Ano 1
Semestre 1
Plano Quinquenal I
Introdução ao Planeamento central
Doutrina Soviética
Dinamização Sócio-Cultural
Associativismos Culturais e Infiltração
Semestre 2
Narrativa Historica - As verdadeiras causas da Crise
Os ciclos económicos capitalistas de Kitchin a Kondratiev
História do Socialismo
Teoria Marxista
Socialismo Cientifico
Ano 2
Semestre 1
Plano Quinquenal I!
Economia centralizada
Economia Emergentes
Os Não Alinhados
Comunismo Chinês
Semestre 2
Comunismos Exóticos (de CUBA à FRELIMO)
Movimentos de Libertação Anti-Capitalistas
Leninismo I
Estalinismo I
Anti-Trotskismo e Eliminação de Rivais
Ano 3
Semestre 1
Plano Quinquenal III
O Capitalismo e o Fim da História
O Grupo de Bilderbeg e a Reacção
Actividades Anti-Maçonicas
Grandes Cabalas do Capitalismo
Semestre 2
Neo-Liberalismo e os Chicago-Boys
Conspiração de Bretton Woods
Meios de Produção Industriais
Comunidades Trabalhadoras Rurais
Técnicas de Dinamização Sindical
Ano 4 - Mestrado Integrado
Semestre 1
Plano Quinquenal IV
A via operária socialista
Socialismo Moderno
Euro Socialismo
Tese - Comunismo Norte Coreano (Juche)
Tese - Inimigos Eternos do Socialismo
Semestre 2
Socialismo Urbano (Caviar)
Os Avanços Sociais da Esquerda
Inclusão, Diversidade e Fracturização das Causas
Estado Nação e Re-unificação operária
Luta de Classes I
Tese - Estalinismo Avançado (Manipulação e Gulag).
Ano 5
Semestre 1
Plano Quinquenal V
Planeamento militar soviético
Técnicas de infiltração
Luta de Classes II
Tese- Modelos de Auto-Gestão
Tese - Pós-humanismo
Semestre 2
Pan-Sexualidades
Arnarco-Comunismo
Comunismo Virtual, do Second Life à Bitcoin
AgroComunismo e Cooperativismo
Comunas, dos primitivos aos modernos
Tese- Fim da História
Tese- Meios de produção digitais
"Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade." - Alexandre Herculano
sexta-feira, 23 de maio de 2014
sábado, 29 de março de 2014
Coitados dos aristocratas do regime!
O regime democrático português inclui um conjunto de pessoas que se comportam como seus donos. Defensores tenazes do 'status quo', bramam contra qualquer mudança que seja proposta. O que está, tem de ficar, e quem disser o contrário é intelectualmente indigente, além de ter motivos sinistros para discordar. Apenas os aristocratas do regime são virtuosos. Apenas os aristocratas do regime sabem o que é melhor para todos. E portanto, os aristocratas do regime têm o direito a ser honrados, saudados, exaltados e adorados.
Eis que, por vezes, há quem não concorde com os aristocratas do regime. Inacreditavelmente, há quem tenha a distinta lata de contra-argumentar, de defender que o que os aristocratas do regime defendem não é o melhor para o país, de não se prostrar, em êxtase, aos pés dos auto-proclamados salvadores da Pátria. Essas pessoas, naturalmente, são traidores, que querem censurar os aristocratas do regime, para continuarem a destruir o país - ou a defender a destruição do país - por dogmaticamente acreditarem em horríveis ideologias (os aristocratas do regime acreditam na Verdade) e por estarem a soldo de sinistros interesses.
José Pacheco Pereira, barbudo herói pátrio, tem um programa de televisão a título individual, participa na Quadratura do Círculo, escreve num blogue e escreve em jornais, e ninguém o impede de o fazer, mas ai Jesus que a atitude perante ele é censória. Não lhe prestam vassalagem, como deviam. Não anunciam as suas 'ideias' com trombetas. Não levam Manuela Ferreira Leite ou António Bagão Félix em ombros, como deveriam. Não há uma celebração permanente de todos aqueles que se dignaram juntar para anunciar ao mundo que há uma alternativa, sem nunca especificar muito bem como concretizá-la (ou, sequer, sem especificar grandemente no que consiste a alternativa, para lá de umas generalidades que nem alternativa são).
Pobres vítimas que são os aristocratas do regime. Pobres coitados, que quando vêm a público não recebem as palmas unânimes que gostariam de obter. Pobres coitados, que não recebem as alvíssaras que lhes pensam ser devidas. Coitados que são, que há quem não concorde com o que dizem ou com o que fazem. Que não têm o devido respeito pela Verdade aristocrática. Que não dão valor aos Grandes Timoneiros, que nos pretendem guiar a um Amanhã sempre solarengo.
Coitados dos aristocratas do regime.
Coitados dos aristocratas do regime.
sábado, 8 de março de 2014
A saída da Troika
O fim do PAEF não vai significar senão isso: o PAEF acaba. Não vai iniciar-se um novo ciclo. Não vai, por magia, mudar tudo de um dia para o outro. Não vamos passar a ter as condições que existiam pré-crise, interna ou internacionalmente. E no entanto, o momento da saída da Troika não deixará de ser um momento importante. Terminando a implementação oficial do programa, pode fazer-se um balanço do que foi feito e do que ficou por fazer. Daquilo que se conseguiu e daquilo que não se conseguiu. Um balanço importante para o período pós-PAEF, em que se terá de partir dessa análise para tentar melhorar em relação ao que se fez até agora.
Uma coisa que não se fez até agora e que toda a gente parece supostamente achar muito necessária é a famosa reforma do Estado. O nosso Vice-Primeiro Ministro fez o favor de apresentar um documento em que lançava umas ideias soltas, sem grande fio condutor, no qual, por entre chavões, se encontravam algumas ideias que poderiam ser mais exploradas. Desde então, o relatório sobre a reforma do Estado parece esquecido. Aliás, parece ter sido redigido e apresentado por mera obrigação. Algo feito à pressão, numas horas, em cima do joelho, apenas e só porque tinha sido anunciado que ia sair um relatório.
Que eu tenha reparado, apenas o Prof. Pedro Pita Barros, no seu blogue, levou a sério o relatório apresentado pelo Vice-Primeiro Ministro. As análises não foram mais além porque o documento não o permitia. E infelizmente não surgiu mais nada para densificar o relatório original. E claro, ninguém exigiu a ninguém que fosse mais além. Nem ao Governo, nem à Oposição. Ninguém exigiu ao Governo, e continuou a exigir, que apresentasse mais do que aquilo que apresentou. E ninguém foi atrás dos partidos da oposição para apresentarem alguma coisa que se visse, além das habituais críticas ocas.
A saída da Troika não vai curar nada disto. Apesar de termos um período exigente, não há exigência com quem nos governa e com quem nos quer governar. Análises como as de Marcelo Rebelo de Sousa continuarão a ser debatidas como tendo conteúdo e continuará a ser dada imensa credibilidade aos Nicolaus Santos deste mundo, talvez em busca do novo Artur Baptista da Silva. Continuaremos a ver "liberalismo" confundido com "fascismo". Continuaremos a não ver um debate mediático alargado sobre a UE, apenas mais insultos à Alemanha por entre exigências de que a "Alemanha pague a crise" (a versão a nível europeu de "os ricos que paguem a crise").
