"Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade." - Alexandre Herculano
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Competitividade
domingo, 30 de janeiro de 2011
Sócrates Rei
sábado, 29 de janeiro de 2011
Despedir
Assim é justa causa de despedimento:
“1 - O comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho constitui justa causa de despedimento.
2 - Para apreciação da justa causa deve atender-se, no quadro de gestão da empresa, ao grau de lesão dos interesses do empregador, ao carácter das relações entre as partes ou entre o trabalhador e os seus companheiros e às demais circunstâncias que no caso se mostrem relevantes.
3 - Constituem, nomeadamente, justa causa de despedimento os seguintes comportamentos do trabalhador:
a) Desobediência ilegítima às ordens dadas por responsáveis hierarquicamente superiores;
b) Violação dos direitos e garantias de trabalhadores da empresa;
c) Provocação repetida de conflitos com outros trabalhadores da empresa;
d) Desinteresse repetido pelo cumprimento, com a diligência devida, das obrigações inerentes ao exercício do cargo ou posto de trabalho que lhe esteja confiado;
e) Lesão de interesses patrimoniais sérios da empresa;
f) Falsas declarações relativas à justificação de faltas;
g) Faltas não justificadas ao trabalho que determinem directamente prejuízos ou riscos graves para a empresa ou, independentemente de qualquer prejuízo ou risco, quando o número de faltas injustificadas atingir, em cada ano civil, 5 seguidas ou 10 interpoladas;
h) Falta culposa de observância das regras de higiene e segurança no trabalho;
i) Prática, no âmbito da empresa, de violências físicas, de injúrias ou outras ofensas punidas por lei sobre trabalhadores da empresa, elementos dos corpos sociais ou sobre o empregador individual não pertencente aos mesmos órgãos, seus delegados ou representantes;
j) Sequestro e em geral crimes contra a liberdade das pessoas referidas na alínea anterior;
l) Incumprimento ou oposição ao cumprimento de decisões judiciais ou administrativas;
m) Reduções anormais de produtividade.”
Para além destes motivos ainda é permitido despedir por extinção de posto de trabalho “por motivos económicos, tanto de mercado como estruturais ou tecnológicos, relativos à empresa, nos termos previstos para o despedimento colectivo" que são os seguintes:
“a) Motivos de mercado - redução da actividade da empresa provocada pela diminuição previsível da procura de bens ou serviços ou impossibilidade superveniente, prática ou legal, de colocar esses bens ou serviços no mercado;
b) Motivos estruturais - desequilíbrio económico-financeiro, mudança de actividade, reestruturação da organização produtiva ou substituição de produtos dominantes;
c) Motivos tecnológicos - alterações nas técnicas ou processos de fabrico, automatização dos instrumentos de produção, de controlo ou de movimentação de cargas, bem como informatização de serviços ou automatização de meios de comunicação.”
Além disso, ainda é permitido despedir por inadaptação nas seguintes situações:
“A inadaptação verifica-se em qualquer das situações previstas nas alíneas seguintes, quando, sendo determinadas pelo modo de exercício de funções do trabalhador, tornem praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho:
a) Redução continuada de produtividade ou de qualidade;
b) Avarias repetidas nos meios afectos ao posto de trabalho;
c) Riscos para a segurança e saúde do próprio, dos restantes trabalhadores ou de terceiros.
2 - Verifica-se ainda inadaptação do trabalhador quando, tratando-se de cargos de complexidade técnica ou de direcção, não tenham sido cumpridos os objectivos previamente fixados e formalmente aceites por escrito, sendo tal determinado pelo modo de exercício de funções e desde que se torne praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho.”
Posto isto gostaria de deixar duas questões em aberto:
a) Se tudo isto é permitido porque é que se insiste que a lei não permite o despedimento?
b) Se isto é permitido porque é que efectivamente o nosso mercado laboral é rígido?
NOTA: Texto em itálico retirado do código de trabalho
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Da liberdade
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
2011: o ano (in)desejado
Depois dos últimos amargos anos, 2011 começa com um sabor agridoce. Crise na Europa e Revolução dos Jasmins marcam este início de ano.
