domingo, 9 de outubro de 2011

A dogmática da trivialidade (II)

É fácil criticar o que não se entende. É fácil descaracterizar as posições dos outros. É fácil ter posições com base no que se ouviu e soou bem, em vez de tentar perceber aquilo que se critica. É fácil berrar e exigir que alguém, outra pessoa, faça alguma coisa para corrigir o que está mal.

É fácil decidir que se é impotente, que a culpa é de todos os outros e que nada podemos nós, os fracos, fazer. É fácil dizer que somos vítimas. É fácil olhar para o mundo e vê-lo cheio de inimigos misteriosos à abater, que conspiram contra nós para nos impedir de ser bem sucedidos.

É fácil disparar ideias feitas em todos os sentidos, sem parar para pensar no que se diz. É fácil desculparmo-nos a nós próprios. É fácil, numa democracia, escrever manifestos a dizer tudo e nada, com chavões e frases feitas.

É esse o apelo do Populismo. É o apelo de nos desresponsabilizarmos pelas coisas e de exigirmos que outros, não nós, resolvam os problemas. É aderir a ideias simples de entender, mesmo que incoerentes, por não se ter tempo para resolver as incoerências. Quer-se é bramir contra as injustiças e exigir que alguém as resolva.

E a parte mais engraçada e irónica de todas estas exigências, em Portugal, é que sistematicamente o culpado é o Estado, os culpados são os políticos, sempre corruptos e nos quais nunca se pode confiar. Mas a solução tem de partir desse mesmo Estado e desses mesmo políticos.

Se o objectivo é criar empregos, então que se tente criar empregos. Se o objectivo é ajudar pessoas em dificuldades, então se tente ajudar essas pessoas. Mas não. Em vez de se tentar resolver os problemas directamente, exige-se que o Estado, falido, os resolva. 

Quem diga o contrário é insultado com acusações gratuitas e torpes, sendo as suas motivações de imediato questionadas. A vontade popular e a verdadeira moralidade estão sempre, e por definição, com quem defende as políticas verdadeira Esquerda, a Esquerda radical, por muito minoritárias que sejam essas posições. 

Nunca é responsabilidade de quem se queixa resolver os problemas que encontra, até porque isso seria bem complicado. É bem mais simples emproar a bandeira da contestação pela contestação, assente no dogmatismo da trivialidade.

É bem mais simples berrar pela intervenção do Presidente da República ou de quem quer que seja do aparelho do Estado. E quem não defender isso, é anti-democrata e contra a Felicidade. Porque esta é, para tudo e para todos, definida pela (falsa) Esquerda populista, demagógica e radical.


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