Esperamos pela saída da Troika e eu assisto a tudo isto. Assisto a tudo isto e não consigo evitar pensar que estou a assistir ao estrebuchar de um regime que vive de ilusões e de fanfarronices, em que o pavão com o melhor chavão tem o poder na mão - geralmente, quando o pavão anterior cai de podre. Vejo muito a ser feito a tentar manter o mais possível aquilo que já existe, mas não vejo uma tentativa de rejuvenescer, revigorar ou mesmo refundar a democracia portuguesa. E penso que, devendo sempre ser esse o ímpeto, poderia ser o que faríamos após a saída da Troika.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
A Realidade dos Regimes
Num segmento
do seu programa Real Time with Bill Maher, o comediante Bill
Maher, senhor que aprecio bastante, tanto pelo que costuma defender
como pelo seu tom politicamente incorrecto, perguntou a um dos seus
convidados se os Estados Unidos estariam melhores com um sistema de
governo parlamentar. A convidada, uma deputada no Canadá, não
respondeu directamente qual dos sistemas, presidencialista ou
parlamentarista, seria melhor mas admitiu apreciar a celeridade do
processo de decisão no seu país em comparação com o vizinho a
sul. O próprio Maher apresentou algumas das vantagens que via no
parlamentarismo. Reconhecendo a validade de muita coisa do que foi
dito nessa pequena troca de impressões, devo dizer que considero que
este tipo de debates acerca dos méritos de cada sistema não é tão
produtivo como seria de esperar.
Considero fundamental que se
conheçam as diferenças entre os vários modelos e que se perceba
quais as competências de cada órgão tanto como previsto
constitucionalmente como na prática, já que é muito provável que
estes divirjam bastante. Simultaneamente é fundamental perceber o
sistema para conhecer quais os incentivos que gera. No entanto é
importante voltar a dizer que não é a organização do sistema que
é decisiva na forma como os vários agentes da comunidade política
se comportam. O modelo pode criar incentivos nesta ou naquela
direcção mas são os hábitos e os costumes dos membros da
comunidade que vão ser os principais arquitectos dos meios de
funcionamento de um dado regime (claro que estes a longo prazo também
serão influenciados pelo modelo). A deputada canadiana provavelmente
estará certa quando elogia o regime do seu país mas isso é antes
de mais um elogio ao Canadá, não ao parlamentarismo. Muitas das
coisas que ela aprecia naquele regime não serão válidas noutros
países dotados das suas próprias variantes do parlamentarismo.
Muitas das coisas admiráveis no modelo de governo americano, e ainda
vai havendo algumas nestes tempos de crise de identidade, são antes
de mais coisas que acho admiráveis no carácter da nação
americana. O regime e o seu funcionamento reflectem a história de um
país mas também os seus hábitos e costumes. Naturalmente que se
deve ter cautela com as generalizações mas há padrões e hábitos
observáveis em larga escala e estes variam de sociedade em sociedade
com efeitos divergentes.
A título de exemplo e já o disse aqui, os
americanos tendem a preferir viver com o risco que a liberdade impõe
enquanto nós tendemos a tentar restringi-la de modo a evitar
comportamentos considerados abusivos. Ambas as posições têm um
custo e consequências práticas que vão para além das questões de
princípio. No caso português, a realidade e a ficção da
constituição estão muito longe uma da outra. Por cá sofremos
naturalmente de termos mais uma vez importado lixo reciclado de
origem francesa, neste caso o semi-presidencialismo, mas sofremos
antes de mais por sermos pobres e somos pobres não porque temos o
modelo de regime que temos mas por sermos periféricos e pequenos. De
igual modo não somos pobres por termos políticos corruptos, temos
políticos corruptos devido sobretudo à pobreza. Podemos e devemos
discutir reformas do nosso modelo de governo* mas iludem-se aqueles
que depositam a sua fé na importação de modelos como meio de
resolver os nossos vícios. Estes últimos, sejam eles quais forem,
irão impor-se e subverter qualquer ordem política e jurídica que
optemos por criar. Nesse
sentido, a asfixia da liberdade torna-se ainda mais perniciosa, já
que impede aqueles que não se revêm no sentido tomado pela maioria
de se exprimirem e promoverem alternativas, não necessariamente
apenas pela palavra, mas por práticas diferentes.
* A mais recente proposta de alteração da lei eleitoral do sempre acéfalo líder do centro de emprego socialista é um óptimo exemplo de irrelevâncias disfarçadas de reformas.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Proibicionismo
O tema das praxes,
recorrente na nossa imprensa e sempre sem grandes consequências,
está de volta. Devo dizer antes de mais que acho a prática um
disparate sem grande interesse e discordo do choradinho que as
associações académicas fazem sempre que se ataca a sua tradição
sagrada e inviolável. Dizem estas que a praxe é importante para
integrar o aluno, para lhe interiorizar a hierarquia, que é feito em
todo o lado, entre outros disparates. Não me parece que naquelas
instituições onde não há praxe os alunos não estejam integrados,
que desrespeitem os professores ou sejam em geral inimigos da ordem
pública no campus. Falo por experiência própria de ter estado em
mais que uma universidade, tanto cá como no estrangeiro.
No que diz
respeito à hierarquia entre os alunos mais novos e mais velhos acho
um argumento bastante asqueroso, não devo aos outros alunos, com
mais ou menos matriculas um respeito especial que não tenha já pelo
comum ser humano no dia a dia em sociedade. Até porque no caso
português esses ditos “veteranos” são geralmente gente com mau
percurso académico que mais se dedica a estas actividades do que ao
estudo. Com a introdução de propinas esse fenómeno decresceu, mas como o grosso
dos custos do ensino superior ainda está disperso pelo contribuinte e não recai sobre o beneficiário
da educação superior, haverá sempre gente que se pode dar ao luxo
de ocupar lugares em instituições públicas durante largos anos.
Dito isto, também não me revejo na obsessão do bloco de esquerda
em proibir, que em verdade é uma obsessão nacional de proibir ou
regular toda a minúcia da vida humana. Tende-se a achar que é pela
criação de mais regras ou proibições que as coisas melhoram,
entretendo-se a ilusão que se pode obter controlo através de mais
detalhados regulamentos e restrições. Os apoiantes destas medidas
não parecem preocupados em explicar como se procederia à
fiscalização de tal proibição. O que é praxe? Quando os alunos
se reúnem aos berros com camisas a anunciar “praxe” não será
muito complicado mas o quão difícil é camuflar esta actividade?
Veremos a polícia a deter grupos de indivíduos barulhentos no
bairro alto por suspeita de actividades praxistas? Eliminar as
associações académicas provavelmente seria o suficiente para
eliminar, pelo menos de forma aberta, a actividade em questão mas da
última vez que verifiquei havia liberdade de associação em
Portugal. Imagino que possamos ver em breve mais uma hemorragia legislativa a
procurar apaziguar a opinião pública e gerar alguma propaganda
positiva para o governo com o único resultado que tudo ficará na
mesma. No fim,
teremos a lei menos geral e menos abstracta, menos transparente e
mais difícil de aplicar.
