terça-feira, 8 de janeiro de 2013

As xenofobias da moda

Ainda há muito xenófobo por aí, mas a xenofobia aberta é menos visível hoje em dia. Em geral, é uma atitude abertamente condenada, mesmo quando secretamente haja quem nelas reveja. Mas nem todas as formas de xenofobia são tratadas da mesma forma. Basta pensar no anti-germanismo e no anti-americanismo que por aí se vêem, assentes nos mesmos medos, preconceitos, invejas e complexos de inferioridade/de inferioridade de sempre.

Insultar «os americanos» e «os alemães» é moda por entre certa malta que, certamente, se considera extremamente inteligente, culta e educada - bem mais do que «os alemães» e de que «os americanos», cuja lista de pecados e falhas colectivas daria, segundo essa douta visão, para escrever vários livros - e também encher colunas de opinião, conversas de rádio e artigos em blogues. Tudo isto tingido com o mesmo veneno vazio de conteúdo.

Os alemães seriam todos, e sem excepção, rígidos, frios e mal educados, sendo os americanos todos burros, ignorantes e desprezíveis. Do alto de um imaginário pedestal onde majestaticamente se colocam, os xenófobos julgam centenas de milhões de pessoas com base em preconceitos e em complexos próprios. Desprezam o indivíduo, desprezam a diversidade, desprezam tudo menos aquilo que convém às suas ideias pré-concebidas. E quando alguma coisa corre mal, toca a usá-la como exemplo de que se está certo.

É chique e está na moda ser contra a Alemanha, tal como já há anos é chique e é moda ser contra os EUA. Do outro lado, claro está, encontra-se o clube de fãs da Alemanha e dos EUA, que apenas vê virtudes na sua actuação. E ainda do outro lado estão as xenofobias mais socialmente aceites nos EUA e na Alemanha, alimentadas pelo mesmo tipo de medo, ignorância, tablóides e políticos demagogos e populistas.

As xenofobias da moda, chiques e politicamente correctas são parte relevante da crise. Afastam-nos de soluções e afastam-nos da resolução dos problemas, focando a atenção em questiúnculas imaginárias que nos impedem de aproveitar todo o potencial da nossa cooperação. E diga-se desde já que estas xenofobias são propriedade da Esquerda e da Direita - ambos os extremos do espectro político têm bem representados os populistas demagogos que se dedicam a atiçar as chamas da xenofobia.

Os EUA e a Alemanha não são países perfeitos. Mas dizer isto é trivial, porque nenhum país é perfeito. Cair em generalizações preguiçosas para encontrar bodes expiatórios é uma enorme perda de tempo e distrai da resolução de problemas sociais, económicos, financeiros e políticos prementes. E isto aplica-se a todas as formas de xenofobia - quer cá, quer na Alemanha, quer noutro lugar qualquer.

Perder tempo a chamar nomes aos alemães, ou os alemães perderem tempo a chamar nomes aos gregos, não vai ajudar ninguém. Mas está na moda. É chique. E muito mais fácil do que resolver problemas.

5 comentários:

  1. Concordo. Uma coisa é estarmos contra uma determinada política ou em oposição a certos interesses: outra, absurda até porque ignora os debates internos que se travam nos países em questão, é a miserável atitude xenófoba. Mas atenção: há do mesmo modo uma xenofobia muito generalizada e difundida nos países do Norte contra o Sul da Europa!

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  2. Muito certo.
    Na questão da rejeição do acordo ortográfico, tanto em Portugal como (creio) no Brasil e em Angola, as razões principais, embora sempre ocultas e inconfessadas, são xenófobas. Em Portugal, a motivação principal é sempre a xenofobia anti-brasileira. Os brasileiros são tidos por incultos e atrasados, e pretende-se acima de tudo que a nossa (de Portugal) língua se distinga claramente da deles. As consoantes mudas são tidas como sinais de nobreza, de ligação da nossa língua a ilustres antepassados (latinos) ou a línguas cultas (inglês, ocasionalmente francês), em contraste com a língua dos brasileiros, plebeia e inculta. É isso que motiva, acima de tudo (embora quase sempre de forma inconfessada) a rejeição do acordo ortográfico.

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    1. Como se diz lá na terra, se tivesses tanta certeza no c*g*r nunca acertavas na retrete!

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    2. Isso é uma trivialização do debate contra o AO, se calhar um bocado em linha com o que este artigo do blog disse, mas infelizmente um trivialização ainda conservada por uma minoria.

      No geral do que vejo, a maior parte das pessoas que estão contra o AO não o estão por causa de xenofobias contra os brasileiros, mas mais por causa da convenção e habito de escrever português duma maneira, de algumas das regras estúpidas do acordo, como pontuação opcional (para vs pára) ou a incerteza quanto às consoantes mudas (em pt-PT continua-se a escrever Egipto). E se calhar principalmente por o AO ter sido feito completamente alheio ao debate público nem ter sido referendado, como se o Estado fosse proprietário da língua.

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