Numa carta
conjunta à presidência do conselho europeu, os ministros do
interior francês e alemão propuseram que os estados membros do
espaço Schengen pudessem fechar as suas fronteiras por um período
de trinta dias de modo a conter vagas de imigração caso um dos
outros estados membros falhe as suas obrigações no que diz respeito
ao controlo fronteiriço. O tratado prevê que só as fronteiras
externas do espaço sejam vigiadas, sendo que internamente os
cidadãos podem circular livremente. Até agora competia à Comissão
decidir se um estado poderia ou não fechar as suas fronteiras, como
sucedeu em Portugal durante o Euro 2004. Quando o ano passado a
Dinamarca decidiu incorporar controlos fronteiriços ouviu-se muito
barulho dos restantes estados membros mas nenhuma acção concreta,
como de costume. Desta vez temos os dois pesos-pesados europeus a
contemplar a ideia, mesmo que seja apenas vinda de dois ministros.
Nestes dias de atmosfera apocalíptica para o projecto europeu seria
de esperar que se começassem a ouvir vozes favoráveis à abolição
deste ou daquele pilar da UE e este concretamente é dos mais
importantes. Para mim pessoalmente é provavelmente o mais
importante. Mais até do que poder viajar sem trocar de moeda
(nalguns estados, pelo menos) é a possibilidade de poder viajar sem
passaportes e controlos fronteiriços e de não me ter que preocupar
com limites à minha estadia (este último não verdadeiramente dependente do tratado em questão). Como se voar hoje em dia não fosse já
suficientemente insuportável, mais um controlo não ajudará de
certo. Em breve quem sabe também já nem poderei abastecer o carro
em Espanha quando me encontrar perto da fronteira.
Essencialmente,
isto demonstra mais uma vez a necessidade de um controlo fronteiriço
verdadeiramente europeu, ou seja em vez de serem os estados
limítrofes e com fronteiras marítimas a exercer o controlo, mesmo
que sob regras comuns, seria desejável ver uma polícia fronteiriça
comum para que não fossem necessárias estes birras ocasionais
quando a França se mostra insatisfeita com as vagas de imigrantes
provenientes do norte de África que chegam à Itália. Para além
disso serviria para fortalecer muito mais a liberdade de circulação
já que dificultaria atitudes unilaterais como a da Dinamarca que tal
como esta recente carta, são apenas actos de cariz eleitoralista.
Obviamente que este tipo de propostas não são feitas, ou se o são
não se ouvem pois é naturalmente um terrível atentado à soberania
dos estados. Se estes já abdicaram de fronteiras dentro do espaço é
questionável o que mais teriam a perder com a medida. Um artigo do
semanário Spiegel acaba com a lamentação de que estas medidas nos
aproximarão da Grã-Bretanha, cujas obsessões com a fronteira são
aparentemente motivo de gozo por parte do continente. Se já nem da
Inglaterra podemos rir, a que estado teremos nós chegado...
Será apenas um pouco de vento, por causa da eleições francesas?
ResponderEliminarAbraço