De facto, "não somos dinamarqueses". Ou suecos. Ou britânicos. Ou americanos. Somos portugueses. Sermos portugueses não torna impossível fazer reformas de fundo à forma como funciona o país, e esperarmos por uma "mudança de mentalidade", como quer que seja possível medir isso, é adiarmos eternamente mudanças extremamente necessárias para o país. Até porque as mentalidades também são afectadas pelo sistema actual - se nada mudar, como é que se mudam as mentalidades?
O miserabilismo português é um enorme obstáculo à mudança. A descrença de que a mudança é sequer possível num país "como o nosso", inevitavelmente apelidado como "atrasado" ou "pobre" ou parecido, é um enorme obstáculo a essa mesma mudança, porque significa que mesmo pessoas que apoiam as novas políticas não vão necessariamente acreditar que é possível implementá-las. Logo, há menor motivação da parte daqueles que querem mudar, o que dá uma vantagem a quem quer que fique tudo na mesma. No final, tende a ficar tudo na mesma.
Para quebrar este ciclo vicioso, é preciso verdadeiramente implementar mudanças. É preciso coragem política para o fazer? É. Talvez não tanta como por vezes se pensa, mas é. No entanto, tem de ser feito, e o que tem de ser, tem muita força. Não podemos eternamente esperar por Godot ou por D. Sebastião (quer venha ou não). Temos de deixar de pensar que "somos portugueses" e por isso não dá para fazer nada por isto.
Os dinamarqueses nem sempre foram os dinamarqueses que são agora. Também "lá fora" foi preciso mudar, e houve mudanças. Os portugueses não são menos que os outros. É preciso deixar de pensar que somos, e simplesmente agir.
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