Independentemente do que acontecer, o artigo Warren Buffet agitou as águas congeladas da discussão à volta da taxa de tributação dos mais ricos. Ao longo das últimas décadas muitos têm agitado a figura do “lobo mau” para enterrar esta discussão. Vivia-se (e muitos ainda vivem) com a premissa que tal tributação levaria a uma fuga de capitais que destruiria as nossas economias.
Não posso negar que uma tributação mais elevada (de parte do rendimento até agora isento) levaria a uma fuga dos capitais. A questão é: seria esse impacto tão profundo que o nosso mundo, as we know it, desapareceria? Não me parece. E se até há uns anos este tema teria encontrado elevadas barreiras, este é o contexto ideal para implementar a necessária reforma para acabar com esta injustiça.
Antes de mais, o que está em causa é o seguinte:
Ou seja, estamos a falar de passar a taxa de tributação para um nível (pelo menos) idêntico a quem recebe menos que os “super-ricos”. Não é por uma questão de ilegitimidade em se ser rico, mas sim por uma mera questão de justiça. Aliás é o mesmo motivo pelo qual o “imposto sobre os ricos” que se defende, também se impõe. Num momento em que se pede um sacrifício adicional a todos os portugueses, este deveria ser mesmo sobre TODOS os portugueses e não apenas uma parte da população. Uma vez mais, seriam os que tem maiores rendimentos que passariam ao lado deste sacrifício.
Eu sei que é difícil incorporar os argumentos do texto do Buffett, uma vez que o mesmo pertence à “matilha”. De repente, um lobo dizer para não ter medo do próprio, quando durante décadas muitos carpiam para ter medo, desorienta qualquer um. Mas acho que já é altura de deixarem de estar desorientados. Se é verdade que alguns capitais sairão, também é verdade que:
Só fico triste é que se esteja a perder esta oportunidade. O que se adivinha é a criação de mais um imposto que terá pouco impacto nos cofres públicos, para além dos danos colaterais que existirão.
No contexto europeu, a abordagem a esta temática não deveria ser local, mas sim a nível europeu. Aliás, eu iria um pouco mais longe e consideraria uma abordagem que incluísse os países ocidentais - e mesmo outros - e aproveitaria para abordar definitivamente a questão dos paraísos fiscais.
P.S. 1 – As declarações de Amorim são ridículas. Ele devia de ter o mínimo de vergonha e ter-se abstido de comentar. Triste sina a nossa quando a nossa “elite” é assim tão paupérrima.
Dizer que o Sr. Américo Amorim, representa a n/ élite de empresários, é o mesmo que dizer que Jerónimo de Sousa representa os «trabalhadores».
ResponderEliminarCuidado com as generalizações...
Não percebo muito bem o que este artigo defende.
ResponderEliminarAs taxas de IRS já são progressivas e incluiem rendimentos de capitais. Além disso, apenas 5% da população portuguesa é responsável por 60% das receitas de IRS - http://www.ionline.pt/conteudo/6811-irs-apenas-5-dos-contribuintes-pagam-60-do-imposto-cobrado-pelo-estado
Quem quiser pagar mais impostos, que enderece um cheque à ordem do Ministério das Finanças - e não tente impor a sua moral aos outros.
@Carlos Miguel Sousa: Tens toda a razão :) A ideia não era que ele representava a "elite". Mas é inegável que ele faz parte e que tem um enorme poder.
ResponderEliminar@John Blue: Parece-me que ainda vivo num país onde os rendimentos de capitais (p.e. juros e dividendos) são taxados a uma taxa liberatória. Estou errado?
Quando se fala num imposto sobre as grandes fortunas, sabe-se lá do que se está a falar. Não se sabe o que é uma "grande fortuna", ou o que são "ricos".
ResponderEliminarToda a gente já está a sentir os efeitos da crise. Achar que por haver uma crise financeira, isso justifica aumentar os impostos sobre os ricos, não tem tanto a ver com equidade, como tem a ver com fingir que se está a resolver um problema, quando o problema (a despesa excessiva) permanece.
Estás a falar de problemas diferentes. Os cortes nas despesas excessivas não deve servir de desculpa para que não se promova a melhoria do Estado noutras areas (aliás essa é a argumentação que muitos conservadores utilizam para afastar a discussão de liberdades individuais ;)).
ResponderEliminarQuanto à definição de "grandes fortunas" ou "super-ricos" ela não é difícil, embora para mim mais importante não é essa definição, mas eliminar a distorção que existe no nosso sistema fiscal de pessoas terem rendimentos mais elevados e taxas de tributação menores. É isso que está em causa. Na questão do "imposto extraordinário" o que está em causa é não isentar alguns rendimentos desse imposto.
E apesar de serem temas diferentes eles são conexos. Tu não consegues implementar um plano de corte de despesa (por melhor que ele seja) se não existir uma sensação de equidade e justiça. Aliás é um profundo erro se não abordar este tema corretamente pois poderá minar todos os esforços de contenção e corte de despesa...