terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cidades criativas – Um modelo de desenvolvimento económico

Tradicionalmente, a atractividade de um país em termos de investimento económico estrangeiro, era encarada como altamente relacionada com a capacidade de manter uma baixa carga fiscal, uma legislação laboral competitiva, uma mão-de-obra barata, etc. Nesta perspectiva, a ênfase do desenvolvimento económico é colocada na atracção de investimento, sendo de esperar que as pessoas se movimentem em busca de trabalho. Aplicando este paradigma ao nível regional e local, seria de esperar que os municípios com taxas municipais mais baixas e com mão-de-obra mais barata seriam aqueles que se tornariam mais atractivos para os investidores. No entanto, o que se verifica em Portugal, é que regiões ou municípios com maior desenvolvimento económico cobram taxas e impostos municipais mais elevados e têm uma mão-de-obra mais especializada, logo mais cara.

Por outro lado, Richard Florida, conhecido expert na área do desenvolvimento da economia regional, apresenta uma perspectiva alternativa para o desenvolvimento local e regional. Segundo este autor, para que exista desenvolvimento económico as regiões devem tornar-se atractivas para o capital criativo. Para Florida, o capital criativo não diz respeito apenas a músicos, artistas, designers e outros profissionais conotados com a criatividade, mas sim a qualquer profissional. A assumpção subjacente a esta visão é a de que a criatividade é importante em, praticamente, todas as profissões sendo o capital criativo o principal impulsionador das industrias inovadoras. Neste sentido, para ter indústrias de alto valor acrescentado, os municípios devem tornar-se, antes de mais, atractivos para o capital criativo. Para ter uma cidade criativa, segundo o modelo de Florida, existem três pressupostos fundamentais: a tecnologia, talento e tolerância, os chamados 3 T’s.

A tecnologia está intimamente ligada à investigação e desenvolvimento, podendo ser monitorizada, por exemplo, através do número de patentes ou através do número de projectos de investigação financiados. Neste sentido, um dos mecanismos de promoção de desenvolvimento regional, enquadrado numa estratégia de desenvolvimento económico nacional, prende-se com a descentralização das instituições de ensino superior.

A dimensão talento, diz respeito à capacidade das regiões e cidades atraírem capital humano, ou seja, população altamente qualificada. Mais uma vez, as instituições de ensino superior desempenham neste campo um papel fundamental, no entanto não funcionam per si. As instituições de ensino superior são fundamentais na criação de pessoas qualificadas, mas só com uma política local/regional adequada é possível reter este tipo de população. A este nível, vários estudos sobre qualidade de vida apontam algumas dimensões que podem desempenhar um papel fundamental na atracção e retenção de população altamente qualificada. Por exemplo, o INTEC- Instituto de Tecnologia Comportamental, desenvolve todos os anos um estudo sobre qualidade de vida em que analisa a qualidade de vida nos municípios portugueses tendo em conta 10 dimensões: ambiente; acessibilidades e transportes; turismo; economia e emprego; ensino e formação; identidade, cultura e lazer; diversidade e tolerância; felicidade e urbanismo e habitação. Este estudo anual assenta não só em dados objectivos (e.g. taxa de desemprego, número de médicos por mil habitantes, etc.) mas também nas percepções que as populações têm acerca do seu município. É claro que, para as regiões ou municípios melhorarem algumas destas dimensões, necessitam claramente de uma maior autonomia. Por exemplo no que diz respeito à educação, o mapa escolar está dependente totalmente do poder central e não de uma política regional de educação, sendo que dificilmente poderemos atribuir a performance nesta dimensão ao poder local.

Por sua vez, a tolerância diz respeito à diversidade (cultural, étnica, etc.) de uma região. Nesta dimensão os investigadores têm utilizado os mais diversos indicadores, como por exemplo o índice gay, que diz respeito ao número de homossexuais assumidos numa determinada região.

Por fim, é importante referir que estas três dimensões se influenciam umas às outras, por exemplo só com talento pode surgir tecnologia, por outro lado a tolerância atrai talento. Neste sentido, o que é importante é que os decisores políticos consigam integrar os 3 t’s numa política integrada de desenvolvimento económico regional/local.

