O resultado ontem foi o esperado, e José Sócrates demitiu-se.
Considero o resultado esperado porque desde que aquelas medidas (ou «princípios orientadores») não foram discutidos com ninguém, nem com o Presidente da República, com o Parlamento, e até mesmo, parece, com vários Ministros e membros do próprio Governo, e houve um simples telefonema ao PSD no dia anterior à noite, a credibilidade do Governo desceu até um nível inaceitavelmente baixo. O Governo esteve no Parlamento no dia anterior, e nada disse - chegámos a esse ponto. Foi isto que iniciou a crise política em que caímos. Foi esta forma de agir do Primeiro Ministro que levou inexoravelmente à sua demissão.
Claro que temos andado com a crise em lume brando desde 2009. Mas o ponto final foi este desrespeito institucional bastante grave. O Governo depois lá disse que as medidas não eram um novo PEC, mas sim «princípios orientadores». Depois disse que negociava os ditos. Depois disse que negociava tudo. O discurso alterava-se de dia para dia. Ao mesmo tempo, culpava a Oposição, dizia que a Oposição ia abrir uma crise política. Mas a crise, nessa altura, já estava aberta. A crise foi aberta com o anúncio daquilo a que o Governo chamou os seus «princípios orientadores» e o resto do país chamou o PEC IV.
O debate do PEC foi cansativo. Durou horas e horas. O Governo desprezou o debate. O Primeiro Ministro assistiu ao discurso do Ministro das Finanças, e depois foi-se embora. O Ministro das Finanças, depois do período de debate, por duas vezes ausentou-se da sala, sem explicações. Os discursos da Oposição foram os esperados, nada adiantaram de novo. O PSD não apresentou alternativas. No final, o resultado esperado. Depois, a demissão do Primeiro Ministro. E depois dessa demissão, o Primeiro Ministro demissionário culpou a Oposição pela sua queda. Foi essa a sua comunicação ao país, aliás alinhada com intervenções de Francisco Assis, Manuel Alegre, e do PS em geral.
A culpa é de todos. É do Governo pela forma como lidou com esta situação. É da Oposição pela forma como forçou uma votação sobre este tema ontem, votação essa entendida, claro, como uma moção de censura. O clima de crispação política em que temos vivido foi criado por todos os partidos, que passaram mais tempo a degladiar-se do que verdadeiramente a tentar encontrar consensos e soluções de longo prazo. Os eventos de ontem são apenas uma evolução natural de tudo o que começou com a eleição de 2009.
Ninguém fica bem na fotografia. Está na altura de surgirem alternativas.
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