A única via que vejo necessária para atacar o problema é a via administrativa. Da minha parte acho inadmissível que
instituições do estado (nas privadas a questão é ligeiramente
diferente), financiadas em larga medida pelo erário público,
tolerem e pactuem com este tipo de actividades. Sim, as praxes são
simplesmente empurradas para fora do espaço físico da universidade
se as reitorias e os professores fizerem o seu trabalho mas parece-me
importante que a instituição dê o exemplo e se distancie não só
nas palavras mas pela acção.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
1914
Em 2014, enquanto o líder
do CDS estiver a celebrar e a propagandear a sua vitória sobre a
troika e enquanto Portugal estiver entretido a celebrar 25 de Abril sempre, uma boa parte da Europa estará no auge de relembrar a guerra
de 14-18. Ao contrário do que nos quis fazer crer Vladimir Putin,
este conflito foi verdadeiramente a maior catástrofe geopolítica do
século vinte, com o fim de quatro impérios e o (re)nascimento de
vários estados no leste europeu, principalmente. Nos principais
países participantes, ou estados que lhes sucederam, tem corrido
muita tinta sobre a importância da Grande Guerra, com inúmeros
livros, artigos de jornal e documentários a descrever em pormenor
tanto o próprio conflito como os anos que lhe antecederam. Este
centenário chega-nos, com o sentido irónico do destino, na mesma
altura em que a Alemanha é por muitos lados desta UE, vilipendiada,
achincalhada e acusada de estar, pela terceira vez, ocupada com o
“espatifar da Europa”, nas palavras infelizes de João Soares há
uns largos meses na SIC Notícias.
Na historiografia actual mais sóbria, longe do barulho mediático da crise do euro, o papel da Alemanha em 1914 já está bem longe daquele que lhe foi atribuído em Versalhes, ou seja, a Alemanha como a única responsável pelo deflagrar das hostilidades. Admita-se que a Segunda Guerra Mundial, muito mais um conflito entre bons e maus (ou algo mais complicado de descrever no choque de titãs Alemanha-URSS) com a Alemanha Nazi verdadeiramente algo que merecia a destruição e derrota totais, acabou por obscurecer a percepção do primeiro grande conflito industrial europeu. Nesta visão, os Alemães de 14 já eram Nazis, já procuravam o domínio do mundo, e muito provavelmente já procuravam o extermínio de povos considerados inferiores.
A
realidade contudo não é tão simples e a constelação de poder em
Julho de 1914 é mais complexa do que a de 1939. Todos os
participantes europeus eram impérios, todos tinham políticas
coloniais, todos alimentaram o fogo do nacionalismo enquanto se
confrontavam internamente com o alargamento do sufrágio, o
sindicalismo e nos impérios multinacionais, forças separatistas
variadas.
Todos tinham razões diversas para marchar para a guerra. Gostava que a imprensa portuguesa e as instituições nacionais se debruçassem mais sobre o tema, uma guerra na qual Portugal participou, com consequências internas devastadores, e onde de forma limitada se deu um ensaio de guerra colonial quando Lisboa enviou tropas tanto para Angola como para Moçambique, ambas colónias adjacentes a territórios alemães. Infelizmente talvez isto seja esperar demasiado dos nossos tudólogos e especialistas da táctica política e das Visões História, com os seus artigos mal escritos e de pesquisa pobre e das nossas chefias, para quem a realidade acaba na fronteira ou, quando não é o caso, se circunscreve à diáspora.
Todos tinham razões diversas para marchar para a guerra. Gostava que a imprensa portuguesa e as instituições nacionais se debruçassem mais sobre o tema, uma guerra na qual Portugal participou, com consequências internas devastadores, e onde de forma limitada se deu um ensaio de guerra colonial quando Lisboa enviou tropas tanto para Angola como para Moçambique, ambas colónias adjacentes a territórios alemães. Infelizmente talvez isto seja esperar demasiado dos nossos tudólogos e especialistas da táctica política e das Visões História, com os seus artigos mal escritos e de pesquisa pobre e das nossas chefias, para quem a realidade acaba na fronteira ou, quando não é o caso, se circunscreve à diáspora.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
O individuo
Recentemente fui,
juntamente com o fundador deste blogue, ver o filme “Captain
Phillips”. Nessa película, Tom Hanks protagoniza o titular capitão
Phillips e o drama que este viveu quando o cargueiro americano que
capitaneava foi tomado por piratas somalis. Mais tarde, o capitão
foi feito refém pelos piratas quando estes se escapuliram no barco
salva-vidas do cargueiro. Neste permaneceram durante várias horas antes de
forças americanas resgatarem o capitão feito prisioneiro. Apenas um
dos piratas sobreviveu e apenas porque tinha aceite encontrar-se com
um negociador a bordo do vaso de guerra norte-americano encarregue da
operação de salvamento. O filme baseia-se no livro escrito pelo
próprio Phillips depois da sua epopeia em 2009. Independentemente
das liberdades que tomará no acto de adaptação, o filme é, como o
João Mendes comentou à saída da sala de cinema, e estou a
parafrasear, uma ode à resiliência do individuo quando este
enfrenta situações extremas, um tema especialmente apreciado pela
cultura americana.
Mais tarde, fui também com o João ver a mais recente obra-prima de Martin Scorsese, O Lobo de Wall Street, uma “queda do império romano” nas palavras de Leonardo DiCaprio que assume o papel do também real Jordan Belfort e a sua meteórica ascensão e queda como corrector de Wall Street ocupado em defraudar investidores em muitos milhões de dólares, o que lhe permitiu a ele e aos que com ele trabalhavam, usufruir de uma vida de excesso até ser detido e após negociações com a procuração, ter cumprido quase dois anos de cadeia. Desta vez, à saída do filme, comentei que esta obra apresentava o reverso da medalha daquilo que vimos retratado em Phillips. A obra de Scorsese retrata o individualismo desinibido e desprovido de regras, a procura desenfreada de acumulação material e a satisfação hedonística de todos os apetites do homem.
Esta face da moeda será provavelmente parte da justificação dada, geralmente pelo estado, para as variadas limitação à expressão e responsabilização individual. O individuo, egoísta e desprovido de moralidade inata, carece de uma força que o contenha e moralize de modo a que possa coexistir pacificamente em sociedade. O estado, e muitas vezes as autoridades religiosas que com ele pactua ou até se confundem, assumem este “fardo”, justificando assim toda a espécie de restrições à liberdade de acção dos cidadãos. Em Portugal em particular, as corporações e a televisão e rádio públicas, entre outros, são muitas vezes vistas como essenciais baluartes da moral pública. Entre a anarquia e o estado totalitário, ambos formas de tirania, existe mesmo assim amplo espaço de manobra no que diz respeito ao grau de liberdade que cada comunidade política está disposta a permitir aos seus súbditos.
