se em conhecimento de causa e nada disposto a passar procuração a salvadores, não se limitando, portanto, ao amen a este ou àquele brevário, tal tensão afigura-nos, por tudo isso, o mais urgente imperativo da nossa vida colectiva.
Vitorino Magalhães Godinho
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