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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O que foi isto?

Retirado do vídeo de Brandon Jourdan (globaluprisings.org)


1. Confesso ter-me emocionado ao assistir às imagens deste incompreensível momento. Um bando de impensantes passa uma animada journée a atirar pedras da calçada à casa da democracia - à nossa casa - e aos agentes incumbidos de a defender, enquanto manda abaixo a enésima litrosa da tarde. Sim, porque foi a nossa rua que eles "privatizaram" ao destruir o pavimento para alimentar uma intifada a forças de segurança pagas por nós para defender a nossa casa. É como se cada pedra que choveu naquela escadaria não tivesse falhado o alvo mas antes acertado num bocadinho de cada um de nós.

2. Também por isso me consternou igualmente a sensação de laissez-faire naqueles longos minutos. Porque, durante tanto tempo, ficou a polícia a olhar para eles enquanto destruíam pedra a pedra património da cidade? Se numa situação quotidiana, um inteligente decidisse começar a desmontar a calçada "na cara" de um agente, não seria impedido? Ao ver as imagens ainda me permiti sonhar que houvesse alguém, manifestante pacífico ou outro, no local com a presença de espírito para, se não impedi-los tout court, se colocar à frente do CI, estilo Tank Man invertido, tentando que parassem com a brincadeira - não seria justificado ter receio de ser apedrejado a escassos metros de centenas de polícias ou seria? (edit: há relatos, se não imagens, de quem o tenha tentado fazer)

3. O que significa o desenrolar desta tristeza num alegre ambiente de festival de verão - cerveja, fumo, mochilas às costas? Serão estes os que "se vêem obrigados" à violência de "tão desesperados e sem saída" que estão? "Aqueles que fazem da revolução pacífica algo impossível, farão com que uma revolução violenta seja inevitável" citava um dos cartazes dos ignorantes - portanto, vamos embora, é começar já para sermos nós a aparecer na fotografia? Será isso? A pergunta é sincera: o que significa? Anarcas de pacotilha? Hormonas pubescentes? Piromania? A arrogância "eu-sou-democrata-desde-que-concordes-comigo-se-não-levas-com-um-calhau" de alguns componentes da extrema-esquerda? Se já é péssimo destruir cadeiras de estádios de futebol e vandalizar as suas zonas circundantes, aquilo que aconteceu tem outra dimensão que deve provocar abjecção em qualquer democrata.


4. Não se ficaram pelas pedras. Caixotes do lixo, vidrões e entulho foram postos a arder por meia dúzia de vândalos. Mais, segundo a PSP, em relação à qual, para aqueles de nós que vivem na Terra, não há razão credível para duvidar ter a certeza absoluta que o quer que diga é mentira e que o ministro da tutela é que decide directamente tudo o que diz e faz, mais de vinte agentes foram feridos, o que mostra como os coitadinhos que só estavam a tentar jogar à petanca com bolas de calcário foram verdadeiras vítimas indefesas da brutalidade policial. "Remember remember the 14th of November" gracejava sem graça uma página de pirómanos no Facebook, como se um momento "No Name" pudesse representar uma grande revolução seja do que for - by the way, convém lembrar que na tradição britânica, aquilo que se simbolicamente queima na fogueira anualmente é o revolucionário pirómano.

5. Uma das ideias que me assombrou também foi a possibilidade de à conta daquela meia dúzia de acéfalos, aquilo que aparentemente, pese embora as pontuais declarações incendiárias do "se não ouvem a bem, ouvem a mal", foi mais uma manifestação pacífica dos funcionários públicos e da extrema-esquerda, ficasse registado como um protesto todo ele de cariz violento, como se tivesse havido um grande motim - nomeadamente, claro, onde realmente interessa, fora do pequeno rectângulo. Seria triste que por causa deles o "tipo" do nosso país tal como é percepcionado no exterior por quem investe passasse a "bestas violentas" no que à situação social diz respeito. Felizmente não foi o caso, passando os olhos pelos relatos da imprensa económica internacional, a coisa parece ter sido tratada com o devido peso.

- da banlieue parisienne

sábado, 20 de outubro de 2012

The man's got a point


Só para fazer um bocadinho de oposição ao João e aliviar a má "vibe" de que o governante mais querido das feiras deste país tem sido alvo aqui no CL.

Ora disse Paulo Popular Partido Portas PP em resposta às profundas análises em resposta ao seu democrático comunicado em resposta à polémica sobre a aprovação do OE que “[e]m 22 países da [UE] há coligações. Em todas, o momento da negociação dos orçamentos é um momento complexo e difícil. Isso não é diferente numa coligação em Portugal.”

