Nas últimas semanas anteriores à queda do governo de José Sócrates e da oficialização do pedido de ajuda ao Fundo Monetário Internacional e à União Europeia, tanto a classe política como a sociedade civil parecem ter finalmente percebido a caótica e desesperada situação financeira do país. Como tal, muitos portugueses deixaram de olhar para estas instuituições como o fantasma da austeridade e da perda de soberania, encarando-as hoje como a única saída de emergência possível.
As pessoas agarram-se àquilo que lhes dá esperança e esperança na classe política é algo que hoje praticamente não existe. A troika europeia e do FMI, apesar de significarem muitos sacrifícios nos próximos anos (e os portugueses sabem-no), é para muitos a única maneira tirar o país da beira do precipício.
Mas estarão os portugueses conscientes de que este pacote de ajuda é apenas parte da solução? Equilibrar as contas públicas até pode tirar o país da situação de “alta pressão” que temos vivido junto dos mercados financeiros nos últimos tempos, mas não criará empregos, não garantirá a competitividade e o crescimento ecónomico de que tanto necessitamos. O FMI não chega! É preciso mudar mentalidades e os modelos até então seguidos.
Repensar o endividamento e financiamento externo: é urgente que se perceba que o endividamento externo deve ser gerido de forma responsável e rigorosa. O exterior não é uma fonte inesgotável de financiamento: é necessário que aprendamos a fazer boas escolhas e a ter apenas aquilo que podemos pagar. O mesmo se aplica às famílias portuguesas que terão de se habituar a viver com aquilo que podem ter (e não com o que querem).
Disciplina orçamental: mais do que necessária, é-nos exigida. Tal significa um maior esforço para controlar a despesa, procurando fazer com menos, o que temos feito até agora (ou até mais). Estou certo de que há muito por onde cortar, sem grande prejuízo para o país.
Poupança: sensibilizar as pessoas para a importância da poupança é também fulcral. Um dado curioso é que mais de metade dos portugueses não sabe o que é a poupança e desconhece as suas possíveis aplicações.
Apostar na competitividade: liberalizando o mercado de trabalho, aplicando medidas que tornem a nossa justiça mais célere, apostando no nosso capital humano, melhorando o nosso ensino profissional, implementando boas políticas de incentivos para que quem tem ideias e vontade de empreender o faça.
Mais do que estas linhas gerais, são necessárias medidas concretas capazes de concretizar a reforma estrutural de que tanto precisamos. Estas medidas devem surgir não só por iniciativa do futuro governo, mas fruto de um debate abrangente entre todos os sectores da sociedade portuguesa.
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