Tentar subir nas sondagens passa por ter mensagens muito simples, repeti-las sistematicamente, e apresentá-las de forma a que um título seja suficiente para a mensagem ficar transmitida. Não é preciso haver um programa substantivo por trás para se conseguir isto. E ajuda quando o outro lado não sabe falar em público sem fazer asneira e não estar no Governo.
O PS, sem programa ou grandes ideias, lá vai repetindo estafados "slogans" facilmente transformáveis em títulos de jornal, ninguém lhe exigindo ter ideias para subir mas sondagens. Entretanto, o Governo não é capaz de se explicar devidamente em público e está a aplicar medidas impopulares (do tipo das que o PS aplicaria caso estivesse no Governo). Mesmo com António José Seguro como líder, temos o PS à frente nas sondagens e o PSD em queda.
Seria útil que PS, PSD e CDS-PP se entendessem quanto à reforma do Estado e a cortes na despesa (do BE ou da CDU não se espera que o façam). Só que o PS parece preferir capitalizar na impopularidade do Governo, enquanto culpa o próprio Governo pela falta de acordo (no que é ajudado por gente que interpreta tudo o que o Governo faz como automaticamente negativo ou de má fé). O Governo, por sua vez, parece ter dificuldade em não se remoer a si próprio, com o CDS-PP a tentar estar fora e dentro ao mesmo tempo, e não parece também grandemente interessado em obter consensos com o PS - nem capaz de encostar o PS à parede e levá-lo a negociar.
O resultado é o conjunto de trivialidades que todos conhecemos, as ideias avulsas lançadas para o ar, a especulação jornalística sensacionalista, e de vez em quando histerias colectivas acerca de casos mediáticos em torno de nada. Há trocas de acusações sobre pessoas sempre a pairar sobre todos os políticos. Importa não discutir ideias mas sim categorizá-las. E esperar que essas ideias encaixem na narrativa e naquilo que o jornalista que vai escrever sobre o tema quer ouvir - e, principalmente, do que o editor quer ouvir ou acha que os seus leitores querem ler. Isso vai determinar o título da notícia. E muita gente não vai além do título.
O resultado é vermos o PS simplesmente a repetir que adora o Estado Social e que está preparado para ser Governo, sem grande medo de ver estas ideias grandemente questionadas. Mas por pobre que seja o PS na praça pública, é quase confrangedor ver o Governo a tentar passar uma mensagem - tornado mais difícil pelo facto de ser agora moda, como já foi com o Governo anterior, ser antagónico em relação ao Governo, e estar também na moda interpretar tudo o que é feito como tendo subjacentes segundas intenções. Depois, todos os partidos beneficiam da incapacidade da nossa comunicação social de os confrontar de forma razoável com problemas com aquilo que dizem, dada a falta de preparação técnica que parece sistematicamente existir.
Tudo se resume a mensagens simples transformadas em títulos de jornal e sempre repetidas. Se se souber fazer a coisa, não é preciso investir muito em marketing, basta isto. Isto e dizer às pessoas o que elas querem ouvir sem ter que fazer o que se diz ou explicar como se faria. Assim se consegue ouro sobre azul. E assim, conjuntamente com outros factores, não se criam os incentivos certos para que as Oposições se preparem para ser Governo, ou para que haja cooperação quando esta seria útil.
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