terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Martelar factos em debates, emigração e outros temas

1. Uma das piores coisas que se pode fazer num debate é martelar factos para encaixar uma determinada narrativa, quer alterando números ou dando factos errados deliberadamente, quer omitindo factos que não interessam à posição que se defende, quer retirando factos do seu contexto, quer comparando coisas que não sejam propriamente comparáveis naqueles termos, quer qualquer outra forma de fazer isto de que eu me esteja neste momento a esquecer. Martelar factos para encaixar uma determinada narrativa de forma deliberada é uma forma de fraude, e a utilização negligente de factos, desenquadrando-os ou apresentando-os de forma enviesada porque simplesmente não se fez o trabalho de casa, também é um problema. Retira legitimidade ao argumento e, portanto, enfraquece-o. Sendo que existindo Internet e comunicação social de massas, factos martelados são, mais tarde ou mais cedo, descobertos e denunciados.

2. Tempos houve em que para emigrar era preciso uma autorização. As pessoas estavam presas no país e não podiam sair sem que o Estado as deixasse. Felizmente, estes tempos são parte do passado, e neste momento é possível emigrar sem autorização. Essa liberdade existe e está garantida por lei. Mais: neste momento temos a União Europeia, com a sua liberdade de circulação de pessoas, além de termos melhores meios de transporte e de comunicações (para encontrar oportunidades, por exemplo).

A emigração é uma forma importante de resolver problemas: ajuda a diminuir o desemprego e a reduzir tensões sociais, por exemplo. Insultar os emigrantes, dizendo que estes «abandonaram o país» (não terá sido o país que os abandonou a eles/elas?), em nada resolve os nossos problemas, e é uma mera manifestação de desrespeito e desprezo por gente que está no seu pleno direito de exercer a sua liberdade como lhe aprouver, e o que está a fazer sem implicar com os direitos dos outros. Além de que substituir impedimentos legais à livre circulação de pessoas por ostracismos sociais soa-me demasiado à velha história das uvas que estavam verdes e que ninguém podia tragar.

Anunciar, em tom épico, que não se pretende emigrar, que se pretende ficar cá em Portugal, como se isto fosse algo de intrinsecamente grandioso ou heróico, não me impressiona particularmente. Também não me parece servir de muito ao país, nem me parece necessariamente mais «patriótico» que escolher emigrar - especialmente se for acompanhado de exigências de que tudo fique na mesma.

Os emigrantes enviam remessas de volta a Portugal e poderão voltar no futuro, com novas ideias para melhorar o país. O diálogo cultural que permitem, bem como a imagem que deixam por onde passam, têm impacto no nosso desenvolvimento e na capacidade que o Estado Português tem de agir internacionalmente. Podem também ser importantes para atrair investimento para Portugal.

Em suma, os emigrantes são pessoas que procuram melhores oportunidades lá fora, porque não as encontram cá dentro. O enfoque devia estar em fomentar que essas oportunidades se encontrem cá dentro, e não em anunciar que não se vai emigrar, ou que os emigrantes «desistiram do país».

3. Um artigo no Forte Apache sobre o pedido do Governo para Portugal ter mais tempo para pagar o empréstimo da «troika» que fala da diferença entre pedir mais tempo para pagar o empréstimo e pedir mais tempo e mais dinheiro para implementar o programa de ajustamento - sendo que o Governo se tem recusado a fazer a segunda, mas está agora a fazer a primeira. Claro que o facto de haver este artigo no Forte Apache e outras breves explicações sobre o tema não vai evitar que se diga trinta por uma linha sobre este tema, porque, como sempre, este Governo não sabe falar em público.

Mais importante e interessante seria se o Governo fosse criticado, e aí muito justamente criticado, em relação aos truques contabilísticos que está a tentar forçar no que toca à concessão do serviço público e à privatização da ANA (ver aqui, aqui e aqui). Estes malabarismos do Governo são um erro crasso, que tem tudo para lhe explodir na cara, prejudicando o país - completamente desnecessariamente - no processo. É um jogo perigoso com as nossas finanças públicas, em que o Governo não as está a consolidar tanto como diz, e depois vai ser forçado a «surpreender» a população, subitamente, com medidas adicionais.

