"These are the sorts of questions we need to ask. Fail these tests and the presumption should be not to engage with organisations"
Depois de Angela Merkel, é a vez de David Cameron pôr o dedo na ferida: o multiculturalismo falhou.
A questão não está em dizer que a convivência de múltiplas culturas, o pluralismo cultural, tenha falhado. A questão está em dizer que:
a) a "cultura" não é um bem em si
b) ela deve submeter-se a princípios que estão acima dela, como sejam os direitos humanos
c) a relação entre o Estado e as religiões tem de ser repensada.
O discurso dominante ainda é o de tapar o sol com a peneira e dizer que o mal não está nas religiões, mas nas pessoas. Está errado. Se uma ideia (como o nazismo, o comunismo, o cristianismo ou o islamismo) sistematicamente conduz a situações catastróficas, então o mal não pode estar apenas nas pessoas. O próprio sistema de ideias em causa é inevitavelmente mau.
Mas não precisamos de ir tão longe. Podemos fingir que o cristianismo e o islamismo são compatíveis com a democracia e os direitos humanos. Porque o que conta é a posição entre o Estado e as "culturas". Deve o Estado apoiar e financiar ideologias ou culturas particulares? Se sim, com que critérios?
A minha resposta, claramente, é não. Mas vou fazer ainda outra concessão. Aceitemos que o Estado financie, por exemplo, crenças religiosas. Deve fazer-lo indiscriminadamente? Deve dar o mesmo a todas? Deve ter em conta a antiguidade de cada uma no território nacional? Deve ter em conta o número de aderentes? Deve dar sem nada pedir em troca?
Resposta à primeira pergunta: não conheço ninguém que o defenda. A segunda pergunta reflecte aquilo que, por exemplo, está inscrito na lei portuguesa, o que, sendo um mecanismo de defesa contra cultos e seitas, não deixa de ser injusto para com as escolhas religiosas dos indivíduos. A terceira é a mais plausível, mas aferir o número de aderentes de determinado culto é difícil. Talvez a única forma seja pelos censos - o que coloca a questão de saber para onde iria a fatia do dinheiro dos ateus e agnósticos. Na Bélgica, existe o que se chama "laicidade organizada", gozando do mesmo estatuto das religiões tradicionais.
A quarta pergunta vai ao cerne do problema. Quem paga por algo, paga em troca de alguma coisa. Faz sentido um Estado democrático e liberal financiar igrejas ou seitas extremistas que pretendem acabar com esse mesmo Estado? Por que motivo pode o dinheiro público ser entregue a imãs radicais e gente da Opus Dei, mas não a gangues de skinheads? Qual é, ao fim e ao cabo, a diferença fundamental entre alguém que prega e pratica o ódio em nome de uma ideologia nascida há dois mil ou há mil e quinhentos anos, e alguém que prega e pratica o ódio em nome de uma ideologia nascida há oitenta anos? Pode a antiguidade fazer da imbecilidade uma virtude?
A questão que Cameron coloca resolver-se-ia se o Estado deixasse de promover culturas, religiões ou estilos de vida. Um Estado verdadeiramente liberal solucionaria o problema garantindo as mais amplas liberdades individuais, direito de organização dos cidadãos em comunidades autofinanciadas e repressão de qualquer tentativa de coarctar as liberdades alheias em nome de ideologias.
Depois de Angela Merkel, é a vez de David Cameron pôr o dedo na ferida: o multiculturalismo falhou.
A questão não está em dizer que a convivência de múltiplas culturas, o pluralismo cultural, tenha falhado. A questão está em dizer que:
a) a "cultura" não é um bem em si
b) ela deve submeter-se a princípios que estão acima dela, como sejam os direitos humanos
c) a relação entre o Estado e as religiões tem de ser repensada.
O discurso dominante ainda é o de tapar o sol com a peneira e dizer que o mal não está nas religiões, mas nas pessoas. Está errado. Se uma ideia (como o nazismo, o comunismo, o cristianismo ou o islamismo) sistematicamente conduz a situações catastróficas, então o mal não pode estar apenas nas pessoas. O próprio sistema de ideias em causa é inevitavelmente mau.
