quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

2011: o ano (in)desejado

Depois dos últimos amargos anos, 2011 começa com um sabor agridoce. Crise na Europa e Revolução dos Jasmins marcam este início de ano.

Desejado para uns e indesejado para outros, 2011 será, em verdade, um ano marcante. Enquanto uns fecharão certamente um difícil ciclo de crise económica e consolidarão a recuperação, outros continuarão a lutar entre recessões, crescimentos económicos anémicos e crises de dívida soberana. Enquanto uns abrem finalmente uma janela à democracia, outros continuam sem sequer sonhar com ela ou, pior, continuam a contorná-la com muita subtileza!

Este novo ano que começa não será, de certeza, o ano da Europa. Entre muita austeridade, resgate de economias mais periféricas (entre as quais, possivelmente, Portugal) e pressão internacional, a Europa vê a sua economia mirrar diante do re-acordar pujante dos seus mais directos concorrentes (falo dos EUA e da China). A agravar, o espírito de união entre os europeus vai perdendo força, à medida que a crise mina o modelo social europeu, que aumentam as tensões sociais (veja-se o conflito entre flamengos e francófonos que deixa a Bélgica sem governo central há mais de 200 dias) e que o fantasma do proteccionismo volta a assombrar o velho continente.

E é por estas alturas, em que a UE tenta a custo salvar as ovelhas negras e salvar o euro, que se percebe a urgência em acelerar o processo de integração europeia, tanto a nível económico-financeiro, como a nível político. Está mais que visto que muitos dos parlamentos nacionais, democraticamente eleitos, irão perder poderes em nome da estabilidade que requer uma união que partilha uma moeda comum.

Acho tudo isso muito compreensível e lógico, mas esta situação leva-nos forçosamente a reflectir sobre o famoso “défice democrático” da união. Mais uma vez a “eurocracia” acumulará poderes antes pertencentes a órgãos democráticos e a democracia (?) europeia sai a perder. Sendo talvez um sacrifício necessário, não deixa de incomodar nem mesmo os cidadãos mais europeístas, como eu.

Encontrar um caminho e uma estratégia comum capaz de reerguer esta Europa, que anda não a uma, não a duas, mas a múltiplas velocidades será o grande desafio da UE para 2011 e para os anos que se seguem.

Mas 2011 não será um ano só de esforço e sacrifício, há que haver optimismo e crença na mudança. Como tal, não poderia terminar este artigo sem um sinal de esperança. E esse sinal vem da Tunísia que entrou com o pé direito em 2011, dando um primeiro passo para a democracia. É com satisfação que, como liberal e, acima de tudo, como democrata, congratulo as mais recentes conquistas do povo tunisino rumo a um país mais livre e mais próspero (ainda que restem, certamente, muitas arestas por limar na política do país).

Esperemos que o “efeito contágio” do 14 de Janeiro tunisino (data que ficará, sem dúvida, na história do país) se alastre rapidamente aos países vizinhos e que muitos outros “Ben Alis” caiam. Dados os acontecimentos mais recentes, os egípcios parecem ser os primeiros a respirar os ares de mudança vindos da Tunísia (os interessados, leiam aqui).

Resta-me desejar um ano de sucesso a todos os leitores do Cousas Liberaes e aos seus autores.

4 comentários:

  1. Tenho sérias dúvidas que quer o povo Tunisino, que o povo Egípcio fiquem melhor do que estavam.

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  2. Antes de comentar o artigo gostaria de comentar o comentário anterior: viver sem liberdade ou com liberdade, o que será pior - é certo que conquistando a sua liberdade os povos ficam melhor e vivem melhor.

    Quanto ao artigo gostaria de afirmar o seguinte:
    1 - não sou um federalista europeu, creio que existem domínios em que temos de estar em integrados, mas existem outros em que não.
    2 - Preocupa-me particularmente que os parlamentos nscionais percam poderes, sobretudo para quem é que têm perdido esses poderes; a verdade é que não tem sido para o parlamento europeu, essas liberdades têm sido perdidas sobretudo para a comissão ou para o conselho, que são tudo menos estruturas democráticas.
    3 - Na verdade a comissão é uma perigosa miscelância de poderes executivos e legislativos sobretudo sem escrutínio democrático absolutamente nenhum, nem sequer do parlamento europeu, que pouco poder tem em relação à comissão.
    Em acredito em unidade na diversidade e não em unicismos, que são descaracterizadores dos povos e por isso ladrões de liberdade. Por isso prezo Portugal e tudo o que essa palavra, em termos de história, de cultura, de costumes, de território, etc., implica. Assim, sendo defensor da Europa não sou da dissolução de Portugal na Europa, até porque isso só serviria para nos empobrecer cada vez mais.
    O Euro é disso prova. A união monetária foi feita em cima do joelho. Fez-se um banco central para administrar uma parte da união, sem que houvesse uma coordenação da fiscalização do sistema, e, sem que o actual fundo de emergência tivesse sido criado à partida, algo que alguns especialistas na altura falaram, mas foram ignorados. E foram-no porquê? Porque países como a Alemanha que foram dos maiores beneficiados com o aparecimento do Euro, não queriam pagar mais, estando no entanto dispostos a receber os ganhos, o que agora, efectivamente se vê. Isto não desculpa a nossa irresponsabilidade orçamental, mas com o nosso buraco orçamental, a Alemanha entre outros, foram os destinatários de muito do dinheiro desse buraco. Por aqui se vê que existe uma impossibilidade endógena de aprofundar a integração europeia,que nós ansiamos pensando retirar daí benefícios o que efectivamente não tem acontecido.

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  3. Acredito que só o facto de viverem num país agora mais livre contribua para que o povo tunisino viva melhor. Pelo para mim, a liberdade conta, e muito, para o bem-estar.

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  4. Sérgio, fica prometido um artigo em que respondo às questões que levantas.

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