Daniel Oliveira abandonou o Bloco de Esquerda.
Sempre considerei Daniel Oliveira uma das vozes mais lúcidas do Bloco de Esquerda no que toca ao posicionamento estratégico desse partido, e que se o Bloco seguisse a estratégia geral que Daniel Oliveira me parecia advogar, teria muito maior capacidade de influenciar a condução e rumo político do país. Claro que eu não concordo com o programa económico do Bloco de Esquerda (embora me reveja em algumas das suas posições em temas «fracturantes»), nem tenho particular interesse em ver o Bloco de Esquerda no Governo. No entanto, do ponto de vista de um apoiante do Bloco, sempre me pareceu que as ideias de Daniel Oliveira sobre a estratégia a seguir, claramente contrastantes com as de Francisco Louçã, seriam as melhores.
Recomendo vivamente a leitura da carta que Daniel Oliveira se deu ao trabalho de escrever a justificar a sua saída. Nessa carta, descreve-se aquele que Daniel Oliveira considera ser o caminho correcto para o Bloco de Esquerda aumentar a sua capacidade de influência efectiva, fortalecendo-se e cimentando-se enquanto força política relevante no quadro político português. Esse caminho passaria, essencialmente, por uma maior aposta nas autárquicas, para aquisição de experiência executiva e de trabalho em coligação; pela existência de democracia interna no partido (crítica relevante à criação da corrente Socialismo); pela abertura a convergências e fim de sectarismos primários - o Bloco como factor de união e não de desagregação da Esquerda portuguesa.
Daniel Oliveira faz críticas a meu ver acertadas (do ponto de vista de alguém que quer que o Bloco cresça e tenha influência) à direcção actual e dos últimos anos do partido. Diz, a meu ver também com justeza, que a nova liderança não alterou os tiques da anterior. E critica Francisco Louçã e seus aliados, que devem ser considerados por aqueles que querem que o Bloco se mantenha arredado do Governo como um aliado de peso, pela forma como se comportam e pelas atitudes que tomam em relação, por exemplo, ao PS, mas também a todos os outros que não sigam à risca aquilo que eles pensam. Apreciei também em particular as críticas que faz à posição do BE face à Troika e à União Europeia.
No fundo, Daniel Oliveira é consequente - quer renegociar a dívida e portanto isso significa que considera que o BE não se pode manter à margem da Troika, quer democratizar a UE e portanto defende um federalismo democrático, e quer que o país tenha um rumo, e portanto defende que o BE tenha um programa, e não se baste com «slogans». Daniel Oliveira quer uma união da Esquerda em Portugal e pensa que o Bloco de Esquerda deve agir em conformidade com o seu nome e com a sua matriz inicial: um factor de agregação. No entanto, não tem sido isso que o Bloco tem sido e feito. Portanto, Daniel Oliveira, mantendo-se consequente na sua acção política, sai do partido.
O Bloco devia ler e pensar seriamente sobre a carta que Daniel Oliveira deixou, se quiser atingir os objectivos a que supostamente se propôs aquando da sua fundação. Mas algo me diz que a actual corrente dominante, a tal corrente que se pretende auto-denominar «Socialismo» (era pelos vistos o que faltava ao Bloco, uma corrente de pendência hegemónica chamada «Socialismo»), vai manter a sua linha actual de tratar tudo e todos com desprezo, de nariz no ar, sentando-se num trono de suposta pureza. Com isto, vai ajudar a que o BE se mantenha precisamente onde está. E, por isso, quem quer que não apoie o BE deve agradecer-lhes.
Outra vez de acordo contigo? Ó João, cuida-te...
ResponderEliminara) Luís Filipe
Primeiro saiu a Ruptura Fer, para criar o MAS, depois da cooptação do Louçã na Diarquia Martins/Semedo, os melhores intelectuais estão a abandonar o Bloco.
ResponderEliminarEstou preocupado, penso que serão ainda mais populistas. Se o Povo vai atrás ou não isso é outra história. Abraço
e populista é SPQR?
Eliminarjá devia ter saido antes
ResponderEliminaro blouko anda a ver se morre primeiro cu vôvô suarez