4. Este Governo tem legitimidade para fazer cortes na despesa e reformas ao Estado - foram eleitos a prometer uma consolidação principalmente à base de cortes na despesa, e têm uma agenda reformista prevista no programa de Governo aprovado pela Assembleia da República. De qualquer forma, o relatório de uns técnicos do FMI é o relatório de uns técnicos do FMI - aquilo que é relevante é o relatório e o pacote de medidas que o próprio Governo apresentar. Apenas aí se vai saber o que pretende o Governo fazer em relação à reforma do Estado - e se começar a implementar essas medidas, apenas aí se vai ter a certeza de que o Governo estava a falar a sério.

A constante tentativa de dizer que este Governo não tem legitimidade começou logo após as eleições, e esta nova encarnação é tão convincente como as anteriores. E se o PS decidir continuar o seu jogo de rejeitar cortes estruturais na despesa pública, o Governo deve avançar com os referidos cortes, e tem legitimidade para tal. Seria apenas útil, razoável e sensato que houvesse um acordo mais alargado relativamente a este tema para lhe conferir maior certeza. Mas parece que isso é esperar muito do Governo e do principal partido da Oposição.

5. O BE continua igual a si mesmo, pretendendo dar lições de como ser de Esquerda ao PS e ao PCP. O facto de Francisco Louçã, José Manuel Pureza e João Semedo pretenderem criar uma corrente interna nova chamada «Socialismo» é interessante. Lembra-me o episódio da saída dos militantes que depois vieram a criar o MAS (e que querem uma frente eleitoral MAS-BE-PCP-PS - como primeiro passo para a união das esquerdas, decidiram sair do BE). Lembra-me como o BE é um partido tão bom e tão mau com qualquer outro, em termos de querelas e politiquices internas, apesar das suas veleidades em contrário (que já me pareceram mais pronunciadas).

6. Este Governo tem mandato para alterar o sistema eleitoral, mas ainda não se mexeu nesse sentido. Faz mal. O sistema eleitoral tem impacto na qualidade da democracia, e o nosso sistema eleitoral, excessivamente fechado e que confere demasiado poder às direcções partidárias, é parte do nosso problema, afastando as pessoas do regime democrático em que vivemos. Claro que esta questão seria provavelmente tratada pelo Ministro dos Assuntos Parlamentares. E o Ministro dos Assuntos Parlamentares está demasiado ocupado a não fazer uma verdadeira reforma do Poder Local e a não privatizar a RTP nos moldes que tinha sido prometido.

7. O Governo, além de não saber falar em público, com a sua má estratégia de comunicação a servir constantemente de empecilho, não parece funcionar como uma equipa coesa, e expõe demais o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças, o que é uma má ideia, desgastando constantemente figuras que não se podem desgastar mediaticamente da forma que o fazem. No sistema português, seria geralmente o Ministro dos Assuntos Parlamentares a tratar desta relação com a opinião pública, penso eu. Mas o Ministro dos Assuntos Parlamentares actual não tem a capacidade de cumprir essa função, e também não parece cumprir uma função de coordenação política do Governo. Aliás, uma pessoa pergunta-se quem é que verdadeiramente cumpre essa função de coordenação política do Governo, que não parece muito oleada (para usar um eufemismo), e que tão importante é para que este tenha uma actuação eficaz.

7 comentários:

  1. o go ver no não si espilica só con plica?

    bolas se fizesse ao estylo de sócrates inda ia criar 150 mil empregos por ano na alemanha?

    bué-no

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  2. Uma pérola o Secretário de Estado Paulo Júlio acusado de prevaricação enquanto autarca...
    http://www.publico.pt/politica/noticia/secretario-de-estado-paulo-julio-acusado-de-prevaricacao-pelo-diap-de-coimbra-1581628

    PS: Oh João, deviamos convidar o Kratos para participar no blogue!
    Eu ficava com uma concorrência fero para os textos estapafúrdios mas era bem recebida:)

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    1. Este Governo tem mandato para alterar o sistema eleitoral, mas ainda não se mexeu nesse sentido. Faz mal. O sistema eleitoral tem impacto na qualidade da democracia

      Mas alguém disse que o governo está interessado em melhorar a qualidade da democracia? Não está, e por que é que haveria de estar? Melhorar a qualidade da democracia em nada facilitaria a vida ao governo (bem pelo contrário), logo, ele não tem interesse em fazê-lo.

