Em Portugal, as opiniões passam por factos, invocar títulos académicos passa por argumento e ter um título académico numa área parece transformar a pessoa em perita em tudo o que mexe (o exemplo máximo disto é, claro, o emérito Prof. Marcelo Rebelo de Sousa).
Em Portugal, existe o culto do bitaite. Palpites fundamentados em preconceitos e em intuições passam por opiniões fundamentadas em factos e em estudos. Quando de facto existem estudos, são trucidados na forma como são citados, mormente através de sensacionalismos e conclusões retiradas do contexto, e poucos os lêem realmente.
Pelo que nos ficamos pelo bitaite. Os profetas das ideias feitas que nos iluminam os nossos debates públicos de forma constante com as suas opiniões dedicam-se ao bitaite de forma tão intensa como qualquer um de nós no café da esquina. E por repetirem o que muitos querem ouvir, cria-se um círculo vicioso de bitaites a informar bitaites a informar bitaites ad infinitum.
Andamos, então, de bitaite em bitaite. Marcelo Rebelo de Sousa, cujo culto pessoal permite debates sobre uma possível corrida presidencial a partir dos ecrãs televisivos, todos os Domingos debita uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma sobre questões relevantes que assolam o país e sobre o mais recente resultado do Sporting de Braga. E as tristezas de Cristiano Ronaldo alimentam todo o tipo de especulações.
A política é sistematicamente tratada como se de um mero jogo táctico entre políticos se tratasse. As grandes questões substantivas são tratadas como instrumentos neste joguinho politiqueiro e analisadas pela rama o mais das vezes. E os bitaites sucedem-se, neste contexto, em forma de cascata que afoga o debate público em Portugal.
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