É permanentemente dito, por governo, oposição, comentadores, economistas, empresários, que é preciso termos crescimento económico. Mas afinal, porque é ele tão importante para nós?
O fim último da ciência da economia é o bem-estar das pessoas. É permitir que elas atinjam tenham as condições mínimas de vida, mas também que conseguem concretizar os seus sonhos e ambições. Mas afinal, em que medida é que produzir (e consumir) cada vez mais contribui para essa melhoria do bem-estar das pessoas? Estamos a crescer há séculos; podemos mesmo eternamente garantir mais bem-estar através de mais produção?
Um dos trade-offs mais importantes em economia é o trade-off entre a quantidade daquilo que produzimos (para podermos consumir mais) e a quantidade de tempo que temos disponível para tudo o resto – família, amigos, desporto, ler livros, pensar, etc. Os economista falam em “criação de riqueza”, mas... convém estabelecer de que tipo de riqueza estamos a falar: riqueza de produção/consumo? Mas, será esta mais importante que a riqueza de conhecer o Mundo ou de educar um filho? Em grande parte, elas estão em conflito. Até certa medida, o crescimento económico é inimigo da felicidade.
E como evoluiu essa felicidade com o crescimento económico? A partir dos anos 70 a questão começou a ser estudada e a conclusão foi a de que existe uma relação entre crescimento económico e felicidade... em sociedades pouco desenvolvidas. Ou seja, o crecimento é importante em locais onde as necessidades básicas das populações, como a alimentação ou a saúde, ainda não são garantidas. Em sociedades evoluídas, esta relação é, na verdade, inexistente! Crescer não nos torna de facto mais felizes. Uma questão de consumismo zero-sum? Em grande parte, sim. O economista Fred Hirsch demonimou o problema de “limites sociais ao crescimento”. Segundo ele, à medida que as sociedades crescem economicamente, isso deixa progressivamente de se traduzir em bem-estar, e o crescimento económico per si deixa de fazer sentido. O que é totalmente ineficiente, porque se desperdiçam recursos em troca de nada.
Existe ainda o problema do ambiente. Quanto mais produzimos e consumimos, mais prejudicamos o ambiente. E, como o produtor não sente directamente os danos que causa, produz mais do que devia. Também aqui, o crescimento económico é inimigo do nosso bem-estar.
Então, se estamos perante três factores tão determinantes para não crescer mais, em prol do bem-estar, porquê esta urgência tão grande em crescer?
Como Galbraith já identificava, esta urgência resulta da instabilidade social e económica que é gerada sempre que se deixa de crescer: desemprego, produtores insatisfeitos, ordenados mais baixos, revolta social, governos a caír, oposições a prometer crescimento, estímulos económicos. Períodos de não crescimento são o terror dos políticos e dos cidadãos, não tanto pelo que isso implica em termos de produção (menos 3% de produção equivale a menos 3% de consumo; quem numa sociedade desenvolvida não vive bem com menos 3% de consumo?), mas pelo que implica em termos de instabilidade e insegurança. Assim, somos uma sociedade "prisioneira" do crescimento económico. Outro factor, referia ele, é a própria geração de necessidades no consumidor pela indústria que se alimenta dessas próprias necessidades. Leia-se, os produtores tentam através do processo de marketing que os consumidores sintam a necessidade de adquirir os seus produtos, ajudados pelo ímpeto de competição social entre os próprios consumidores, e perpetuando assim o consumo (voltamos a ele) consumista.
Falar em crescimento económico continua a ser, na sabedoria convencional, a chave para o nosso bem-estar. No curto prazo, o crescimento económico será mesmo essencial para que Portugal não entre em colapso financeiro, económico e social. Por isso, é essencial que permaneça na nossa agenda.
Mas, se quisermos pensar além do curto prazo, saindo da caixa, é necessário começar a reflectir se crescer mais é mesmo o que quereremos para nós. E em que circunstâncias.
(Esta reflexão está a ser realizada em alguns países europeus. Tentarei falar dela em próximas oportunidades)
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