Desejado para uns e indesejado para outros, 2011 será, em verdade, um ano marcante. Enquanto uns fecharão certamente um difícil ciclo de crise económica e consolidarão a recuperação, outros continuarão a lutar entre recessões, crescimentos económicos anémicos e crises de dívida soberana. Enquanto uns abrem finalmente uma janela à democracia, outros continuam sem sequer sonhar com ela ou, pior, continuam a contorná-la com muita subtileza!
Este novo ano que começa não será, de certeza, o ano da Europa. Entre muita austeridade, resgate de economias mais periféricas (entre as quais, possivelmente, Portugal) e pressão internacional, a Europa vê a sua economia mirrar diante do re-acordar pujante dos seus mais directos concorrentes (falo dos EUA e da China). A agravar, o espírito de união entre os europeus vai perdendo força, à medida que a crise mina o modelo social europeu, que aumentam as tensões sociais (veja-se o conflito entre flamengos e francófonos que deixa a Bélgica sem governo central há mais de 200 dias) e que o fantasma do proteccionismo volta a assombrar o velho continente.
E é por estas alturas, em que a UE tenta a custo salvar as ovelhas negras e salvar o euro, que se percebe a urgência em acelerar o processo de integração europeia, tanto a nível económico-financeiro, como a nível político. Está mais que visto que muitos dos parlamentos nacionais, democraticamente eleitos, irão perder poderes em nome da estabilidade que requer uma união que partilha uma moeda comum.
Acho tudo isso muito compreensível e lógico, mas esta situação leva-nos forçosamente a reflectir sobre o famoso “défice democrático” da união. Mais uma vez a “eurocracia” acumulará poderes antes pertencentes a órgãos democráticos e a democracia (?) europeia sai a perder. Sendo talvez um sacrifício necessário, não deixa de incomodar nem mesmo os cidadãos mais europeístas, como eu.
Encontrar um caminho e uma estratégia comum capaz de reerguer esta Europa, que anda não a uma, não a duas, mas a múltiplas velocidades será o grande desafio da UE para 2011 e para os anos que se seguem.
Mas 2011 não será um ano só de esforço e sacrifício, há que haver optimismo e crença na mudança. Como tal, não poderia terminar este artigo sem um sinal de esperança. E esse sinal vem da Tunísia que entrou com o pé direito em 2011, dando um primeiro passo para a democracia. É com satisfação que, como liberal e, acima de tudo, como democrata, congratulo as mais recentes conquistas do povo tunisino rumo a um país mais livre e mais próspero (ainda que restem, certamente, muitas arestas por limar na política do país).
Esperemos que o “efeito contágio” do 14 de Janeiro tunisino (data que ficará, sem dúvida, na história do país) se alastre rapidamente aos países vizinhos e que muitos outros “Ben Alis” caiam. Dados os acontecimentos mais recentes, os egípcios parecem ser os primeiros a respirar os ares de mudança vindos da Tunísia (os interessados, leiam aqui).
Resta-me desejar um ano de sucesso a todos os leitores do Cousas Liberaes e aos seus autores.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Outras Liberdades - Constrangimentos Biológicos à Liberdade Intelectual
Quando se fala de liberdade em Portugal, as pessoas tendem a pensar sobretudo em liberdade política. E efectivamente, o facto de hoje podermos escolher quem nos governa é algo de absolutamente fabuloso, tendo em conta a história da humanidade. Em Portugal, a memória do tempo em que isto ainda não acontecia é ainda muito recente. Ainda assim, no meu caso e no de cerca de metade dos portugueses, já pertencemos à geração dos que só podem sentir a diferença entre uma coisa e outra ao ouvir o que lembram os mais velhos (ou a ver o Conta-me Como Foi). É talvez por isso que tendemos a abrir os horizontes e a reflectir sobre outro tipo de liberdades, cujas limitações mais sentimos na pele e na dos que me rodeiam.