Tendencialmente o Estados Unidos, pelo menos em teoria se nem sempre na prática, favorecem a liberdade individual com todas as vantagens e responsabilidades que isso acarreta. No domínio da liberdade de expressão, são a meu ver ainda a referência a nível mundial. Na Europa, o espírito das leis e das mentalidades tende a vacilar para o outro lado desta equação e prefere-se geralmente restringir fortemente o raio de acção de cada um através de políticas paternalistas que fazem transparecer uma grande desconfiança no individuo, sendo a França um caso particularmente gravoso. Durante o próprio filme comentei que apreciava as possibilidades dadas às empresas quando procuram financiamento, quando este retratava os mercados de participações secundários onde se trocam acções de pequenas empresas, as chamadas “penny stocks”, um fenómeno que em Portugal não ocorre, sendo que temos empresas altamente endividadas e extremamente carentes de capital. Reflectirá provavelmente a atitude geral que mais vale proibir de modo a impedir excessos futuros, do que autorizar e responsabilizar para em caso de abuso fazer uso das instituições de justiça, numa lógica de que os possíveis ganhos que advêm da liberdade acrescida não ultrapassam os custos do policiamento de actividades potencialmente prejudiciais para o interesse público. No entanto, em casos em que a proibição é preferida, a procura poderá ser tanta que contornar a lei se torna rotineiro, algo que em Portugal já se torna habitual.
Mais tarde, fui também com o João ver a mais recente obra-prima de Martin Scorsese, O Lobo de Wall Street, uma “queda do império romano” nas palavras de Leonardo DiCaprio que assume o papel do também real Jordan Belfort e a sua meteórica ascensão e queda como corrector de Wall Street ocupado em defraudar investidores em muitos milhões de dólares, o que lhe permitiu a ele e aos que com ele trabalhavam, usufruir de uma vida de excesso até ser detido e após negociações com a procuração, ter cumprido quase dois anos de cadeia. Desta vez, à saída do filme, comentei que esta obra apresentava o reverso da medalha daquilo que vimos retratado em Phillips. A obra de Scorsese retrata o individualismo desinibido e desprovido de regras, a procura desenfreada de acumulação material e a satisfação hedonística de todos os apetites do homem.
Esta face da moeda será provavelmente parte da justificação dada, geralmente pelo estado, para as variadas limitação à expressão e responsabilização individual. O individuo, egoísta e desprovido de moralidade inata, carece de uma força que o contenha e moralize de modo a que possa coexistir pacificamente em sociedade. O estado, e muitas vezes as autoridades religiosas que com ele pactua ou até se confundem, assumem este “fardo”, justificando assim toda a espécie de restrições à liberdade de acção dos cidadãos. Em Portugal em particular, as corporações e a televisão e rádio públicas, entre outros, são muitas vezes vistas como essenciais baluartes da moral pública. Entre a anarquia e o estado totalitário, ambos formas de tirania, existe mesmo assim amplo espaço de manobra no que diz respeito ao grau de liberdade que cada comunidade política está disposta a permitir aos seus súbditos.
Tendencialmente o Estados Unidos, pelo menos em teoria se nem sempre na prática, favorecem a liberdade individual com todas as vantagens e responsabilidades que isso acarreta. No domínio da liberdade de expressão, são a meu ver ainda a referência a nível mundial. Na Europa, o espírito das leis e das mentalidades tende a vacilar para o outro lado desta equação e prefere-se geralmente restringir fortemente o raio de acção de cada um através de políticas paternalistas que fazem transparecer uma grande desconfiança no individuo, sendo a França um caso particularmente gravoso. Durante o próprio filme comentei que apreciava as possibilidades dadas às empresas quando procuram financiamento, quando este retratava os mercados de participações secundários onde se trocam acções de pequenas empresas, as chamadas “penny stocks”, um fenómeno que em Portugal não ocorre, sendo que temos empresas altamente endividadas e extremamente carentes de capital. Reflectirá provavelmente a atitude geral que mais vale proibir de modo a impedir excessos futuros, do que autorizar e responsabilizar para em caso de abuso fazer uso das instituições de justiça, numa lógica de que os possíveis ganhos que advêm da liberdade acrescida não ultrapassam os custos do policiamento de actividades potencialmente prejudiciais para o interesse público. No entanto, em casos em que a proibição é preferida, a procura poderá ser tanta que contornar a lei se torna rotineiro, algo que em Portugal já se torna habitual.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
O desencanto ao entrar em 2014
2014 vai ser mais um ano duro. A troika sair (ou não) não vai alterar isso. O cronómetro em contagem decrescente do Sr. Vice-Primeiro Ministro diz mais sobre o Sr. Vice-Primeiro Ministro e o seu amor por golpes publicitários do que sobre o futuro do país. É cronometragem fiada, que interessa tanto como o "novo ciclo", anunciado e, claro, inexistente.
Em 2014, não teremos falta de quem se entretenha a prometer balas de prata. Ou a falar como se o Estado português tivesse poderes mágicos e a capacidade para implementar medidas sem custos, de forma totalmente independente do resto da União Europeia ou do mundo. Ou a dizer que basta fazer voz grossa e os problemas desaparecem.
Em 2014 continuaremos a ter conjuntos alargados de tudólogos a dedicar o seu tempo a reduzir o mundo a um conjunto de histórias simplistas. E cada Ministro continuará a agir de forma independente e sem coerência entre si, como o "Estado Melhor" do Sr. Vice-Primeiro Ministro (que só o Prof. Pedro Pita Barros parece ter analisado com o máximo de profundidade que aquele pobre documento permitia) apenas veio confirmar que já está a ser feito.
2014 trará eleições europeias, que podiam ser utilizadas para discutir a União Europeia, e serão ao invés muito provavelmente utilizadas para continuar a contar histórias da carochinha sobre "casos mediáticos" sem substância. E isso será considerado irrelevante pelos encartados tudólogos da nossa praça, que serão aliás os primeiros a alimentar ou ajudar a criar os tais "casos mediáticos".
2014 traz a promessa de mais do mesmo. Será mais um ano desencantado de uma crise duradoura, com as mesmas cantilenas e promessas de sempre. Será um ano novo em trajes velhos. E será, é esta a minha razoavelmente emocional previsão, um ano duro.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
A Teoria do Coitadinho
De acordo com a Teoria do Coitadinho, há três tipos de pesssoas: os coitadinhos, os mauzões e os heróis épicos. E diz, em suma, que os coitadinhos são maltratados pelos mauzões e salvos pelos heróis épicos. Sendo que, naturalmente, quem usa a Teoria do Coitadinho é sempre candidato a herói épico.
Através da Teoria do Coitadinho, os candidatos a heróis épicos, seres impolutos e de fina estirpe ética (como poderia ser de outra forma?), reduzem uma quantidade impressionante de pessoas a supostas vítimas, quase que tolinhas e irresponsáveis, que necessitam de ser salvas das maldades dos mauzões, cujas únicas motivações são a maldade, a crueldade e o desprezo pelo próximo.
A Teoria do Coitadinho serve para desresponsabilizar as pessoas individuais de toda e qualquer responsabilidade, ao mesmo tempo que se cria um demónio malévolo (ou um conjunto de demónios malévolos) para arcar com todas as culpas de todos os horrores que acontecem no mundo.
A Teoria do Coitadinho trata adultos como crianças e as crianças como imbecis. Infantiliza e reduz o debate público à propagação constante de um conjunto de chavões, de teorias da conspiração e de insinuações torpes. Tenta reduzir os lados contrários no debate a 'radicais' com uma 'agenda extremista' guiada por 'cegueira ideológica' contra um conjunto de vítimas que nada conseguem fazer por si.
