quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sacrifícios

Hoje “chegou” o FMI. Isto significa que nos próximos tempos teremos que viver com menos recursos do que estamos habituados (não havia volta a dar, com ou sem FMI). Quando pedimos dinheiro emprestado, chega um dia em que temos que pagar. Para variar, agora vamos ter que trabalhar mais do que consumimos.

Isso não é necessariamente grave. Tudo depende do que abdicarmos para reduzir as despesas que temos.

Até porque, se para um país pequeno como Portugal falar de políticas keynesianas para estimular a economia é ridículo porque grande parte do investimento segue para mãos estrangeiras, felizmente o mesmo se aplica ao eventual impacte negativo de consumirmos menos, que em grande parte não terá efeitos na nossa economia.

Abaixo procuro apontar algumas coisas de que não será particularmente grave, para o nosso bem-estar e liberdade, abdicarmos:

  • Automóveis de luxo
  • Andar de automóvel, quando exista alternativa
  • Perfumes
  • Roupa de marca (que se distinga mais pela marca que pela utilidade)
  • Comida “gourmet”
  • Pacotes de canais de televisão
  • Idas a jogos de futebol, merchandizing futebolístico
  • Playstation
  • Serviços de beleza
  • Barcos
  • Férias de luxo
  • Euromilhões
  • Prendas materiais
  • Mais brinquedos para as crianças
  • Metros-quadrados de casa

Estes objectos de consumo não correspondem em geral a algo que traga mais bem-estar a uma sociedade, porque são supérfluos e porque a satisfação que deles se retira depende do “termo de comparação” relativo ao que os "outros" têm. Se o nível do termo de comparação baixar, como baixará, a satisfação geral das pessoas não sofrerá qualquer dano.

No entanto, uma boa parte dos portugueses poderá vir a ter que abdicar de outro tipo de coisas, essas sim com prejuízos graves para o seu bem-estar e a liberdade. Por exemplo:

  • Alimentação básica
  • Medicamentos, saúde
  • Educação
  • Creche
  • Tempo para a família
  • Limpezas de casa
  • Assistência a idosos
  • Cultura

Seria importante que o esforço que será pedido não penalizasse consumos destes últimos tipos, por motivos óbvios. Se conseguirmos, teremos caminhado, apenas, para uma sociedade mais assertiva na forma como procura a sua felicidade.

Nesse sentido, fazem bastante sentido as críticas ao último PEC4, no qual os cortes eram aplicados igualmente aos mais e menos desfavorecidos. Com a entrada do FMI, a nossa capacidade de influenciar as políticas de redução da despesa e aumento da receita do Estado tenderá a diminuir, embora o nosso futuro Governo o possa tentar influenciar. Tenho esperança de que seja possível fazer uma convergência inteligente.

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