Vivemos em democracia.
As democracias são regimes que exigem muito de quem lá viva porque vivem em permanente tensão. Vivem da troca e do confronto de ideias díspares sobre a organização da sociedade. Estão constantemente sujeitas a desvarios populistas e à própria degeneração em ditaduras.
Nada é eterno. As democracias não são eternas. Não podemos dar a nossa por adquirida. Não podemos dar por adquirido que seja possível pela força do voto, e não das armas, trocar os Governos. Não podemos dar por adquirido que seja possível debater livremente, livrando-nos do pensamento único coercivamente imposto.
Há quem se auto-proclame representante do povo - quer à esquerda, quer à direita - e reclame novas revoluções. Acontece que vivendo nós numa democracia, não precisamos de novas revoluções para mudar as coisas. E há coisas que, de facto, precisam de ser mudadas. Muitas, até. E há diferenças de opinião sobre o rumo a seguir.
É dessas diferenças de opinião que vive a democracia. Disso, e da possibilidade de haver alterações políticas de modo pacífico. Há quem pense que as democracias apenas são democracias quando está no poder a facção com a qual se concorda. A partir do momento em que está o outro lado no poder, passamos a viver em ditadura.
Este tipo de tomada de posição mina a democracia pela base. E enquanto supostos defensores da democracia se entretêm a trocar acusações sobre o quão vis são as intenções da parte contrária, aqueles que querem de facto acabar com o pluralismo e com as liberdades conquistadas, instaurando novo regime autoritário, esfregam as mãos de contentes.
Enquanto os democratas se consomem uns aos outros, os extremos aproveitam. E quando os democratas começam a ceder aos extremos, adoptando as suas posturas e cavalgando nas suas batalhas, os extremos anti-democráticos vencem sem ter qualquer necessidade de sequer eleger alguém. Venceram a batalha principal: a batalha pelo centro político.
Defender a democracia é muito mais exigente do que se possa pensar. Exige ser capaz de aceitar que haja gente bem intencionada e que mesmo assim pretende aplicar políticas com as quais nada se concorda. Exige ser capaz de aceitar que terá legitimidade para o fazer. Exige ser capaz de lidar com estar em minoria no Parlamento e mesmo assim defender essa instituição de ataques populistas.
Defendamos a democracia. Defendamos o pluralismo.
A democracia não se defende a si própria. E se nos esquecermos de a defender, aí sim, ela cai.
Se rápidamente, o actual sistema político português não começa a fornecer às pessoas, Justiça e Esperança será dificil.
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