1. Jean-Claude Juncker defende reajustamento do programa português. O argumento é o de que um país que cumpra o programa de ajustamento deve ser recompensado por o cumprir. É importante o Governo português saber gerir esta questão como deve ser, sem as precipitações da última vez que o tema veio à baila. É evidente que seria bom para a nossa recuperação se recebêssemos condições mais simpáticas para nós (mas, já agora, ver aqui e aqui).
2. A Comissão eventual sobre a reforma do Estado que a maioria vem agora propor já devia ter sido lançada. Devia ter surgido logo no início da legislatura. Em boa verdade, devia ter surgido há anos, quando a reforma poderia ter sido feita sem estarmos numa crise, mas isso já teria sido pedir muito. Seria importante o PS deixar de brincar aos «slogans» e entrasse como deve ser num debate a sério sobre a reforma do Estado. Não vi ainda nenhum partido político defender o fim do Estado Social (em Portugal, só em blogues encontro gente a defender isto), embora tenha visto gente a defender outras prioridades ou outras formas de fazer as coisas. Mas isso não é destruir o Estado Social - é reformar o Estado Social.
3. Por muito que isso custe a algumas pessoas (como sempre, à Esquerda e à Direita), não vivemos no século XIX. Não vivemos também nos anos 50 do século XX, ou nos anos 70, ou nos anos 90. E, por muito que isso também custe, o mundo mudou, as condições de vida e expectativas das pessoas mudaram, a tecnologia mudou (e bastante), e a escala mudou - e agir como se não, repetindo «mantras» de tempos passados, não ajuda a resolver problemas.
4. Lançar um debate em torno de um relatório técnico do FMI não é um enorme insulto a quem quer que seja - muito menos à democracia; não é causa para pedir a demissão de um Governo apoiado por uma maioria parlamentar; não significa que o Governo vá seguir exactamente o que está nesse relatório no relatório que apresentar a final. As propostas do relatório não significam que o Memorando falhou ou esteja a falhar. Também não significam o fim do Estado Social (ver acima). E não faz sentido absolutamente nenhum vir agora pedir eleições antecipadas. Um relatório técnico é um contributo para um importante debate alargado sobre a reforma do Estado, nada mais, e o importante é lê-lo e debatê-lo de forma crítica e séria. E, de preferência, deviam surgir outros relatórios deste tipo, sobre este tipo de temas, para também serem parte do debate público sobre o tema.
só uma nota sobre o teu ponto 2: «Mas isso não é destruir o Estado Social - é reformar o Estado Social.»
ResponderEliminaré isto que está em causa nesta proposta da troika, apadrinhada pelos 3 partidos do arco do poder: destruir o actual estado social. o resto são efabulações de neo-liberais apostados em atirar muita areia para o ar.