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sábado, 15 de outubro de 2011

Não há debate político sério em Portugal

Não há debate político em Portugal. Há quem apoie o programa da Troika, apoie que o Governo vá mais longe, e defenda essas medidas, e depois há o PS de António José Seguro a falar em «slogans», o BE e o PCP a confundirem-se um com o outro, e uma miríade de vozes à esquerda do BE e do PCP a dizer que são a favor de trivialidades.

Mas não há debate político em Portugal. Há acusações sobre as motivações dos outros, há descaracterizações das posições dos outros, há uma completa incapacidade para ir além de demagogia e populismo descarados. E neste momento, na minha opinião, se do BE e do PCP não se podia esperar muito (leia-se: não se podia esperar nada), do PS devíamos poder esperar mais.

A verdade é que António José Seguro tem andado de acusação pífia em acusação pífia, e agora anda a demarcar-se da austeridade, fugindo das responsabilidades que o PS tem na situação actual do país. O seu discurso é consistentemente desprovido de interesse. Fala em chavões, ataca o Ministro da Economia, por lhe parecer o alvo mais fácil, e exige crescimento económico, como se o Governo criasse crescimento económico sustentável carregando num botão.

Bem sei que há quem acredite que o dinheiro cresce nas árvores, que continue a encarar as empresas como zonas de guerra entre «patrões» e «trabalhadores», que a situação financeira dos Estados é parecida com a situação que existia no tempo do Keynes (dica: não é nada parecida), que as obras públicas trazem desenvolvimento simplesmente por existirem, e que tudo o que se passa em Portugal é resultado de uma terrível crise que envolve decisões erradas de toda a gente menos da população portuguesa.

Ora bem, numa democracia representativa, não há como a população fugir às suas responsabilidades. Os votos das pessoas ajudaram a eleger maiorias parlamentares que aumentaram a dívida e criaram a situação insustentável na qual acabámos. A sociedade civil portuguesa mantém-se incipiente, pouco profissionalizada, ou muito dependente do Estado. As nossas empresas continuam a precisar de maior «know-how» a todos os níveis, não apenas para os colaboradores.

Enquanto continuarmos todos à espera que o Estado resolva todos os problemas, mormente com subsídios, não chegamos lá. Quando nos começarmos a organizar, mesmo a nível local, para resolver problemas, aí as coisas começarão a mudar. Aí teremos um sinal de que há uma alteração cultural, uma mudança de mentalidades na sociedade portuguesa no sentido da resolução de problemas, e não da exigência de que os nossos problemas devam ser resolvidos por outros.

Parte dessa mudança de mentalidade poderia vir de haver um debate público sério sobre os problemas do país, sobre a forma como cada um de nós individualmente, ou em grupo, pode ser parte da resolução dos nossos problemas actuais, independentemente do Estado. Que podemos fazer mais do que exigir subsídios estatais, podemos arregaçar as mangas e tentar, por nós próprios, e com outros que concordem connosco, resolver problemas.

Mas para isso, seria necessário haver debate político sério em Portugal. E não há.

domingo, 25 de setembro de 2011

Crise de valores?

A sociedade está sempre em declínio. A moral está sempre em decadência. As novas gerações nunca sabem apreciar o que veio antes, querem sempre mudar o que está bem e não sabem ver o que está mal. A mudança é sempre para pior, as tradições nunca são o que já foram e o futuro nunca é risonho por causa da terrível crise valores que vivemos mas que não vivíamos antes.

Ao mesmo tempo, a sociedade está sempre em ascendente. A moral está sempre a mudar para melhor. As novas gerações revolucionam o mundo com cada nova descoberta e moda, encontram soluções para problemas antigos e fazem críticas penetrantes ao «status quo». A mudança é para melhor, ainda bem que as tradições já não são o que eram e o futuro é risonho por causa de todas as mudanças.

Pessoalmente, vejo uma sociedade aberta como estando em crise de valores permanente. É uma consequência dela ser aberta, de haver liberdade de pensamento, de expressão e de associação. Essa crise de valores permanente é o resultado de haver um confronto sistemático e sistémico entre formas de pensar radicalmente díspares dentro da mesma sociedade e é um dos motores internos da evolução dessa mesma sociedade.

Não há um resultado final. A sociedade não está, em absoluto, quer em declínio, quer em ascendente moral. Está, sim, em permanente evolução. Ideias e valores tornam-se mais fortes ou mais fracos à medida que o tempo passa. Aqueles cujas ideias e valores estejam na mó de baixo, numa sociedade aberta e livre, têm a oportunidade de continuar a lutar por elas e, possivelmente, «conquistar» a geração seguinte.

As «crises de valores» não vão parar numa sociedade verdadeiramente livre. A geração, ou a geração a seguir a essa, vai pôr em causa o que aprendeu e vai ser acusada de destruir tradições importantes. A geração mais antiga vai ser acusada de ser conservadora e de querer manter tradições antiquadas e desnecessárias.

A grande questão é se a crise de valores permanente vivida numa sociedade livre não a leva a auto-destruir-se. Se a liberdade e abertura da sociedade não serão usadas para a sua própria destruição.

Há quem queira proteger a sociedade aberta e livre através da censura e da imposição das suas regras morais aos outros através do Estado. Há quem diga que o Estado, por definição, apenas serve para isso, e que a resposta correcta seria simplesmente aboli-lo. Finalmente, há quem defenda o Estado de Direito, que penalize agressões à liberdade de outrem, mas não o pensamento.

Esta última é a minha posição. Penso que deve existir Estado, que deve garantir liberdade de pensamento, de expressão e de associação. Sou contra a censura. E penso que deve existir um Estado de Direito, que ajude a resolver pacificamente litígios entre membros da sociedade e que puna acções consideradas criminosas.

Não cabe ao Estado impor a moralidade de alguns a toda a sociedade. E quem queira acabar com a crise de valores permanente em que vivemos, quer também, na minha opinião, acabar com a sociedade livre e aberta que tantos séculos levou a evoluir.