Mas não precisamos de ir tão longe. Podemos fingir que o cristianismo e o islamismo são compatíveis com a democracia e os direitos humanos. Porque o que conta é a posição entre o Estado e as "culturas". Deve o Estado apoiar e financiar ideologias ou culturas particulares? Se sim, com que critérios?
A minha resposta, claramente, é não. Mas vou fazer ainda outra concessão. Aceitemos que o Estado financie, por exemplo, crenças religiosas. Deve fazer-lo indiscriminadamente? Deve dar o mesmo a todas? Deve ter em conta a antiguidade de cada uma no território nacional? Deve ter em conta o número de aderentes? Deve dar sem nada pedir em troca?
Resposta à primeira pergunta: não conheço ninguém que o defenda. A segunda pergunta reflecte aquilo que, por exemplo, está inscrito na lei portuguesa, o que, sendo um mecanismo de defesa contra cultos e seitas, não deixa de ser injusto para com as escolhas religiosas dos indivíduos. A terceira é a mais plausível, mas aferir o número de aderentes de determinado culto é difícil. Talvez a única forma seja pelos censos - o que coloca a questão de saber para onde iria a fatia do dinheiro dos ateus e agnósticos. Na Bélgica, existe o que se chama "laicidade organizada", gozando do mesmo estatuto das religiões tradicionais.
A quarta pergunta vai ao cerne do problema. Quem paga por algo, paga em troca de alguma coisa. Faz sentido um Estado democrático e liberal financiar igrejas ou seitas extremistas que pretendem acabar com esse mesmo Estado? Por que motivo pode o dinheiro público ser entregue a imãs radicais e gente da Opus Dei, mas não a gangues de skinheads? Qual é, ao fim e ao cabo, a diferença fundamental entre alguém que prega e pratica o ódio em nome de uma ideologia nascida há dois mil ou há mil e quinhentos anos, e alguém que prega e pratica o ódio em nome de uma ideologia nascida há oitenta anos? Pode a antiguidade fazer da imbecilidade uma virtude?
A questão que Cameron coloca resolver-se-ia se o Estado deixasse de promover culturas, religiões ou estilos de vida. Um Estado verdadeiramente liberal solucionaria o problema garantindo as mais amplas liberdades individuais, direito de organização dos cidadãos em comunidades autofinanciadas e repressão de qualquer tentativa de coarctar as liberdades alheias em nome de ideologias.
Caro Igor
ResponderEliminarPessoalmente considero-me de uma fé, cristã, mas que não é predominante em Portugal, sou cristão evangélico.
Como tal perante as tuas afirmações devo declarar o seguinte:
1- Sou contra o financiamento de toda e qualquer religião (igreja, seita, etc.) por parte do Estado;
2- No entanto creio que, independentemente do número de membros, antiguidade, ou outros critérios, todas as organizações religiosas devem ser tratadas da mesma forma pelo Estado;
3- Acredito profundamente que ser liberal e não aceitar que deve existir liberdade religiosa é um contrasenso brutal;
4- Culpar o cristianismo como um todo pelo mal que algumas facções têm feito em nome do cristianismo é redutor, abusivo, intolerante e sobretudo é ligeireza, para não dizer ignorância;
5- As organizações religiosas em países como Portugal prestam importantes serviços às sociedade, nomeadamente através de ipss's que a estas estão ligadas; enquanto o Estado ajudar o financiamento de ipss's estas ligadas às religiões devem ser tratadas da mesma forma que as ipss's que não estejam ligadas a estas;
6- Equiparar o cristianismo a ideologias políticas significa então que se financiamos partidos financiamos religiões, ou então não financiamos nenhum;
7- No entanto quero voltar a reforçar que sou contra o financiamento de religiões e organizações com propósitos unicamente religiosos - como a opus dei - pelo Estado;
8- No entanto não tolero que se tente limitar a liberdade de religião, essa é uma liberdade básica.