Actualmente, outro tipo de liberdades estão na agenda mediática e política. A liberdade económica, que tem a ver com a capacidade de cada um desenvolver sem restrições as actividades económicas que desejar, é agora por exemplo introduzida no debate político pela nova liderança do PSD. Esta liberdade pode conflituar em parte com outra liberdade talvez menos falada, a de oportunidades, ou seja, a capacidade de cada um de ter oportunidades (à partida) equivalentes às dos outros indivíduos. Felizmente tem estado também na ordem do dia a questão das liberdades dos costumes, por via pelo menos das questões do casamento homosexual e da adopção, e hoje Portugal é dos países mais evoluídos nesta área. A liberdade que temos de viver em espaços não poluídos ou o direito à privacidade têm sido também debatidas e objecto de intervenção política, ainda que porventura insuficiente.
Neste espaço falarei de outras liberdades, menos divulgadas, mas importantes, também para a esfera da intervenção política. Nalguns casos pode até parecer estranho, à primeira vista, admiti-las como questões de liberdade. Mas a sua manifestação no mundo real é uma realidade.
A liberdade potencial do ser humano segmenta-se por diversas dimensões e pode ser consequentemente restringida por diversos tipos de obstáculos. Porventura a mais importante de todas – talvez mais que a liberdade política ou a económica – é a liberdade intelectual. Tendemos a dar sobretudo importância às liberdades restringidas ao homem pelo homem mas, no caso da liberdade intelectual, esta é em primeiro lugar restringida pela biologia. O que não a torna, em termos absolutos, menos importante.
Tal como todos os outros animais, aquilo que somos biologicamente resultou de um longo processo de selecção natural. Somos o resultado da necessidade de sobreviver e de nos reproduzirmos no meio em que viveram os nossos antepassados, não neste em que vivemos actualmente. Tratando-se o homem do animal mais racional e inteligente que existe na Terra, ele está longe de ser um animal particularmente racional, inteligente ou independente no seu pensamento; ou seja, estamos longe de ser intelectualmente livres, pela via biológica. Pelo contrário, em grande parte somos dominados pelos nossos instintos primários sob a forma de emoções. Emoções essas formuladas para responder a objectivos muito concretos – a sobrevivência, a reprodução – num ambiente muito concreto – o dos nossos antepassados. Não fomos, de todo, concebidos à medida do que, pelos valores de hoje, um ser humano normalmente ambicionaria para si próprio. Todos nós, em determinados momentos da nossa vida, sofremos, ficámos alegres, ou inclusivamente agimos segundo padrões perfeitamente irracionais, e até contrários ao nosso interesse próprio. Alguns seres humanos infelizmente não se conseguem libertar deste padrão e fazem-no regra na sua vivência, ou levam-no ao extremo em momentos específicos da sua vida. Outros lidam melhor com o problema e conseguem que a racionalidade impere, não sem gastarem energias para isso.
Na política, quando assistimos a debates, quer as ideias base quer a troca de argumentos entre políticos e comentadores é frequentemente dominada pela emoção mais do que pela razão. E o eleitor é frequentemente convencido pela primeira, não pela segunda. O Nazismo não foi mais do que um acontecimento impulsionado por institintos primários – de poder, vingança e domínio do próximo – de um indivíduo que conseguiu manipular emocionalmente uma nação naquele momento aparentemente pouco “intelectualmente livre”.
Para além da política, em todos os domínios da vida humana podemos encontrar exemplos negativos de como os nossos instintos nos levam a ser fazer aquilo que não ambicionaríamos, estivéssemos nós totalmente dominados pelo potencial de faculdades intelectuais que temos cá dentro. Não somos aquilo que queremos, somos aquilo que o animal selvagem que temos cá dentro nos deixa ser.
Haverá, pois, elemento limitador da liberdade mais primordial do que a nossa própria liberdade intelectual?