Quando os proclamados coitadinhos e vítimas não vão na conversa da Teoria do Coitadinho, e por acaso até concordam com medidas que os candidatos a heróis épicos consideram erradas, então é porque engoliram "propaganda" - palavra com conotação pejorativa que apenas se aplica ao que os mauzões dizem. Aquio que os candidatos a heróis épicos dizem quando defendem o que pensam não é "propaganda". É simplesmente espalhar a Verdade para aqueles que estejam preparados para a receber.
A Teoria do Coitadinho é popular em todo o espectro político, da Esquerda à Direita. A narrativa que constrói, de um conjunto de paladinos a salvar inocentes de terríveis demónios, é fácil de apreender. E é muito tentadora quando se tem de lidar com crises sérias num mundo que não é assim tão simples.
A Teoria do Coitadinho conta uma história muito apelativa, e nunca vai deixar o debate político e mediático. Os coitadinhos vão variar, os candidatos a heróis épicos e os mauzões também (embora haja mauzões que surjam amiúde, como por exemplo os bancos ou os partidos políticos), mas a lengalenga vai ser sempre a mesma. E vai sistemática e ironicamente (dado que é suportada por auto-proclamados paladinos da ética) ajudar a revelar o pior que há nos seres humanos, enlameando constantemente o debate público.
Através da Teoria do Coitadinho, os candidatos a heróis épicos, seres impolutos e de fina estirpe ética (como poderia ser de outra forma?), reduzem uma quantidade impressionante de pessoas a supostas vítimas, quase que tolinhas e irresponsáveis, que necessitam de ser salvas das maldades dos mauzões, cujas únicas motivações são a maldade, a crueldade e o desprezo pelo próximo.
A Teoria do Coitadinho serve para desresponsabilizar as pessoas individuais de toda e qualquer responsabilidade, ao mesmo tempo que se cria um demónio malévolo (ou um conjunto de demónios malévolos) para arcar com todas as culpas de todos os horrores que acontecem no mundo.
A Teoria do Coitadinho trata adultos como crianças e as crianças como imbecis. Infantiliza e reduz o debate público à propagação constante de um conjunto de chavões, de teorias da conspiração e de insinuações torpes. Tenta reduzir os lados contrários no debate a 'radicais' com uma 'agenda extremista' guiada por 'cegueira ideológica' contra um conjunto de vítimas que nada conseguem fazer por si.
Quando os proclamados coitadinhos e vítimas não vão na conversa da Teoria do Coitadinho, e por acaso até concordam com medidas que os candidatos a heróis épicos consideram erradas, então é porque engoliram "propaganda" - palavra com conotação pejorativa que apenas se aplica ao que os mauzões dizem. Aquio que os candidatos a heróis épicos dizem quando defendem o que pensam não é "propaganda". É simplesmente espalhar a Verdade para aqueles que estejam preparados para a receber.
A Teoria do Coitadinho é popular em todo o espectro político, da Esquerda à Direita. A narrativa que constrói, de um conjunto de paladinos a salvar inocentes de terríveis demónios, é fácil de apreender. E é muito tentadora quando se tem de lidar com crises sérias num mundo que não é assim tão simples.
A Teoria do Coitadinho conta uma história muito apelativa, e nunca vai deixar o debate político e mediático. Os coitadinhos vão variar, os candidatos a heróis épicos e os mauzões também (embora haja mauzões que surjam amiúde, como por exemplo os bancos ou os partidos políticos), mas a lengalenga vai ser sempre a mesma. E vai sistemática e ironicamente (dado que é suportada por auto-proclamados paladinos da ética) ajudar a revelar o pior que há nos seres humanos, enlameando constantemente o debate público.
sábado, 21 de dezembro de 2013
Maria do Rosário Mattos & Associados
Quando vi o anúncio da Maria do Rosário Mattos & Associados, ri-me. Ri-me por vários motivos. Os principais: achei piada ao anúncio e achei piada ao contraste que o anúncio fazia com a ideia-tipo da advocacia propagada em Portugal. Mas sabia também o que poderia acontecer. Sabia que a Ordem dos Advogados poderia bem receber participações sobre aquele anúncio. E sabia que o único riso que isso justificaria seria o riso nervoso de quem não sabe bem como reagir a uma situação absurda.
Como era expectável, a Ordem abriu um inquérito. Houve gente ofendida com o anúncio que considera que, como ficou ofendida, aquelas advogadas devem ser punidas. Devem ser punidas porque, apesar do anúncio se referir a elas, e apenas a elas, e à sua sociedade de advogados, o anúncio é uma afronta a todos os advogados do país. Porque o anúncio deixa algumas pessoas desconfortáveis. Porque o anúncio não segue o padrão cinzento que algumas pessoas consideram como o único possível para advogados. Porque a corporação se sobrepõe à possibilidade de haver diferenças, e porque o incómodo de alguns se sobrepõe à liberdade de quem quer ser diferente.
Só que o problema aqui não é o anúncio - é uma questão de gosto a apreciação que se faz do anúncio, e quem o vir decidirá livremente se vai ou não contratar a sociedade de advogados tendo em conta aquilo que viu.
Não, o problema aqui não é o anúncio. O problema aqui é a abertura do inquérito e uma eventual punição.
A Maria do Rosário Mattos & Associados deve ter direito a promover-se como quiser, a ter a estratégia comercial que quiser, dentro das regras gerais sobre o tema. Aquele anúncio não coloca em causa a dignidade de qualquer profissão. E o pensamento corporativo que acha que um anúncio de uma sociedade de advogados específica coloca em causa todas as outras sociedades de advogados e, em particular, as advogadas portuguesas, é parte dos nossos problemas. Numa sociedade plural, há que saber conviver com a liberdade de pensamento, de expressão, com o direito à diferença e com o facto de, muitas vezes, termos de ver coisas de que não gostamos e que até consideramos ofensivas. A ideia de que as advogadas em causa devem ser punidas por fazer aquele anúncio é incompatível com a ideia de uma sociedade livre e plural, com o problema acrescido de, enquanto se causa escândalo sobre este não-problema, não se discutem e resolvem verdadeiros problemas relativos à advocacia portuguesa.
Como era expectável, a Ordem abriu um inquérito. Houve gente ofendida com o anúncio que considera que, como ficou ofendida, aquelas advogadas devem ser punidas. Devem ser punidas porque, apesar do anúncio se referir a elas, e apenas a elas, e à sua sociedade de advogados, o anúncio é uma afronta a todos os advogados do país. Porque o anúncio deixa algumas pessoas desconfortáveis. Porque o anúncio não segue o padrão cinzento que algumas pessoas consideram como o único possível para advogados. Porque a corporação se sobrepõe à possibilidade de haver diferenças, e porque o incómodo de alguns se sobrepõe à liberdade de quem quer ser diferente.
Só que o problema aqui não é o anúncio - é uma questão de gosto a apreciação que se faz do anúncio, e quem o vir decidirá livremente se vai ou não contratar a sociedade de advogados tendo em conta aquilo que viu.
Não, o problema aqui não é o anúncio. O problema aqui é a abertura do inquérito e uma eventual punição.
