domingo, 22 de janeiro de 2012

A Tradição pela Tradição

Há quem goste de invocar o facto de algo ser uma «tradição» como argumento. Nunca considerei este tipo de argumentação muito persuasivo. Principalmente quando acompanhado, como sistematicamente acontece, com uma noção estereotipada do «povo», com base numa série de preconceitos sobre a «nação portuguesa».

Este tipo de argumentação tende a apoiar políticas de homogeneização e de manutenção do «status quo», ou a tentar legitimar que se deve subsidiar qualquer coisa. É o tipo de argumentação utilizado por quem não quer mudar nada, por quem considera que não devemos olhar para fora da nossa matriz tradicional quando queremos actuar.

Ou seja, se quisermos mudar alguma coisa em Portugal, devemos ignorar os países com os quais não temos afinidades (que curiosamente podem até variar ligeiramente consoante a pessoa com quem se fala) e devemos focar-nos nas nossas tradições. Isto é a melhor forma de nunca se mudar nada, de ficar tudo na mesma, e é a marca de uma cultura fechada sobre si mesma e, portanto, a tender para a estagnação.

Temos de substituir argumentações com base na tradição pela tradição, que vêem da esquerda à direita, por uma cultura aberta a influências externas, por uma cultura em permanente diálogo com outras culturas e, principalmente, por uma cultura definida de baixo para cima, e não de cima para baixo. A cultura vive-se no dia a dia, não é definida pelo Estado ou por académicos. Encontra-se, portanto, em constante evolução.

Enquanto ignorarmos potenciais soluções para os nossos problemas por elas virem de fora da nossa matriz, tenderemos a manter esses mesmos problemas, senão mesmo a agravá-los. A mudança passa por sairmos das nossas tradições e estarmos abertos a coisas novas.

Essas coisas novas vão ser perfeitas? Não. Nada é perfeito. Tudo tem custos e benefícios. Mas ignorar potenciais soluções por não serem portuguesas o suficiente é querer condenar o país à estagnação.

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