Primeiro decidimos quais as características que queremos generalizar a um conjunto alargado de pessoas para criar uma «civilização». Depois anunciamos ao mundo que essas características que nós definimos estão em risco de ser destruídas por críticas internas e por ameaças externas. E no fim temos mais um anúncio do colapso da civilização ocidental.
O alarme contra críticas internas é um apelo ao conformismo. O alarme contra ameaças externas é um apelo ao medo, e portanto à obediência em busca de segurança. Portanto, de novo, é um apelo ao conformismo: aliás, pensar pela nossa própria cabeça parece ser uma constante ameaça à «civilização ocidental». Põe em causa as suas tradições e os seus valores.
A parte problemática é que, pensava eu com os meus botões, cada um poder pensar pela sua própria cabeça é um valor relevante a preservar. A liberdade de quem pensa pela sua cabeça se poder exprimir livremente também. E isto inclui críticas a todo o tipo de tradições possíveis e imaginárias, caso contrário estamos a subordinar a liberdade de expressão à necessidade de nos conformarmos à norma - e isto é a sua negação.
O pluralismo e a crítica constantes podem gerar sistemáticas crises de valores. Mas é precisamente esse pluralismo e essa crítica que estão na base de uma sociedade heterogénea e que portanto se torna bem mais capaz de se adaptar a choques externos e a lidar com questões internas. O pluralismo e a crítica são, também eles, algo a preservar e a defender dos constantes apelos ao conformismo e à homogeneização.
Não temos tempo e há tanto para fazer...
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