A Maria do Rosário Mattos & Associados deve ter direito a promover-se como quiser, a ter a estratégia comercial que quiser, dentro das regras gerais sobre o tema. Aquele anúncio não coloca em causa a dignidade de qualquer profissão. E o pensamento corporativo que acha que um anúncio de uma sociedade de advogados específica coloca em causa todas as outras sociedades de advogados e, em particular, as advogadas portuguesas, é parte dos nossos problemas. Numa sociedade plural, há que saber conviver com a liberdade de pensamento, de expressão, com o direito à diferença e com o facto de, muitas vezes, termos de ver coisas de que não gostamos e que até consideramos ofensivas. A ideia de que as advogadas em causa devem ser punidas por fazer aquele anúncio é incompatível com a ideia de uma sociedade livre e plural, com o problema acrescido de, enquanto se causa escândalo sobre este não-problema, não se discutem e resolvem verdadeiros problemas relativos à advocacia portuguesa.
domingo, 15 de dezembro de 2013
Dez minutos sem piada nenhuma
Já quando esmiuçaram os sufrágios, aquilo a que assisti pareceu-me o resultado de muita preguiça à solta e pouca preocupação em fazer alguma coisa com a mínima qualidade ou relevância.
Mais recentemente, os Gato Fedorento decidiram, com pompa e circunstância, apresentar ao país dez minutos deprimentes. Nesses dez minutos, somos presenteados com uma única piada, que atravessa todo o programa, e que não tem piada nenhuma: toca a dar pancada ao PM e ao Vice-PM.
Sim, de facto, como não achar piada a isto? Como não achar piada à forma forçada (e requentada) com que os quatro senhores demonstram uma impressionante falta de coisas para, de facto, dizer?
São dez minutos sem qualquer inteligência mas com muita preguiça. Depois de tanto alarido, os Gato Fedorento não foram além da conversa de café, sem qualquer "twist" relevante.
Não é obrigatório, claro, que o humor tenha um ponto. O humor pelo humor é legítimo. Há imensas coisas engraçadas, e mesmo muito engraçadas, precisamente pelo seu absurdo, e por não terem qualquer propósito.
Mas isto? "A Solução"? Isto foram 10 minutos sem interesse. Algo a que já se está habituado quando se vê e ouve comentário político em Portugal. Mas enfim, já agora, podia ter tido piada...
P.S.: Quanto à participação de Rodrigo Guedes de Carvalho, que tem suscitado reacções críticas, não vejo qualquer problema em um jornalista participar num programa satírico, da mesma forma que não vejo problema em ver jornalistas a aparecerem, como eles próprios, em séries como a série "House of Cards", ou em filmes. Claro que este programa em particular não tem piada nenhuma. Mas isso é uma questão de gosto, subjectiva, e que em nada coloca em causa o princípio de que este tipo de intervenção é perfeitamente razoável, e em nada põe em causa a dignidade de quem quer que seja - e muito menos da "profissão de jornalista".
domingo, 8 de dezembro de 2013
Tea Party, este Governo, José Manuel Pureza e Pedro Marques Lopes
Outro dia li este artigo de José Manuel Pureza, na qual o referido senhor professor disserta sobre o Tea Party e o Governo. Hoje li este artigo de Pedro Marques Lopes em que o referido senhor faz precisamente o mesmo. E encontrei também este artigo.
Querer comparar este Governo ao Tea Party americano é um exercício complicado. É difícil (eu diria impossível) de compaginar com os aumentos de impostos e com os impulsos regulatórios do Governo. É difícil de ligar a toda a estratégia de consolidação orçamental e de «reforma do Estado» (termo utilizado de forma muito lata) que o Governo tem seguido desde 2011 até hoje, que não pretende retirar o Estado das áreas da Saúde, da Educação ou da Segurança Social.
Este Governo não tem mostrado qualquer vontade de 'desmantelar o Estado Social'. A Alemanha não tem mostrado qualquer vontade de 'desmantelar o Estado Social'. E eu não concordo com a posição passiva que este Governo tem tomado em relação à Europa (e o actual Secretário de Estado dos Assuntos Europeus não me tem impressionado), mas não encontro paralelo com a posição adoptada pelo Tea Party face ao Governo federal nos EUA. E também não encontro neste Governo o mesmo tipo de posições que membros do Tea Party têm tomado face à relação entre a Religião e o Estado.
Mas nada disso interessa a José Manuel Pureza ou a Pedro Marques Lopes. Nada disto interessa porque José Manuel Pureza e Pedro Marques Lopes não estão interessados em apresentar o Tea Party, os irmãos Koch e as posições que membros do Tea Party têm assumido e verdadeiramente compará-las com a matriz de actuação do Governo português. Estão interessados em pegar na expressão "Tea Party", associada a extremismo radical anti-Estado, e associá-la ao Governo PSD-CDS actualmente em funções, independentemente daquilo que o Governo tenha efectivamente feito ou anunciado que pretende fazer.
Há várias explicações possíveis para esta comparação. Uma delas é a pura e simples desonestidade intelectual. A outra é a pura e simples ignorância. E, claro, uma explicação será uma combinação destas duas, em que assenta a narrativa que diaboliza este Governo, acusando-se de 'fascista' ou 'neoliberal', duas expressões que perderam já qualquer semblante de conteúdo (em particular a segunda, que neste momento já não tem qualquer significado útil).
Eu não concordo com muita coisa que este Governo tem feito. Não concordo com as prioridades que assumiu e com a (falta de) estratégia que adoptou. Mas sei, como qualquer pessoa minimamente informada relativamente ao que se passa nos EUA sabe, ver a diferença entre este Governo e o Tea Party. E José Manuel Pureza e Pedro Marques Lopes e todos os que façam esta comparação em termos similares, ironicamente, ajudam-me mais a qualificá-los a eles do que ao Governo.
EDITADO: Entretanto encontrei este artigo de Pacheco Pereira, em que o insigne comentador faz a mesma comparação espúria, acrescentando mais um artigo ao rol daqueles que me levam a que eu o tenha deixado de levar a sério.
Querer comparar este Governo ao Tea Party americano é um exercício complicado. É difícil (eu diria impossível) de compaginar com os aumentos de impostos e com os impulsos regulatórios do Governo. É difícil de ligar a toda a estratégia de consolidação orçamental e de «reforma do Estado» (termo utilizado de forma muito lata) que o Governo tem seguido desde 2011 até hoje, que não pretende retirar o Estado das áreas da Saúde, da Educação ou da Segurança Social.
Este Governo não tem mostrado qualquer vontade de 'desmantelar o Estado Social'. A Alemanha não tem mostrado qualquer vontade de 'desmantelar o Estado Social'. E eu não concordo com a posição passiva que este Governo tem tomado em relação à Europa (e o actual Secretário de Estado dos Assuntos Europeus não me tem impressionado), mas não encontro paralelo com a posição adoptada pelo Tea Party face ao Governo federal nos EUA. E também não encontro neste Governo o mesmo tipo de posições que membros do Tea Party têm tomado face à relação entre a Religião e o Estado.
Mas nada disso interessa a José Manuel Pureza ou a Pedro Marques Lopes. Nada disto interessa porque José Manuel Pureza e Pedro Marques Lopes não estão interessados em apresentar o Tea Party, os irmãos Koch e as posições que membros do Tea Party têm assumido e verdadeiramente compará-las com a matriz de actuação do Governo português. Estão interessados em pegar na expressão "Tea Party", associada a extremismo radical anti-Estado, e associá-la ao Governo PSD-CDS actualmente em funções, independentemente daquilo que o Governo tenha efectivamente feito ou anunciado que pretende fazer.
