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sábado, 8 de outubro de 2011

Comunicação Social e Erros sobre Conceitos

O objectivo da comunicação social é informar. Para o fazer, convém ser preciso naquilo que se diz, para não passar uma ideia errada daquilo que, facticamente, se passou, o que inclui quaisquer ideias que uma outra pessoa tenha pretendido transmitir, ou políticas que estejam a ser propostas.

Quando se pense que um determino conceito poderá não ser inteligível para a maioria da população, o melhor que se tem a fazer é usá-lo na mesma, mas tentar explicá-lo de forma a que todos percebam, ou pelo menos saibam onde encontrar mais informação sobre o conceito. O pior que se tem a fazer é usar um conceito diferente, mas que supostamente é «parecido» e mais «fácil de entender» pelo cidadão médio.

Utilizar um conceito diferente passa uma ideia errada. Em vez de informar, desinforma. Quem ler a notícia fica a pensar que se passou alguma coisa quando, na verdade, se passou alguma coisa diferente. E isto terá impacto na sua percepção daquilo que a rodeia, bem como nas decisões que tome em conformidade com a percepção que tem. Trocado por miúdos: este tipo de desinformação tem impacto real e não pode ser ignorada.

Um exemplo concreto deste tipo de erros: o conceito de «governance» não é o mesmo que o conceito de «governo». Dizer que a Alemanha e a França propõem um «governo económico» comum não é o mesmo que dizer que estes propõem uma «governance económica» comum. Ora, o que a Alemanha e a França propuseram foi precisamente esta segunda hipótese, não a primeira. No entanto, um pouco por todo o lado se vê que foi a primeira a ser reportada.

Também poderá dar-se o caso do jornalista não conhecer o conceito em questão que deverá utilizar na sua notícia, dado que poderá ser um conceito técnico complexo. Nesse caso, deverá informar-se sobre o mesmo e tentar perceber o que se passa junto de quem conheça o conceito, e não tentar uma aproximação que lhe pareça bem mas que possa estar, efectivamente, bastante mal feita.

A comunicação social tem um papel importante a desempenhar numa sociedade livre, um papel informativo de disseminação de informação e de fomento do debate público. Erros sobre conceitos minam o debate público e não ajudam a que as pessoas fiquem mais informadas. Antes pelo contrário.  Não podemos admitir, enquanto participantes nesse mesmo debate, e enquanto indivíduos que sofrem as consequências das decisões que se tomam no final desse debate, que este papel seja desempenhado de forma pouco rigorosa e, no limite, enganadora.

domingo, 25 de setembro de 2011

Crise de valores?

A sociedade está sempre em declínio. A moral está sempre em decadência. As novas gerações nunca sabem apreciar o que veio antes, querem sempre mudar o que está bem e não sabem ver o que está mal. A mudança é sempre para pior, as tradições nunca são o que já foram e o futuro nunca é risonho por causa da terrível crise valores que vivemos mas que não vivíamos antes.

Ao mesmo tempo, a sociedade está sempre em ascendente. A moral está sempre a mudar para melhor. As novas gerações revolucionam o mundo com cada nova descoberta e moda, encontram soluções para problemas antigos e fazem críticas penetrantes ao «status quo». A mudança é para melhor, ainda bem que as tradições já não são o que eram e o futuro é risonho por causa de todas as mudanças.

Pessoalmente, vejo uma sociedade aberta como estando em crise de valores permanente. É uma consequência dela ser aberta, de haver liberdade de pensamento, de expressão e de associação. Essa crise de valores permanente é o resultado de haver um confronto sistemático e sistémico entre formas de pensar radicalmente díspares dentro da mesma sociedade e é um dos motores internos da evolução dessa mesma sociedade.

Não há um resultado final. A sociedade não está, em absoluto, quer em declínio, quer em ascendente moral. Está, sim, em permanente evolução. Ideias e valores tornam-se mais fortes ou mais fracos à medida que o tempo passa. Aqueles cujas ideias e valores estejam na mó de baixo, numa sociedade aberta e livre, têm a oportunidade de continuar a lutar por elas e, possivelmente, «conquistar» a geração seguinte.

As «crises de valores» não vão parar numa sociedade verdadeiramente livre. A geração, ou a geração a seguir a essa, vai pôr em causa o que aprendeu e vai ser acusada de destruir tradições importantes. A geração mais antiga vai ser acusada de ser conservadora e de querer manter tradições antiquadas e desnecessárias.

A grande questão é se a crise de valores permanente vivida numa sociedade livre não a leva a auto-destruir-se. Se a liberdade e abertura da sociedade não serão usadas para a sua própria destruição.

Há quem queira proteger a sociedade aberta e livre através da censura e da imposição das suas regras morais aos outros através do Estado. Há quem diga que o Estado, por definição, apenas serve para isso, e que a resposta correcta seria simplesmente aboli-lo. Finalmente, há quem defenda o Estado de Direito, que penalize agressões à liberdade de outrem, mas não o pensamento.

Esta última é a minha posição. Penso que deve existir Estado, que deve garantir liberdade de pensamento, de expressão e de associação. Sou contra a censura. E penso que deve existir um Estado de Direito, que ajude a resolver pacificamente litígios entre membros da sociedade e que puna acções consideradas criminosas.

Não cabe ao Estado impor a moralidade de alguns a toda a sociedade. E quem queira acabar com a crise de valores permanente em que vivemos, quer também, na minha opinião, acabar com a sociedade livre e aberta que tantos séculos levou a evoluir.