As desvalorizações «competitivas» servem para criar inflação e empobrecimento relativo, não desenvolvimento económico e competitividade. Servem para fingir que as pessoas recebem o mesmo quando na realidade recebem bem menos em termos reais, que é o que importa. Servem para baixar salários e desvalorizar poupanças sem que ninguém note, sem que nada verdadeiramente se altere na estrutura económica, e portanto sem resolver o problema de fundo.
Desvalorizar a moeda significaria baixar salários e aproximaria o valor dos salários ao nosso nível de produtividade, que é baixo. Mas o nosso objectivo não deve ser esse. O nosso objectivo deve ser aumentar o nosso nível de produtividade. E isso não se faz desvalorizando a moeda. Faz-se liberalizando a economia, inclusivamente melhorando o funcionamento do mercado de trabalho, para que as empresas tenham incentivos a tratar devidamente os colaboradores - caso contrário, estes saem para outra empresa, ou formam a sua própria empresa.
Também não se atrai investimento com desvalorizações deste tipo. Os investidores querem mitigar o risco. Este tipo de desvalorizações competitivas só dão sinais vermelhos na cabeça de um investidor, que começa a pensar que se investir em Portugal, só vai perder dinheiro no final. Não é por termos uma moeda própria que vamos fomentar o empreendedorismo e o investimento, vitais para restaurarmos a nossa competitividade, antes pelo contrário.
Nós vamos ser competitivos quando deixarmos de pensar no facto de termos salários baixos como uma vantagem comparativa, e passarmos a pensar em termos salários altos e em tratar o melhor possível as pessoas como uma vantagem comparativa. Não é por acaso que as pessoas emigram. Não é por acaso que há «brain drain». E só quando nós deixarmos de ter um país que diz a quem quer arriscar que o que essa pessoa quer fazer é muito arriscado é que começamos a resolver os nossos problemas.
As desvalorizações «competitivas» (e voltar a uma moeda própria seria isto mesmo) desvalorizam as poupanças das pessoas. Isto implicaria que muita gente retiraria o dinheiro do país quando esta medida fosse anunciada, e teriam todo o direito em fazê-lo, e faria todo o sentido fazê-lo da perspectiva dessas pessoas. Elas quereriam que a sua poupança tivesse valor e não que fosse desvalorizada por razões políticas.
Sair do Euro para voltar a entrar também não seria grande ideia. Dizer a um investidor que venha investir em Portugal porque acabámos de nos tornar «mais baratos», mas dizer-lhe que o objectivo é reentrar no Euro a prazo, é dar sinais contraditórios e, dada nossa falta de credibilidade, mesmo se conseguirmos resolver o nosso problema de finanças públicas, não seria muito atractivo. Ou então, o investimento duraria até voltarmos ao Euro, e não seria duradouro. Além disso, sair do Euro para voltar a entrar pressuporia que nos deixariam voltar a entrar, o que não se tornaria nada fácil depois de tudo o que teríamos feito até aí (incluindo a forma como teríamos saído).
Sair do Euro teria também consequências políticas, dentro da União Europeia em particular. Os esforços que estão a ser feitos com os resgates têm por base preservar o Euro (na minha opinião, o que nós precisamos mesmo é de uma federação, mas isso é tema para futuro artigo). Portugal pediu milhares de milhões de Euros e foi resgatado, comprometendo-se com um programa de reformas, e depois de tudo isto, sairia do Euro pelo seu próprio pé (mesmo dizendo que queria reentrar no futuro). Em que medida é que isto ajuda Portugal dentro da UE? Em nada, só prejudica.
Se saíssemos neste momento, isso significaria aumentar ainda mais a nossa dívida, porque a dívida passaria a estar em Euros e nós passaríamos a ter uma moeda que valeria bem menos. No caso de anunciarmos que pagaríamos a dívida na nossa nova moeda, isso não resolveria o problema, e até poderia ser o equivalente a não pagarmos a nossa dívida, o que causaria os seus próprios problemas.
Sair do Euro seria puro e simples proteccionismo. Não nos tornaria mais competitivos, antes pelo contrário. Seria um retorno à velha política dos baixos salários e do baixo poder de compra.
Sair do Euro não é uma visão de futuro. É uma visão de passado. E seria um grande problema, não uma solução.
Sair do Euro não é uma visão de futuro. É uma visão de passado. E seria um grande problema, não uma solução.
Concordo: desvalorizar a moeda não é estratégia de Longo Prazo. É um vício destrutivo.
ResponderEliminarSair agora do Euro também agravaria, como descreveste, as possibilidades de Portugal conseguir pagar a sua dívida.
Porém, ficar no Euro só porque há um projecto, essencialmente político, europeu, também não é solução. Aliás, foi esta cegueira política que no final do século passado considerou Portugal e outras economias periféricas aptas a entrar para a Zona Euro, partilhando uma só Política Monetária e Cambial. Deu no que deu.
Se é para continuar no Euro, então tem que se voltar a delinear uma estratégia económica (não política) clara, voltando a estudar os relatórios de Werner e de Delors, esquecidos desde 1999.
Os sectores primário e secundário foram enfraquecidos em Portugal e, possivelmente, noutros pontos da Europa também. É necessário, como dizes e bem, voltar a apostar na produtividade, na criação de valor acrescentado. A ideia de que a Europa pode continuar a produzir bens pelo seu baixo custo de fabrico é utópica, porque os BRIC e outros países ganham essa corrida com uma perna às costas.
Enfim, uma grande mudança económica é necessária. Sem isso, dar um passo em frente no Projecto Europeu é dar um passo para o abismo.
Cpts.
Concordo completamente,
ResponderEliminarSair do Euro não é dar um passo atrás para depois voltar a avançar. É simplesmente deitar a toalha ao chão e dizer "Desisto. Falhámos."
Em contexto
ResponderEliminarhttp://economia.publico.pt/noticia/crise-da-divida-forca-portugal-a-recordar-os-custos-da-saida-do-euro_1470574