Aliás, falando nas ligações ao Primeiro Ministro, não é por acaso que Miguel Relvas acabou na pasta dos Assuntos Parlamentares, a mais política das pastas. Infelizmente, uma pasta virada para a coordenação política, que não parece existir, e ligada à RTP e à reforma do Poder Local, ambos «dossiers» em que o falhanço até agora é bastante claro. Uma pasta importante num Governo de coligação, dada a sua componente de coordenação política e de Ministro responsável pela «mensagem» do Governo, e que tem falhado completamente.
Só vejo a possibilidade de Miguel Relvas demitir-se e cair sobre a espada. Mas vejo-a apenas em teoria. Na prática, vejo Miguel Relvas a manter-se no Governo. Duvido que caia.
Álvaro Santos Pereira começou mal a sua estadia no Governo, e tornou-se o bobo da corte para muito boa comunicação social. Depois, não falou muito. Quando começou a falar, jorraram as «medidas económicas», e tornou-se claro que Álvaro Santos Pereira é mais um numa longa linha de Ministros que acreditam em «pacotes de medidas» e em «bancos de fomento». A proposta que fez para o IRC, que tantos aplausos colheu mesmo de alguns sectores mais avessos ao Governo, era uma proposta desnecessariamente burocrática e cujo impacto claramente não se encontrava estudado. Em suma, pareceu um bitaite. Agora temos uma comissão de revisão do IRC e vamos ver o que sai de lá - esperemos que algo melhor que o bitaite de Álvaro Santos Pereira.
Neste momento que a «caça ao Álvaro» amainou um pouco, a queda de Álvaro Santos Pereira não teria as consequências que teria tido há uns tempos. Só que agora Álvaro Santos Pereira tem as tais «medidas». Defende bancos de fomento e quedas de IRC e programas vários e coisas e outras coisas. Há quem o considere bom Ministro, até gente na área política do Governo, por motivos que eu pessoalmente não encontro. E, de novo, a queda de qualquer Ministro, na situação em que o Governo está, seria perigosa politicamente - sendo que eu duvido que o Ministro seguinte não continuasse a mesma linha de «medidas» e «bancos de fomento». Se é para isso, mais vale ficar o que está, que o seguinte teria ainda por cima de perder bastante tempo a aprender os «dossiers».
Quem não ficou foi uma série de Secretários de Estado, incluindo vários no Ministério da Economia. A saída desses Secretários de Estado significa que os seus substitutos vão ter de aprender a ser Secretários de Estado e vão ter de aprender todos os «dossiers». Entram a meio. Se tiverem ideias novas, poderão parar com coisas anteriores. Em suma, numa altura de crise em que o Governo tem de defender as suas medidas no plano económico, ficar sem vários Secretários de Estado que já sabem o que se está a passar pode ser um problema. Sendo que o Governo criou um problema político adicional ao escolher para Secretário de Estado alguém que esteve na SLN - problema esse expectável, que já parece ter saído um pouco do radar político neste momento, mas que foi mais uma fonte de desgaste (e foi interessante, de novo, ver a forma como o CDS-PP reagiu a tudo o que se passou, mantendo-se à margem).
Chegamos a Vítor Gaspar. A luta contra Vítor Gaspar tem-se centrado no óbvio: transformar a sua potencial maior força na sua fraqueza. No caso de Vítor Gaspar, a sua força era a credibilidade técnica. Portanto, foi por aí que se pegou, exigindo-se ao Ministro das Finanças o poder de prever o futuro com a exactidão de um mago, de forma a que, falhando as previsões, esse ponto fosse usado para colocar em causa a sua credibilidade. A estratégia tem resultado, até porque o Governo não tem sabido proteger o seu Ministro das Finanças do desgaste político a que tem estado sujeito. E isso deve-se à falta de coordenação política e à falta de uma estratégia de comunicação por parte do Governo que lhe permita resguardar o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças. Entraria aí em cena, a meu ver, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, bem como Secretários de Estado e um Gabinete de Imprensa. Só que o Ministro dos Assuntos Parlamentares tem os problemas conhecidos, e o Governo não tem sabido usar os seus Secretários de Estado para estes propósitos, e sabe-se lá se já existe um Gabinete de Imprensa.
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