Há várias explicações possíveis para esta comparação. Uma delas é a pura e simples desonestidade intelectual. A outra é a pura e simples ignorância. E, claro, uma explicação será uma combinação destas duas, em que assenta a narrativa que diaboliza este Governo, acusando-se de 'fascista' ou 'neoliberal', duas expressões que perderam já qualquer semblante de conteúdo (em particular a segunda, que neste momento já não tem qualquer significado útil).
Eu não concordo com muita coisa que este Governo tem feito. Não concordo com as prioridades que assumiu e com a (falta de) estratégia que adoptou. Mas sei, como qualquer pessoa minimamente informada relativamente ao que se passa nos EUA sabe, ver a diferença entre este Governo e o Tea Party. E José Manuel Pureza e Pedro Marques Lopes e todos os que façam esta comparação em termos similares, ironicamente, ajudam-me mais a qualificá-los a eles do que ao Governo.
EDITADO: Entretanto encontrei este artigo de Pacheco Pereira, em que o insigne comentador faz a mesma comparação espúria, acrescentando mais um artigo ao rol daqueles que me levam a que eu o tenha deixado de levar a sério.
Da impossibilidade de levar a sério Pacheco Pereira
Ninguém duvida que Pacheco Pereira estudou História e Filosofia e Política. Ninguém duvida que Pacheco Pereira tem a experiência para falar de Política com conhecimento de causa. E, no entanto, cada vez me é mais difícil levar a sério e considerar relevante aquilo que Pacheco Pereira vai dizendo, sobre este Governo, sobre o país, sobre a Europa ou sobre o mundo.
Pacheco Pereira limita as suas intervenções actuais a destilar veneno sobre o Governo ou a auto-proclamar-se um arauto dos fracos contra os fortes. A falta de espessura daquilo que diz é apenas ultrapassada pela pompa e circunstância com que o diz. E a falta de relevância e seriedade de Pacheco Pereira apenas foi sublinhada quando se decidiu associar a Mário Soares na Aula Magna.
Pacheco Pereira embarcou nos discursos da "sensibilidade social". No discurso do "coitadinho". Nas previsões sombrias. Nas imputações de motivos mefistofélicos àqueles com que ele não concorda. Na descaracterização daquilo que é feito, e na demagogia dos simplismos que procuram menorizar outras pessoas. Esta última é, aliás, uma das técnicas preferidas de Pacheco Pereira: apresentar aqueles de quem não gosta como inferiores e como intelectualmente indigentes.
As barbas brancas de Pacheco Pereira não são um posto. O seu pensamento para o país é desconhecido. Aliás, o seu pensamento, em geral, é neste momento essencialmente desconhecido. Porque para dizer e fazer o que Pacheco Pereira vai dizendo e fazendo não é preciso pensar muito. E a sua postura arrogante, de suposta superioridade intelectual, apenas torna mais evidente o puro e simples vazio daquilo que vai dizendo e fazendo por estes dias.
Pacheco Pereira é um exemplo paradigmático de comentador sem conteúdo que alinha pelo discurso anti-crise mais fácil que esteja por aí à mão. O seu historial poderia levar a que se esperasse mais. Mas o seu historial pouco interessa. O que interessa é que, nestes tempos de crise, Pacheco Pereira é um símbolo vivo do 'status quo', do estrebuchar de gente que, mantendo-se alegadamente à margem do regime, acaba por se tornar num seu tenaz defensor. Em mais um a lançar insultos para a praça pública, do trono sobre o qual julga sentar-se.
Por isso me é impossível levar a sério Pacheco Pereira. Porque é impossível debater ideias com Pacheco Pereira. Porque, por estes dias, Pacheco Pereira não tem ideias. Tem bílis.
Pacheco Pereira limita as suas intervenções actuais a destilar veneno sobre o Governo ou a auto-proclamar-se um arauto dos fracos contra os fortes. A falta de espessura daquilo que diz é apenas ultrapassada pela pompa e circunstância com que o diz. E a falta de relevância e seriedade de Pacheco Pereira apenas foi sublinhada quando se decidiu associar a Mário Soares na Aula Magna.
Pacheco Pereira embarcou nos discursos da "sensibilidade social". No discurso do "coitadinho". Nas previsões sombrias. Nas imputações de motivos mefistofélicos àqueles com que ele não concorda. Na descaracterização daquilo que é feito, e na demagogia dos simplismos que procuram menorizar outras pessoas. Esta última é, aliás, uma das técnicas preferidas de Pacheco Pereira: apresentar aqueles de quem não gosta como inferiores e como intelectualmente indigentes.
As barbas brancas de Pacheco Pereira não são um posto. O seu pensamento para o país é desconhecido. Aliás, o seu pensamento, em geral, é neste momento essencialmente desconhecido. Porque para dizer e fazer o que Pacheco Pereira vai dizendo e fazendo não é preciso pensar muito. E a sua postura arrogante, de suposta superioridade intelectual, apenas torna mais evidente o puro e simples vazio daquilo que vai dizendo e fazendo por estes dias.
Pacheco Pereira é um exemplo paradigmático de comentador sem conteúdo que alinha pelo discurso anti-crise mais fácil que esteja por aí à mão. O seu historial poderia levar a que se esperasse mais. Mas o seu historial pouco interessa. O que interessa é que, nestes tempos de crise, Pacheco Pereira é um símbolo vivo do 'status quo', do estrebuchar de gente que, mantendo-se alegadamente à margem do regime, acaba por se tornar num seu tenaz defensor. Em mais um a lançar insultos para a praça pública, do trono sobre o qual julga sentar-se.
Por isso me é impossível levar a sério Pacheco Pereira. Porque é impossível debater ideias com Pacheco Pereira. Porque, por estes dias, Pacheco Pereira não tem ideias. Tem bílis.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Curtas e breves
1. Discute-se na reforma do IRC a manutenção de um imposto complexo, da manutenção ou da criação de benefícios fiscais, e a criação de derramas estaduais. Podia estar-se a discutir a simplificação do imposto, o fim dos benefícios fiscais e baixar as taxa, mas há quem julgue que o que interessa é ajudar as PME por serem PME, porque as PME é que são boazinhas. Podia estar-se a discutir a abolição do imposto, dado que quem o verdadeiramente o acaba a pagar são pessoas individuais (sob a forma de salários mais baixos ou preços mais altos). Mas o que vamos acabar a ter vai continuar a ser um imposto mais complexo do que o desejável, benefícios fiscais aproveitáveis por alguns, e aposto que mesmo depois da grande reforma, o IRC vai continuar a ser alterado todos os anos, incluindo normas relevantes, apenas contribuindo para gerar incerteza e outros problemas.
2. Ouço pouca gente falar no problema das penhoras bancárias. Será que já é possível usar o sistema informático para se fazer penhoras bancárias?
3. Raquel Varela continua a ser tratada como uma autoridade relevante no que toca ao tema da sustentabilidade financeira do Estado. O que parece interessar é que ela diga o oposto do que gente que de facto estudou o assunto diz, não parece interessar muito que o que ela diga tenha por base confusões de conceitos e erros básicos.
