quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eleições (Final) - Parte 3

O Bloco de Esquerda foi um dos grandes perdedores destas eleições, e a sua derrota, que é também a derrota da estratégia que o partido tem seguido, tem um rosto: Francisco Louçã. O Coordenador do BE assumiu as responsabilidades da derrota, mas delas não retirou grandes consequências, e ao falar mais parecia que a perda de metade da bancada parlamentar (inclusivamente do líder da bancada parlamentar) tinha sido uma vitória.

O BE viu a votação da CDU consolidar, e viu-a ganhar um deputado enquanto perdia metade da bancada. O BE tentou uma narrativa que falhou, a narrativa do «Governo de Esquerda», e à memória de bloquistas terão vindo a derrota de Manuel Alegre nas presidenciais, a moção de censura que foi apresentada atabalhoadamente e de forma a não passar, ou as conversações com a CDU que não deram em nada.

A narrativa falhou por não ser credível. Que «Governo de Esquerda» seria este? A aproximação à ala esquerda do PS através de Manuel Alegre falhou, e o próprio Manuel Alegre interveio nas eleições ao lado de José Sócrates, muito longe da retórica de «independente» da sua primeira candidatura presidencial. A aproximação à CDU falhou também, de forma bem visível, antes mesmo de começar a campanha. 

Diga-se que uma coligação do BE com o PCP e o PEV não seria necessariamente uma forma de atrair votos e do PS perder votos. O BE «colar-se-ia» ao PCP, perdendo a identidade própria, frágil, que tem procurado construir. Além de que teria sido uma clara inversão do caminho depois do apoio de BE e PS ao mesmo candidato durante as eleições presidenciais.

O BE tem de se definir. Tem de decidir o que quer ser. Um partido de protesto e de causas fracturantes não clama por um «Governo de Esquerda», e um partido que clame verdadeiramente por um «Governo de Esquerda» não se comporta ao mesmo tempo como um partido de protesto e de causas fracturantes. Não ir falar com a Troika, representando os seus apoiantes, foi um exemplo claro de desresponsabilização política que não é aceitável, na minha opinião, para um partido que se queira de Governo.

A narrativa do BE passou por uma tentativa de ser o BE a «ditar» as regras do jogo político à Esquerda. Ora, o BE não tem a representatividade junto da população portuguesa para fazer isto desta forma, como aliás as eleições demonstraram de forma clara. Clamar por um «Governo de Esquerda» teria sempre passado  por negociar com outros partidos sem ditar as regras do jogo. Esteve o BE verdadeiramente disponível para o fazer, e com isso conseguir o tal «Governo de Esquerda»? Não me pareceu.

O BE vai ter de debater internamente, de forma clara, aquilo que quer ser, se um partido de Governo, se um partido de protesto. E vai ter de agir em conformidade, depois de decidir.

Quanto a Francisco Louçã, não sei quais as condições que considera ter para se manter à frente do partido depois de uma derrota desta envergadura. Como os candidatos e não-candidatos à liderança do PS têm afirmado, isto é também uma questão pessoal e íntima. Mas as vozes discordantes com a acção do partido acabaram de ganhar um argumento de peso para retirar o Coordenador do seu posto. Resta saber se têm força suficiente para o fazer, dado que Francisco Louçã não se demitiu.

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