2 comentários:

  1. O artigo presente desiludiu.me um pouco, porque se bem que apresenta um ponto de vista interessante sobre o desenvolvimento, não apresenta soluções efectivas. Explana-se de generalidades, mas daquelas que sendo tão genéricas efectivamente, não trazem nada de novo, sendo de base num estudo interessante acerca dos 3 t's, a verdade é que não propõe soluções, despeja essa responsabilidade por fim para cima dos políticos.
    Além disso é necessário ter cuidado quando transpomos estes estudos para a realidade nacional. Isto porque quando falamos em problemáticas regionais temos de ser explícitos acerca do que estamos a falar. Isto porque falando-se em regionalização e em regiões, em Portugal não existe essa tradição, a nossa tradição é a municipalista, o que não é por sua vez proibitivo de que em certos municípios exista um sentimento regionalista, que em pequenos assuntos da região depois se vê que não se entendem. Logo há que ter cuidado nesta matéria.
    Existiu também uma pequena imprecisão neste artigo. Efectivamente a educação ao nível do primeiro ciclo é da responsabilidade dos municípios, só do segundo ciclo em diante é que a responsabilidade é central.

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  2. Caro Sérgio, muito obrigado pelo seu comentário. Como deve calcular, um texto num blogue é sempre limitativo, principalmente quando se trata de um texto técnico que pressupõe alguns conhecimentos da temática.

    Os primeiros estudos acerca das Cidades Criativas ou Capital Criativo,incidem precisamente no desenvolvimento das cidades e não no desenvolvimento de regiões. No entanto, pode perfeitamente ser aplicado às regiões (vários estudos aplicam estes modelos ao desenvolvimento regional).

    Também tenho de discordar quando diz que não traz nada de novo, na verdade este modelo rompe com o modelo tradicional de desenvolvimento económico, assente essencialmente na atracção de empresas e não na atracção de capital humano.

    Quando diz que não apresenta politicas concretas é propositado, isto é um modelo de desenvolvimento como tal nunca poderá ter politicas concretas. Os modelos servem de base ao desenvolvimento de politicas, o que quer dizer que os modelos devem ser transversais, mas as politicas devem ser ajustadas à especificidades de cada região. De qualquer forma, sairá esta semana um artigo meu sobre esta temática no jornal regional, em que aí já aponto uma ou outra politica concreta. Se for do seu interesse, terei todo o gosto em partilhar consigo

    Por fim quando diz que existem politicas educativas municipais, também não é verdade. A responsabilidade das câmaras em relação ao primeiro ciclo é praticamente apenas administrativa e não estratégica. Não existe autonomia cientifica nem pedagógica, sendo que essa responsabilidade está centralizada no Ministério da Educação.

    Obvimanente todos os modelos são criticaveis, verdades absolutas só mesmo na religião, na ciência isso não existe. De qualquer forma, as criticas não costumam ser aquelas que são apontadas a este modelo, mas isso também poderá dever-se ao facto de eu não ter conseguido passar a mensagem de que este texto é a apresentação de um modelo e não de um programa político. Saúdo o seu interesse por este tema, e deixo algumas dicas de leitura para que possa aprofundar o seu conecimento acerca deste tema:

    Florida -> The Rise of the Creative Class: And How it's Transforming Work, Leisure, Community and Everyday Life.

    Richard Florida -> Who's Your City? (international edition): How the Creative Economy Is Making Where You Live the Most Important Decision of Your Life

    Richard Florida -> The Flight of the Creative Class: The New Global Competition for Talent

    ARTIGOS CIENTIFICOS
    Alesina, A., & La Ferrara, E. (2005). Ethnic diversity and economic performance. Journal of Economic Literature, 43(3), 762-800.

    Asheim, B. (2009). Introduction to the creative class in European city regions. Economic Geography, 85(4), 355-362.

    Asheim, B., & Hansen, H.K. (2009). Knowledge bases, talents, and contexts: On the usefulness of the creative class approach in Sweden. Economic Geography, 85(4), 425-442.

    Clark, T.N., Lloyd, R., Wong, K.K., Jain, P. (2002). Amenities drive urban growth. Journal of Urban Affairs, 24, 493-515.

    Florida, R. (2003a). Cities and the creative class. City & Community, 2(1): 3-19.

    Caso esteja interessado numa lista mais completa não hesite em entrar em contacto comigo.

    Um abraço,

    André Escórcio Soares.

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