(continua na próxima semana)
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Cidades criativas – Um modelo de desenvolvimento económico
Tradicionalmente, a atractividade de um país em termos de investimento económico estrangeiro, era encarada como altamente relacionada com a capacidade de manter uma baixa carga fiscal, uma legislação laboral competitiva, uma mão-de-obra barata, etc. Nesta perspectiva, a ênfase do desenvolvimento económico é colocada na atracção de investimento, sendo de esperar que as pessoas se movimentem em busca de trabalho. Aplicando este paradigma ao nível regional e local, seria de esperar que os municípios com taxas municipais mais baixas e com mão-de-obra mais barata seriam aqueles que se tornariam mais atractivos para os investidores. No entanto, o que se verifica em Portugal, é que regiões ou municípios com maior desenvolvimento económico cobram taxas e impostos municipais mais elevados e têm uma mão-de-obra mais especializada, logo mais cara.
Por outro lado, Richard Florida, conhecido expert na área do desenvolvimento da economia regional, apresenta uma perspectiva alternativa para o desenvolvimento local e regional. Segundo este autor, para que exista desenvolvimento económico as regiões devem tornar-se atractivas para o capital criativo. Para Florida, o capital criativo não diz respeito apenas a músicos, artistas, designers e outros profissionais conotados com a criatividade, mas sim a qualquer profissional. A assumpção subjacente a esta visão é a de que a criatividade é importante em, praticamente, todas as profissões sendo o capital criativo o principal impulsionador das industrias inovadoras. Neste sentido, para ter indústrias de alto valor acrescentado, os municípios devem tornar-se, antes de mais, atractivos para o capital criativo. Para ter uma cidade criativa, segundo o modelo de Florida, existem três pressupostos fundamentais: a tecnologia, talento e tolerância, os chamados 3 T’s.
A tecnologia está intimamente ligada à investigação e desenvolvimento, podendo ser monitorizada, por exemplo, através do número de patentes ou através do número de projectos de investigação financiados. Neste sentido, um dos mecanismos de promoção de desenvolvimento regional, enquadrado numa estratégia de desenvolvimento económico nacional, prende-se com a descentralização das instituições de ensino superior.
A dimensão talento, diz respeito à capacidade das regiões e cidades atraírem capital humano, ou seja, população altamente qualificada. Mais uma vez, as instituições de ensino superior desempenham neste campo um papel fundamental, no entanto não funcionam per si. As instituições de ensino superior são fundamentais na criação de pessoas qualificadas, mas só com uma política local/regional adequada é possível reter este tipo de população. A este nível, vários estudos sobre qualidade de vida apontam algumas dimensões que podem desempenhar um papel fundamental na atracção e retenção de população altamente qualificada. Por exemplo, o INTEC- Instituto de Tecnologia Comportamental, desenvolve todos os anos um estudo sobre qualidade de vida em que analisa a qualidade de vida nos municípios portugueses tendo em conta 10 dimensões: ambiente; acessibilidades e transportes; turismo; economia e emprego; ensino e formação; identidade, cultura e lazer; diversidade e tolerância; felicidade e urbanismo e habitação. Este estudo anual assenta não só em dados objectivos (e.g. taxa de desemprego, número de médicos por mil habitantes, etc.) mas também nas percepções que as populações têm acerca do seu município. É claro que, para as regiões ou municípios melhorarem algumas destas dimensões, necessitam claramente de uma maior autonomia. Por exemplo no que diz respeito à educação, o mapa escolar está dependente totalmente do poder central e não de uma política regional de educação, sendo que dificilmente poderemos atribuir a performance nesta dimensão ao poder local.
Por sua vez, a tolerância diz respeito à diversidade (cultural, étnica, etc.) de uma região. Nesta dimensão os investigadores têm utilizado os mais diversos indicadores, como por exemplo o índice gay, que diz respeito ao número de homossexuais assumidos numa determinada região.
Por fim, é importante referir que estas três dimensões se influenciam umas às outras, por exemplo só com talento pode surgir tecnologia, por outro lado a tolerância atrai talento. Neste sentido, o que é importante é que os decisores políticos consigam integrar os 3 t’s numa política integrada de desenvolvimento económico regional/local.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Apresentação e As Presidenciais
Não votei em José Manuel Coelho, mas conheço quem tenha votado. E o nível de votação de Coelho no Continente deve ser analisada com atenção, porque representa um claro voto contra o sistema, um claro voto de protesto. Foi o mérito desta candidatura, e é importante que se retirem as devidas ilações deste resultado.