sábado, 14 de abril de 2012

José António Saraiva contestário

Durante tempos de crise económica e financeira, José António Saraiva precisou de uma forma de atrair publicidade sobre si mesmo. E eu, penitenciando-me, lá vou dar um pouco mais de publicidade a um seu recente artigo de opinião no «Sol».

José António Saraiva partilha nesse seu artigo a sua enorme preocupação com a aceitação da homossexualidade na sociedade «pós-moderna» e com a forma como jovens usam a homossexualidade como forma de contestação, segundo a sua recente experiência num elevador. 

A dada altura, escreve isto:

«Ora a exposição da homossexualidade é hoje uma delas [sinal exterior de revolta, num erro de concordância do próprio artigo]. E a opção gay é uma forma de negação radical: porque rejeita a relação homem-mulher, ou seja, o acto que assegura a reprodução da espécie. Nas relações homossexuais há um niilismo assumido, uma ausência de utilidade, uma recusa do futuro. Impera a ideia de que tudo se consome numa geração – e que o amanhã não existe. De resto, o uso de roupas pretas, a fuga da cor, vão no mesmo sentido em direcção ao nada.»

Será que, segundo José António Saraiva, as pessoas inférteis são inúteis? Poder-me-ia responder que não o são por escolha (não tomam a «opção gay»), mas e depois? É que também elas não conseguem fazer expandir a espécie. O que fazer quanto a toda esta inutilidade junta?

E o que dizer então de quem não queira ter filhos e, seguidamente, não os tenha, de facto? Ou de todos os padres desta vida que levem a sério o celibato (tomaram a «opção padre», ou «opção priest», para usar terminologia próxima da de José António Saraiva), ou pelo menos usem protecção ou tenham sorte? Todas estas pessoas são inúteis, segundo José António Saraiva? Também aqui, o que fazer com toda esta inutilidade junta?

Isto para não entrar no facto da noção de que os casais homossexuais podem ter filhos - embora não através de uma relação sexual entre os dois, mas e depois? Imaginemos que um casal homossexual deseja ter filhos e outra pessoa torna isso possível - doando esperma, por exemplo. Desde que seja voluntário, o que é José António Saraiva tem a ver com isso? 

Mas claro - a noção de «família» é um conceito imutável e eterno, com milhares e milhares de anos de existência, e a forma como as sociedades se estruturam nunca deve ser alterada. Claro que o conceito de «família» se tem alterado ao longo dos tempos e as sociedades vão alterando a sua estrutura também, e nenhuma estrutura é mais «natural» que outra qualquer.

Segundo José António Saraiva, a liberdade de escolha esgota-se no momento de nós servirmos a espécie. Servimos para transmitir o nosso ADN - é essa a nossa utilidade neste mundo, é esta a forma de assegurar o futuro (da espécie, entenda-se). 

É um conceito de liberdade muito interessante. Uma liberdade que consiste em servir os ditames de José António Saraiva. Que acha que a homossexualidade e escolher vestir-se de preto são alegremente [acrescento: e metaforicamente] comparáveis. 

Confesso que vestir de preto me lembra mais este artigo de opinião de José António Saraiva. Em sinal de luto, naturalmente.

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