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    2. escreve-se uma feral con corrência23 de janeiro de 2013 às 18:42

      ou quanto muito uma feroz, já con corrência ferro rodrigues prefero não comentar e já tenho uns 400 b-loukos nã necessito mais nenhum

      Agora estapafúrdio é fazer cortes numa despesa que mesmo Sócrates nunca se atreveria a tocar
      Nas despesas em papel e impressoras e na arrecadação de processos burocráticos de biliões (na escala longa) milhões de milhões de páginas

      A liquidação do ministério do ultramar durou 2 anos e deitou fora 1600 toneladas de papel, biblioteca incluida

      A limpeza de qualquer dos grandes tribunais ou das câmaras envolve centos de toneladas de papel, processos que se amontoam e são esquecidos e ganham uma folhinha de quando em quando, ou dois maços extra

      Um processo para requalificação de uma via qualquer, de uma casa para ser feita em museuzinho ou criar uma placa na parede, aqui nasceu fulana de tal, chega a custar os olhos da cara para uns meros 15 quilos de papel

      Democracia à lavoura, onde se fazem reavaliações de imóveis com um voto do fisco e outro dos avaliadores nomeados pelo fisco, dá uma ideia de uma democracia em terços

      E nem são terços de infantaria ou cavvalaria como nos tempos dos flipes..

      Estapafúrdio é manter panelinhas que custam centos de milhões quando um milhão de portugueses vive de biscates a 1000 ou 1500 euros ao ano

      extinguir? nunca...

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    3. MARTELANDO PALAVRAS NAS FORJAS OU FORZAS DA RAÇÃO ...ar jumentos nã sã pilotos aviadores ou pilotas aviadoras...publiquei iste há meio minute e já tive um us of a a ler o titulum

      os b-logs ou b-loukos ou b-lokis são cousas transientes

      são modas senhor são modas...é como o facenaboca e outras bolhas da internet

      ou bolhas de dívida

      ou bolhas de argumentos aparentemente racionais

      mas que não estão apensas ao processo principal...ó gravilo's prinzip's

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  3. cortes estruturais são institutos, departamentos, secretariass,gabinetes, coronéis e carros de brigadeiros, são colégios militares e manutenções, são fluviários de pessoas...

    é deshumano

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  4. Martelar palavras em excesso prejudica o ar jumento...argus mento's

    2. Tempos houve em que para emigrar (legalmente e não ir fugindo pelos campos) era preciso uma autorização, chamava-se passaporte e custava os olhos da cara, era dado ao funcionalismo e a pessoas mais gradas e evitava-se dar ao operariado pois se tal acontecesse fugiriam para o Brasil como na 1ªrepública e na Monarquia ou para os Estados Unidos como os pescadores de bacalhau nos anos 20, 30,40,50 60,70.....
    As pessoas na sua maioria estavam presas no país pois não tinham money para sair dele e não podiam sair sem que o Estado dissesse que as deixava, mas apesar disso saia um cento de milheiro de sardinhas pequeninas como as mulheres do popularucho.

    Felizmente, estes tempos são parte do passado, e neste momento é possível emigrar sem autorização, assim o estado gasta 100 mil a formar pilotos aviadores e eles candidatam-se a um partido, entram para a reserva militar ou saem com indemnization commo nos tempos do Cavaco e vão voar Air Qatar .
    Essa liberdade de abandonar o barco e ir passar a reforma à Bahia como um certo magalhão ou uma fatinha felgueiras ou escapar-se para a gay paris existe e está garantida por lei. ...mesmo fugindo à justiça tem-se direito à pensão e aos privilégios do cargo...e isso é bom

    Mais: neste momento temos uma cousa paradoxal chamada a União Europeia, com a sua liberdade de circulação de pessoas, carteiristas e chulos incluidos com a sua carga de mulheres e putos e putas pequeninas para satisfazerem os prazeres das nomenklaturas ao estylo dos Belgas, além de termos melhores meios de transporte e de comunicações para fugir da merdaleja que dava escassos moios de trigo e escasssas reses tuberculosas (reses são vaccas de carvalho e outros animaes em varas ar mando, como cardumes de robalos essa gente pobre saiu da piolheira para encontrar oportunidades, por exemplo como patos bravos da construção civil, como compradores da sucata militar, como intermediários das apreensões do estado no jardim do tabaco ou noutra pauta alfandegária, enfim incharam e cresceram com a falta de eficiência de 600 ou 900 mil indivíduos que manobram a máquina burocrática e os dittos transportes do tal estado

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