sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

«Não temos alternativa: somos europeus quer queiramos quer não»

No debate para o qual já chamámos a atenção neste blogue, Miguel Poiares Maduro teve a seguinte intervenção, com me parece extremamente relevante e com a qual tendo a concordar:

«Peço desculpa por só agora intervir mas regressei dos Estados Unidos e ainda estou a recuperar do jet lag e a por a minha agenda em dia. E peço desculpa, igualmente, por fazer uma leitura muito diferente da questão. Até agora, todos se centraram na questão da identidade embora definida de formas diferentes. Eu quero defender que sermos ou não europeus não é uma questão de identidade. Somos Europeus porque as nossas vidas estão hoje profundamente interligadas com os outros europeus (da UE). Por outras palavras, é a interdependência que determina a pertença a uma comunidade política. Uma organização política resulta sobretudo da necessidade de gerir conflitos e cooperar na resolução de interesses comuns (veja-se – e o Miguel sabe melhor isto que eu seguramente – a forma como o Hobbes relaciona o aparecimento de comunidades políticas com conflitos resultantes da proximidade territorial). Ao contrário da visão predominante, uma comunidade política resulta mais da necessidade de regular o pluralismo e diversidade num contexto de interdependência do que de uma suposta identidade pré-existente. Tradicionalmente, a necessidade de organização política resultou da proximidade territorial porque era isso que determinava a interdependência (inicialmente uma cidade). Hoje em dia a interdependência é cada vez mais independente do território. Os fluxos económicos, migratórios, culturais e sociais dentro do espaço europeu é o que nos faz europeus. Neste sentido, a Europa já é uma comunidade política. Isto, independentemente da existência de um demos. A existência de um demos pode ajudar a suportar a construção dos mecanismos de auto-governo necessários a um exercício legítimo do poder nessa comunidade política. Mas isso não deve ser confundido com a existência de uma comunidade política. A forma como estamos hoje todos suspensos do que se está a passar em Bruxelas é a prova de que somos europeus. Quer queiramos quer não... Outra questão é e legitimidade do poder dentro desta comunidade. Começar a responder a esta questão fica para outra vez... »

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