4. Afirmações de superioridade moral em debates políticos e acusações espúrias de extremismo são uma eficaz forma de perder tempo, mas não resolvem problema nenhum. Mas claro que, em Portugal, o que está na moda é dizer que o outro lado do debate é "extremista", descendente de lacraus, e apostado em destruir o país. Ou então afirmar-se o último reduto da pureza num mundo pantanoso e tóxico. Em termos substantivos, e fora da retórica histérica, discute-se a alteração de pormenores, e reformas mais substanciais são rapidamente colocadas de parte.
5. A rapidez com que eu vi disseminar-se no meu Facebook que Portugal tinha pura e simplesmente votado contra a libertação de Nelson Mandela é inversamente proporcional à rapidez com que eu vi disseminar-se no meu Facebook a informação de que isto era, pura e simplesmente, mentira. Em 1987, Portugal votou contra uma resolução que reclamava a libertação incondicional de Nelson Mandela e votou a favor de outra resolução que reclamava a libertação incondicional de Nelson Mandela. A diferença entre as resoluções estava em pormenores relevantes, como o apoio da utilização da violência. As mesmas pessoas que se sentiram moralmente superiores por ajudarem a espalhar uma mentira podiam agora demonstrar a sua fibra dizendo que o que tinham dito antes estava errado. Mas isso não vai acontecer. Porque o que é "fixe" é dizer mal de Cavaco Silva (de quem eu, diga-se, não sou fã). E dizer o que aconteceu é muito menos fixe.
6. Vi a peça "A Noite" de José Saramago há uns dias. A peça era execrável, com personagens bidimensionais e uma história sem qualquer espessura ou interesse. Talvez em 1979 ainda fosse muito espectacular dizer que o Estado Novo era mau e quem o apoiava era tudo gente asquerosa, sebosa e nojenta, mas pelo menos em 2013 aquilo parecia datado e desinteressante. Ainda por cima, sabendo-se o que fez José Saramago no DN, a única ironia da peça vinha do que tinha acontecido na vida real. Não me levantei para bater palmas - aliás, não bati palmas. O Estado Novo foi uma ditadura asquerosa, como todas as ditaduras. Mas só porque uma peça diz mal do Estado Novo e dos seus apoiantes, não a torna uma peça boa, inovadora ou interessante.
7. O documento do Vice-Primeiro Ministro sobre reforma do Estado já parece ter sido esquecido. O Vice-Primeiro Ministro tinha como uma das suas principais tarefas elaborar aquele documento. O que saiu, apesar dos valentes esforços do Prof. Pedro Pita Barros para discutir o documento, parece que não vai ser usado para nada, nem sequer para começar um debate em torno da reforma do Estado. Vamos ficar na mesma. E Paulo Portas continua a revelar, como o já tinha feito enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros, que o CDS-PP teria feito um favor ao país se tivesse aproveitado a demissão surpresa do seu líder para se livrar dele e colocar no Governo alguém que, de facto, quisesse fazer jus à ideia de "partido dos contribuintes".
8. O novo Ministro da Economia não tem a má imprensa do anterior Ministro da Economia. Qual a diferença substantiva entre os dois que ajude a explicar este facto?
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Partidos políticos - pensamentos soltos
Os partidos políticos são associações. Resultam da livre associação de um conjunto de pessoas quem pretendem, de forma organizada, participar activamente no processo político e, em particular, participar em eleições. Nem sempre existiram, mas rapidamente surgiram em regimes políticos com parlamentos (embora a sua forma moderna tenha surgido essencialmente no século XIX), incluindo aqueles cujo sistema eleitoral assenta em círculos uninominais.
Entende-se que os partidos políticos surjam. Surgem pelo mesmo motivo que todas as associações surgem - para conjugar recursos, de forma a facilitar a prossecução dos objectivos que movem quem forma a associação em causa. Podem ser maiores ou mais pequenos, mais ou menos heterogéneos, mas são sempre uma forma de conjugar recursos para participar no processo político.
Em democracias plurais que garantam a liberdade de associação aos seus cidadãos, é particularmente razoável que surjam e se institucionalizem partidos políticos. São um resultado natural da forma como os seres humanos se agregam para atingir fins comuns, sendo que o surgimento de partidos diferentes está naturalmente relacionada com os objetivos de quem os forma não serem os mesmos, em especial na medida em que as suas concepções políticas sejam diferentes, por qualquer motivo.
Em Portugal, os partidos políticos têm regulação constitucional especial, bem como regulação legislativa relativa à sua formação, organização, funcionamento e financiamento. E ao seu lado surgiram 'movimentos de cidadãos' que podem participar em eleições autárquicas e estão sujeitos a regulação diferente. Isto para alargar as possibilidades de participação a nível autárquico, mas reservando aos 'partidos' a participação em eleições legislativas e europeias (e, que eu saiba, regionais). Corre também um certo discurso anti-partidos, com variadas fundamentações.
O discurso anti-partidos não me atrai minimamente porque eu vejo os partidos como algo que emerge naturalmente, e legitimamente, em democracias plurais e livres. São manifestações da liberdade de associação e, indirectamente, da liberdade de pensamento e de expressão. São manifestações da liberdade de participacão e intervenção política dos cidadãos em democracias. E, por isso mesmo, tendo a defender que devem ser fáceis de formar - uns estatutos, nome, logótipo e gente para os órgãos, e pouco (ou nada) mais. A meu ver, os movimentos de cidadãos são partidos com outro nome e com regulação especial desnecessária.
(Abra-se aqui um parêntesis para dizer que eu não vejo as eleições autárquicas como inerentemente menos ideológicas que outras - acontece é que em Portugal as autarquias têm menos competências do que poderiam - ou deveriam - ter, mas isso não implica que as diferentes formas de encarar a comunidade não se façam sentir nas autárquicas. E também não vejo os movimentos de cidadão serem inerentemente menos ideológicos que os partidos.)
Em Portugal, não se podem formar partidos regionais nem locais (mas podem formar-se movimentos de cidadãos a nível local para fazer precisamente a mesma coisa que um partido faz a nível local...). Tem de se recolher 7500 assinaturas para formar um partido. E há diversas regras a cumprir e coimas a pagar (que naturalmente têm efeito particularmente nefasto sobre partidos mais pequenos e com menos de recursos), sendo que temos um sistema eleitoral extremamente fechado, que está ligado umbilicalmente ao financiamento partidário. Em suma, sem entrar em detalhes: formar e, principalmente, manter um partido político em Portugal não é nada fácil - o que beneficia, naturalmente, os partidos incumbentes (que ainda para mais têm regulação que os beneficia face aos 'movimentos de cidadãos', que mais não são que partidos locais com outro nome).
Em vez de se permitir a criação de 'movimentos de cidadãos' a nível local, que partem em desvantagem em relação aos 'partidos', devia simplesmente facilitar-se a criação de partidos e permitir assumir que se permite a criação de partidos de âmbito infra-nacional. Estas distinções sem conteúdo que ainda por cima resultam em regras que beneficiam os incumbentos (que, já agora, deviam deixar de existir) apenas servem para retirar clareza ao debate sobre estes temas, criando pseudo-distinções onde elas não existem de forma relevante, não beneficiando em nada a democracia portuguesa.
(Isto para não falar de várias outras reformas políticas relevantes que, também elas, necessitariam de uma reforma constitucional, naturalmente...)
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