Se é verdade que houve vozes de figuras importantes no CDS a alvitrar barbaridades várias, inclusivamente a pedir, preto no branco, para que se desencadeasse uma «crise política», não o é menos que a suposta ou aparente crise da coligação governamental foi em grande medida alimentada e construída pela «CS». Tem sido, aliás, essa a tónica da larga maioria da imprensa que a coligação, nessa qualidade, tem recebido – desde 5 de Junho do ano passado que os ouvimos ver, prever, antever, profetizar, talvez sonhar com os problemas da coligação, desde diferenças ideológicas «irredutíveis» até estratégias escabrosas de vote-maximizing já a pensar nas eleições do porvir.

Aposto que se procurasse bem encontrava um artigo de 5 páginas de um qualquer jornal sobre as tensões na coligação com origem numa diferença irreparável quanto à cor a encomendar para as cápsulas do café para as reuniões de trabalho…

Se vos parece demasiado ridícula esta ideia atentem bem no que publicou o «i» no seu site com honras de comunicado oficial da direcção:

“O jornal i foi confrontado com o desmentido [via direito de resposta] do primeiro-ministro à manchete da edição de ontem, na qual se afirmava que, numa conversa a dois, Pedro Passos Coelho se dirigiu a Paulo Portas afirmando que «se o governo cair, o senhor será responsável por um segundo resgate». (…) [A]lém do descalabro das contas públicas, a austeridade sobre austeridade, o napalm fiscal, a incapacidade de conter a despesa, a desconjunção social, não levaram, portanto, a que o primeiro-ministro e o seu número três tenham tido o desaguisado que citámos. Muito bem. Folgamos com isso e tomamos boa nota como mensageiros habituados que estamos a ser os primeiros a sofrer por transportar a má notícia. Entramos em penitência que não em abstinência noticiosa. (…) Saudemos assim a harmonia que reina entre Pedro e Paulo. A bem da Nação!”

Outro exemplo, na notícia de onde se retira a citação de Portas supra: “«Se quisesse dizer que não concordo com o Orçamento dizia-lhe». Não disse, embora também não tenha dito o contrário.”

Parece quase existir uma verdadeira vontade de que a coligação se partisse já em mil e um bocadinhos, para que pudessem escrever reportagens award-winning sobre os pobres que levassem com eles na cabeça quando o orçamento fosse chumbado e chegassem novas eleições e um programa de ajuda financeira até 2078.

Claro que é fácil bater no «mensageiro» como diz o senhor do «i». No entanto, tenho para mim que esta sua tendência tem mais a ver com o importante ponto que refere Portas. Em Portugal não estamos habituados a ter coligações no governo – não é só a pobre da CS. Mesmo ignorando, claro, o período pós-revolucionário, as experiências de coligação que existiram não colheram durante muito tempo.

É natural que uma coligação governamental tenha muitos momentos de desacordo entre os dois partidos, é natural até mesmo que se parta uma ou outra peça de mobiliário de escritório, alguns dentes, eventualmente um baço perfurado, se não fosse assim seriam um só, mas porque tem isso de ser apenas mau? Tal como uma oposição forte é um factor positivo para a performance de um governo, também o equilíbrio entre dois ou mais partidos componentes pode acarretar importantes vantagens desse ponto de vista, não só, desde logo, pelo controlo mútuo que podem exercer, mas também para ajudar a que intervenientes com diferentes backgrounds, ideológicos, profissionais, etc., enriqueçam o debate interno no governo, bem como para que a sua legitimidade saia fortalecida por merecer o apoio de grupos de pessoas com preferências e necessidades diferentes e não só mais numerosos.

Não será, pois, por mero acaso que a norma na Europa democrática tenha vindo a ser a formação de governos de coligação – nem que o termo «coligação» seja uma das novas entradas do ελληνικό Λεξικό 2012.


Tempo no governo de partidos únicos
vs. coligações governamentais (%)
1945–99

 
Fonte: British Politics and Policy at LSE com dados Müller and Strøm, 2000

Já nós por cá reagimos assim ao seu aparecimento. Intriga, «feridas de morte», «paz podre», no fundo uma atitude de «este já foi, quem é o próximo?», ainda mal o touro foi largado na arena. Oxalá desta vez seja diferente e a coligação possa perdurar um pouco mais. Com todas as implicações que isso possa ter para a despesa na saúde.

Este tema foi bastante discutido na Europa aquando das últimas legislativas no Reino Unido, talvez Mr. Portas o queira reintroduzir no nosso espaço de debate público e dar qualquer coisa de mais interessante aos cronistas para comentar do que as declarações do José Manuel Fernandes ou o seu pomposo comunicado. Digo eu…

- Da banlieue parisienne