Confundir uma linha de mercadorias com o TGV é um erro grosseiro que lança a confusão relativamente a um tema que teria bastado prestar o mínimo de atenção à política de transportes do Governo para se perceber que não fazia sentido. A linha de mercadorias não é novidade. Que tem por profissão acompanhar estes temas tinha a obrigação de saber isto, ou pelo menos de investigar o assunto (tal como no caso Baptista da Silva, não seria uma investigação complicada). Em vez disso, tivemos comentários a comentários a notícias e a comentários a uma notícia que estava, pura e simplesmente, errada.
Pior: mesmo depois de se perceber que está em causa uma linha de mercadorias, o tema continuou a ser tratado (pelo menos, foi o que eu ouvi), por certos títulos, com referências ao TGV, que, naturalmente, induzem em erro quem as lê. Nada disto contribui para um debate público saudável, nem para a credibilidade da comunicação social. Se subitamente nos virmos na contingência de investigar por nós próprios as notícias que lemos por nos parecer que há ali qualquer coisa que não faz sentido, em que medida é que a comunicação social estará a cumprir o seu papel de nos poupar, pelos menos em larga medida, esse trabalho?
Confusões em contínuo geram mais confusões, numa altura de crise em que finalmente se debatem temas tão fundamentais como a reforma do Estado, políticas orçamentais a médio e longo prazo, bem como aumentos de impostos e cortes na despesa de uma forma genérica. Conjugar estas confusões com o empolamento e a distorção de citações fora de contexto em que pessoas de carne e osso são caricaturadas sob a forma de terríveis vilões (Fernando Ulrich, Isabel Jonet) diminui a nossa capacidade de debater temas fundamentais (que também incluem, por exemplo, a reforma da UE). Acabamos a gastar recursos a desfazer confusões (ou a tentar, o que por vezes se revela complicado) e a clarificar afirmações tornadas polémicas e não a discutir as nossas opções de futuro.
É evidente que quaisquer afirmações públicas vão ser sujeitas a escrutínio público. É assim que as coisas funcionam quando há liberdade de expressão. Mas o tratamento jornalístico é um filtro que medeia aquilo que acontece e as pessoas, e que vai ajudar, e muito, a moldar e a balizar o debate, incluindo a definir prioridades no debate público. Confusões geradas pelo filtro geram confusões no debate, pelo que seria importante que os meios de comunicação social assumissem os erros que cometem e expliquem como vão tentar melhorar no futuro. E deve haver pressão para que existam essas melhorias, tendo em conta a situação do debate público em Portugal, a credibilidade da comunicação social, e mesmo a sua actual situação financeira e comercial.
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